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1, 2, 3, 4… Sai mais um diagnóstico de Demência!


tags: Saúde Categorias: Opinião sexta, 27 setembro 2019

Vamos jogar ao jogo do “Imagina que”? Imagina que acordas de manhã e não reconheces o teu filho. Ou imagina que estás em frente ao espelho e não sabes quem é a pessoa que o reflexo te mostra. Se entraste na minha brincadeira percebeste que isto deve ser algo assustador. Duvido que não o tenhas sentido. Enquanto estiveste a refletir, vários diagnósticos foram realizados. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2012), bastam apenas 4 segundos para haver um novo diagnóstico.

A Dona Maria é nova nestas andanças. Vai esquecendo algumas coisas, perde-se no espaço, o tempo começa a passar ou (às vezes) a parar, o seu humor depende dos dias. Por outro lado, o senhor António está um pouquinho mais à frente na corrida: tem um filho que ama, mas há dias que não sabe que ele existe e não o reconhece. Gosta de falar, fala muito, mas o que diz não tem sentido para nós. Contudo, para ele é a sério e fala convicto. Fica agitado, confuso, começa a andar de um lado para o outro - às vezes lá tenta fugir (shiuu!, não é fugir, simplesmente tem assuntos a tratar que estão bem guardados na cabeça dele). Também gosta muito de fazer perguntas - melhor dizendo, repetir a mesma pergunta várias vezes - e nem sempre é fácil dar-lhe uma resposta que o convença. A D. Alice já não gosta de fazer nada sozinha, nem de ajudar nas tarefas... Também não fala (muitos professores estão, neste momento, a pensar que alguns dos seus alunos são parecidos com a minha Alice, não é?). A sua cara reflete o vazio em que vive, com a vida a passar-lhe ao lado e as memórias a perderem-se.

Consegui a tua atenção? Valoriza, todos os dias, quem tens a teu lado e, sobretudo, os teus que já viveram muitos anos e ainda sobrevivem à demência. Para além dos cuidados básicos, nunca te esqueças, por favor, de amar! A pessoa que conheceste continua lá, mesmo que não te acarinhe da mesma forma. Por isso, cria e constrói novas memórias. A verdade é que somos feitos delas e são elas que, de noite, nos apaziguam a alma.