Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

“Não há dinheiro que compre a nossa fruta”


tags: Mealhada, TuCáTuLá Categorias: Região quinta, 19 setembro 2019

A ideia que se tem do emigrante português é de uma pessoa jovem entre os 15 e os 24 anos que vai à procura de melhores condições de vida. A história de Paula Alexandra Oliveira da Cunha Felgueiras não é essa, visto ter emigrado para Inglaterra há apenas três anos com 52 anos.

Paula Felgueiras mora há menos de um ano em Camberley, uma cidade que considera ter uma zona urbana tranquila. Em Portugal, foi dona da Papelaria Jardim durante 32 anos e nos últimos anos, antes de ir para Inglaterra fazia demonstrações de bimbys. Em Carbeley encontra-se agora a trabalhar na empresa Arcadia Cleaning Services Limited.  

Quem conhece Paula conhece uma pessoa energética, com vontade de comunicar e pode até reparar na sua voz radiofónica. “Eu cresci muito – este processo foi para mim muito positivo” afirma ao avaliar o tempo que já passou em Inglaterra.

Paula costuma fazer 4 viagens a Portugal por ano para visitar o pai, pela saudade que lhe tem, e admite que apenas o faz tantas vezes para passar tempo com ele. O que pretende mais tarde é visitar Portugal como turista e “aproveitar para conhecer o mundo”.

Paula Felgueiras explica que o pai já lhe tinha dito “vai-te embora deste país porque aqui não fazes nada”, devido a ter passado dez anos em África. A portuguesa confessa-se uma apaixonada pela Inglaterra, apesar de nunca ter visitado o país antes de ter decidido mudar para lá, apenas com fascínio “pelo que lia”.

Relativamente aos ingleses com quem lidou, Paula admite que “a ideia que eu tinha do britânico alterou-se: eu achava-os frios”. Essa mudança de opinião deve-se às histórias que já experienciou e uma das mais marcantes é recente e relaciona-se com um cartão de condolências pela morte da sua mãe que os colegas ingleses lhe escreveram em português.

Paula aponta o caráter prestável dos ingleses e aí recorda-se da história do polícia lhe pediu a carta de condução. “A primeira vez que fui abordada por um polícia (estava há 15 dias na Inglaterra), o senhor percebeu que eu não dominava inglês, compreendeu que estava super nervosa e mostrou-me que queria a carta de condução ao apontar para a sua carta de condução”.

“Não acredito que o Brexit vá avançar”

A portuguesa admite que ao mostrar o quanto gosta da Inglaterra pode “estar a ser injusta” com o seu país. No entanto, Paula admite que se sente desapontada com Portugal. Considera que “este país não dá oportunidades a quem é de cá”, que há muita corrupção na política e acaba por ser tudo “muito degradante”.

Como não fazia face às despesas e “não fazia face aos compromissos” sentiu que precisava de ir lá para fora e procurar novas oportunidades. Esta até foi uma hipótese “para começar a viver agora” e recomenda a experiência a todos os que procurem novas chances.

A portuguesa afirma que há uma parte de Portugal que sente sempre saudade e especialmente desde que foi para Inglaterra. A fruta portuguesa, segundo Paula, é muito boa, chegando até a não haver “dinheiro que compre a nossa fruta”. Sempre que volta para a Inglaterra o que leva é fruta, entre laranjas do Algarve, uvas, maçãs, etc., ou até chouriças e hambúrgueres, que diz que quando os ingleses provaram até “choraram”.  

Uma das políticas inglesas que poderá afetar os portugueses é o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia: jogo de palavras entre British – britânico – e Exit – saída) e Paula Felgueiras admite as suas inseguranças até porque considera que “eles estão todos muito arrependidos”.

O processo começou a 23 de junho de 2016 com a votação favorável pela saída do Reino Unido da União Europeia e ainda não foi decidido um plano para a saída do grupo de países que constituem o Reino Unido – Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e o País de Gales.

Enquanto o processo não avança, Paula Felgueiras não acredita “que o Brexit vá avançar”, e apesar de sentir receio, considera que “eles já sabem o meu percurso e não acredito que me vão mandar embora”, até porque afirma que a candidatura ao atestado de residência é fácil de se fazer.

Desde a Urbanização Quinta da Nora, na Mealhada, para Aldershot, cidade em que começou a morar quando foi para Inglaterra, e agora Camberley, Paula Felgueiras já desmontou a ideia que tinha dos britânicos e afirma que estes têm “muito respeito por nós [portugueses]”. A portuguesa reconhece que a experiência de emigração que tem não é a que todos conhecem e que até pode ser politicamente incorreta. No entanto, Paula explica “esta é a minha visão das coisas” e, fundamentalmente, esta é a sua história.