Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

Rei dos Leitões com mais para mostrar além do leitão


tags: Mealhada Categorias: Região quarta, 18 setembro 2019

Quem conhece o Rei dos Leitões já conhece a fama que granjeou pelos prémios que recebeu, entre três garfos de ouro do Guia Boa Cama Boa Mesa do jornal expresso atribuídos por três anos consecutivos ao restaurante ou até pela sua garrafeira estimada em 300 mil euros. A história é antiga, data de 1947, e foi um conjunto de alterações em 2011 que lançaram o restaurante para a ribalta.

O Rei dos Leitões está localizado, desde 1947, na Avenida da Restauração da Mealhada. Quem procurar o restaurante não consegue ignorar a fachada amarela que distingue o espaço. Ao entrar, é possível ver um grande parque de estacionamento, à esquerda a Horta do Rei, num edifício de madeira a Adega do Rei e, finalmente, o edifício central – a casa do Rei dos Leitões.

Quando se fala em casa, é mesmo a casa do Rei dos Leitões. Quem conta a história é a proprietária e trabalhadora, Licínia Ferreira, de 52 anos. É dentro da Sala do Rei, um espaço que pode ser reservado para quem queira privacidade e que tem acesso à cozinha, que explica que tudo começou na quinta-feira de ascensão, em 1947.

O dia 15 de maio marca o nascimento do restaurante e tudo porque os tios de Licínia Ferreira – Arménio de Sá Camboa e Maria Olímpia Alves Ferreira – decidiram assar e vender um leitão que acabou por ser vendido num dia. Além da casa, que se mantém a mesma desde sempre, Licínia explica que continuam a usar o método de assamento com fornos aquecidos a lenha e só quatro ingredientes para o molho de leitão: “pimenta, que tem que ser de grande qualidade, alho, banha de porco e sal grosso”.

 Licínia tem, desde sempre, memórias dos tios e do restaurante, até porque explica “foram eles que me criaram”. Da tia recorda-se como ela “lavava as toalhas de mesa e os guardanapos à mão, porque na altura não havia máquinas de lavar”. A tia de Licínia acabava por fazer esse trabalho e depois pôr a roupa a secar para assegurar que tudo ficava limpo.

A proprietária afirma que a tia não se dedicava só às toalhas, até porque “ela matava leitões e assava se preciso”. Ainda enquanto o restaurante era da responsabilidade dos tios, o espaço foi aumentado por volta de 1975 e foi aproveitada a casa da avó de Licínia para se expandir a sala. O tio já ficou eternizado no nome do restaurante visto este ter a alcunha de Rei, nome que passou a fazer parte da identificação do espaço.

Também foi por volta do ano de 1975 que o restaurante passou para o pai de Licínia Ferreira, João Alves Ferreira, que trabalhava junto com a mãe de Licínia, Maria Manuel Fernandes. Quando o pai faleceu o restaurante mudou de proprietário e passou para a filha. A atual proprietária já trabalhava no restaurante desde 1984 quando teve que deixar a escola após a morte do irmão e acabou por assumir a responsabilidade do espaço em 1989. Desde essa altura, Licínia manteve o espaço em funcionamento e o Rei acabou por ver reconhecida a sua monarquia a nível nacional com mudanças implementadas a partir de 2011.

"É importante a equipa estar em sintonia"

No início de 2010, por influência da crise nacional, “ou se parava ou se avança” e precisavam de ideias novas, bem como de uma mudança geral. A proprietária reconhece o mérito a António Paulo Rodrigues, de 45 anos, que se apresenta como diretor hoteleiro e que considera ser “um homem muito empreendedor, muito metódico e muito correto”.

António Rodrigues aponta que era preciso melhorar o espaço para os clientes, refere que “faltava cozinha, diversificação da ementa” até porque “há muita gente que não gosta de leitão” e é preciso satisfazer esses clientes. A inclusão de peixes frescos, marisco e inclusive peixe vivo foram adições importantes, mas também foi preciso mais rigor e disciplina.

É por esse motivo que todos os dias por volta das 11:30 é feito um briefing para indicar o que é pretendido e dar os parabéns pelo que correu bem no dia anterior e também para falar sobre o que é que correu mal e é preciso mudar. Trata-se de “uma formação diária”, como afirma Licínia Ferreira. António Rodrigues indica que esse período é muito importante para que “a equipa esteja em sintonia” e assim saibam o que têm para vender.

As obras no espaço arrancaram em 2011 com a mudança da cor da fachada de branco para amarelo e desde aí já construíram em 2017 uma sala do Rei e em janeiro deste ano a cozinha foi intervencionada.

Um dos aspetos mais atrativos do restaurante é a Adega do Rei que segundo António Rodrigues está avaliada em cerca de 300 mil euros. O diretor, que é responsável pela escolha do produto, indica “tenho uma certa afinidade por vinhos apesar de nunca ter bebido” e presume que tal possa ter sido influência da mãe ter trabalhado na Junta Nacional de Vinho, na Mealhada.

A olhar para o futuro, Licínia e António esperam um futuro bonito, com muito trabalho. A avaliar pelas novas apostas como a Lojinha do Rei que abriu na sexta-feira, 13, há mais caminho a percorrer. Licínia Ferreira afirma ter “uma equipa fantástica” e espera continuar a “ter bom produto, boa matéria-prima e bom serviço para o cliente”.

O que ambos afirmam ser uma das bases para o negócio florescer é a matéria-prima com que trabalham, o produto que utilizam, os ingredientes para confeção. Por isso só têm um fornecedor para leitão e recebem três vezes por semana peixe que, segundo Licínia, não é peixe de viveiro, para assegurar a qualidade. Quem quiser também pode comer as carnes espanholas maturadas, um prato que, como afirma a proprietária, “se as pessoas não comerem aqui têm que fazer 500 quilómetros para comer igual”.

Para Licínia Ferreira e António Rodrigues a necessidade de inovar foi fundamental e a aposta em qualidade, serviço e cuidado com o cliente faz com que alguns já tenham experimentado o “restaurante em crianças e agora tragam os filhos e até os netos.”