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“Na Mealhada somos mais felizes”


tags: Mealhada, Bairrada Categorias: Região quarta, 04 setembro 2019

Kauê Martins tem 29 anos e é casado com Bianca Camargo, de 25. Catharina, de quatro anos, e Valentim, de um, são os filhos do casal brasileiro que, no final de maio, se mudou para Portugal. Mealhada foi a cidade escolhida para viver com mais “tranquilidade”, “segurança” e “qualidade de vida”. “Aqui é outra realidade, a gente está adorando”, diz Kauê, entrevistado num dia de sol, no Parque da Cidade da Mealhada. Os filhos e a esposa acompanharam-no: “para onde vai um, vão todos” e neste dia não foi exceção.

Na Praia Grande, em São Paulo, Kauê e Bianca tinham “uma vida estável”. Ele era mecânico e ela trabalhava numa seguradora, que pertencia à família. “Ganhávamos bem, tínhamos casa própria com vista para o mar mas não vivíamos em segurança. Foi a pensar nos nossos filhos que decidimos mudar”, explica a mãe.

A saída do Brasil foi estudada e programada com antecedência. “Escolhemos Portugal por causa da língua e também por influência de amigos que temos em Albufeira e em Lisboa”, conta Kauê, acrescentando que a Mealhada surgiu por mero “acaso”: “quando andávamos à procura de apartamento para alugar a bom preço no site OLX, fomos parar à Mealhada. Vimos que se tratava de uma cidade tranquila e com muito espaço verde e achámos que era boa opção”. Chegaram a Portugal a 27 de maio de 2019 mas, antes de seguirem para a Mealhada, fizeram questão de cumprir um “sonho” e uma “promessa”: ir ao Santuário de Fátima “agradecer a mudança” que estava a acontecer.

Já na Mealhada, começaram logo a procurar emprego. Kauê foi o primeiro a conseguir: trabalha na Oficina Auto Dynamics – “bem bacana”, elogia. Bianca é funcionária da Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, prestando apoio domiciliário a idosos – “trabalho que faço com muito gosto”. No Brasil, o vencimento que auferiam era “muito” superior ao que recebem em Portugal: “lá dava para enriquecer, mas não tínhamos qualidade de vida; aqui o salário é baixo mas permite-nos viver bem e ter tempo para as crianças”. Segundo Bianca, “o dinheiro não é tudo”, “não precisamos de muitos bens materiais para sermos felizes” e a “liberdade e segurança” dos filhos não tem preço.

Catharina e Valentim já estão na “escolinha” e “gostam muito de lá andar”. A integração das crianças foi “fácil” – “os educadores ajudaram: foram muito atenciosos e acolhedores”. Bianca e Kauê já notam mudanças nos filhos: “estão mais soltos, brincam sem medo, sentem-se mais seguros. No Brasil, sem nos apercebermos, transmitíamos muito medo às crianças porque não havia segurança”.

“Os portugueses comem muito”

Valentim, que é bom garfo, não estranhou a comida portuguesa. Catharina já se habituou à sopa, prato que no Brasil só se come “no inverno ou quando uma pessoa está doente”. Em casa, as refeições são tipicamente brasileiras, porque a cozinha tradicional portuguesa ainda não conquistou os pais, que ficaram admirados com o facto de os portugueses comerem “muito” e com o baixo preço dos produtos alimentares, comparativamente com o Brasil.

Catharina já usa “expressões portuguesas”: “mamã em vez de mamãe, sítio em vez de lugar (no Brasil, sítio significa casa de campo), venha cá em vez de venha aqui, tu em vez de você, entre outras”. Os pais acham graça ao aportuguesamento da filha, que se tem desenvolvido no Jardim de Infância de Sant’Ana.

Kauê, Bianca, Catharina e Valentim – dizem os adultos da família – estão “perfeitamente integrados” na comunidade mealhadense: “somos nós que temos que nos adaptar a vocês e não vocês a nós”. A cidade, que nas primeiras semanas parecia “calma demais”, é agora “encantadora” e “maravilhosa”, destacando-se por ter “imensas atividades de lazer gratuitas”. “Deus fez tudo tão certo, do jeito que a gente sempre quis. Aqui sentimo-nos em casa e somos mais felizes”, conclui o casal, que está a aprender a conviver com a saudade.