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A vontade de conhecer a Europa trouxe-a a Portugal


tags: Mealhada, TuCáTuLá Categorias: Região quinta, 19 setembro 2019

No ano de 2000 mais de 22 mil brasileiros imigraram para Portugal à procura de novas oportunidades e a empregada de balcão do Metinha 1, Francinete Maria Santos Oliveira, foi uma das pessoas que procurou essa chance junto com “um grupo de cinco pessoas”.

Francinete, que atualmente mora na Mealhada, recorda-se que quando chegou a Portugal ainda era o escudo a moeda em circulação e explica que “o euro para mim já foi mais simples de perceber, era mais parecido com o real”, o que facilitou essa integração.

A questão da moeda foi só uma das dificuldades com que Francinete lidou, até porque indica que ao início custou habituar-se ao povo. Só quando chegou a Portugal é que verificou “as diferenças entre Portugal e Brasil” e uma das características que mais a impressionou foi como os portugueses “falam certo a gramática” até porque “a gente lá [no Brasil] não consegue pregar a gramática, é tudo só teoria”. A brasileira, que já se naturalizou portuguesa, esclarece que “aqui fala-se correto”, no Brasil fala-se “suprimido”.

Francinete conta a história de que acabou por vir para Portugal através de um amigo. O patrão na altura queria uma equipa do Brasil e após conversar com um amigo, foi-lhe indicado um guia turístico da Fortaleza que se lembrou da empregada visto ela ter “vontade de conhecer a Europa”.

A brasileira faz contas à equipa que veio para Portugal em 2000 e indica que só ficou ela. Segundo o que explica, alguns acabaram por voltar para o Brasil ou foram para outras zonas do país.

“A minha mãe amou Portugal”

Uma das histórias que recorda foi como um dia se sentiu nervosa quando dois polícias da Guarda Nacional Republica (GNR) entraram no local onde estava a trabalhar, com medo que a fossem buscar por estar ilegal. Na altura em causa, segundo explicaram a Francinete, os processos de legalização estavam parados visto o presidente do Brasil, Lula da Silva, estar a preparar um acordo que previa a legalização de todos os brasileiros que entraram no país até à data de assinatura do protocolo – 11 de julho de 2003 – e que tivessem um contrato de trabalho válido.

Assim, quando os polícias apareceram, Francinete julgava já estar em apuros, mas estes só vinham à procura da chefe, e é com alívio e entre risos que conta a história até porque afirma: “sempre tive vontade da legalização e seria através do trabalho”.

Logo que o acordo entrou em funcionamento, Francinete começou a tratar do processo e para concluir a legalização precisava de se deslocar ao consulado português mais próximo que, neste caso, era Vigo, visto morar na Mealhada. Acabou por fazer a viagem de táxi, algo que se lembra de provocar alguma estranheza aos colegas que já estavam no consulado, mas, como explica, não tinha veículo pessoal e “já tinha um dinheiro preparado para as ocorrências, dinheiro que serviu neste caso”.

No tempo que já passou cá Francinete teve oportunidade de visitar “Fátima, Viseu, essas viagens para conhecer o país, até porque é pequeno” e espera poder visitar ainda mais.

Embora Francinete considere que “Portugal é fantástico” e que “a gente sente-se em casa” acaba por admitir que a pior parte é a separação. Numa ocasião conseguiu trazer a mãe a Portugal e também ela se sentiu apaixonada pelo país, chegando mesmo a afirmar que ficava cá se pudesse.

A brasileira sente que os portugueses são muito educados “especialmente no trânsito, são muito honestos, geralmente as pessoas esperam para pagar”, são, no fundo, “pessoas cumpridoras dos deveres”. Quando fala por exemplo da gastronomia já explica que levou algum tempo a adaptar-se e lembra-se da sopa portuguesa que afirma “é muito mais pesada, mais forte”, comparativamente com a sopa brasileira.

Francinete admite ainda poder voltar ao Brasil por causa da família, porque a distância continua sempre a ser um entrave. Só foi duas vezes até ao Brasil desde que se mudou para solo lusitano e a saudade dos familiares acaba por ter muita influência. “Se pudesse, trazia os meus familiares, mas são muitos e em vez de os trazer a todos é mais fácil ir para lá eu”.

Como indica, Portugal dá muitas oportunidades e até é difícil indicar “só uma coisa que gosta muito”, mas, tendo em conta que não criou família cá em Portugal e tem pessoas à espera no Brasil, pode acabar por levar as recordações na mala de viagem.