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“Aqui é trabalho-casa e casa-trabalho”


tags: Pampilhosa, TuCáTuLá Categorias: Região quarta, 02 outubro 2019

O país estrangeiro com mais população residente nascida em Portugal é França, e Ricardo Miguel Simões Rodrigues é um dos 595900 portugueses que, em 2018, viviam no país francófono.

Desde 2000 que vive em França e, agora, com 36 anos, mora em Bezons, no departamento 95. Atualmente, encontra-se a trabalhar por conta própria como carpinteiro, e trabalha com alumínio, “madeira na fabricação de móveis sobre medida” e, soalhos, em geral, tudo no que toca à madeira.

Em Portugal, morava na Rua das Devesas, na Pampilhosa, e fez o seu percurso académico do quinto ao nono ano na Escola C+S da Pampilhosa, e depois desde o décimo ano formou-se na Escola Profissional Vasconcellos Lebre (EPVL) até ao décimo segundo, sendo que não deu continuidade aos estudos.

A emigração já era “um sonho que tinha desde pequeno”, e o português afirma que desde sempre teve curiosidade em conhecer a cultura e o país.

A cidade onde mora atualmente “tem vindo a sofrer várias transformações” e, segundo Ricardo Rodrigues, deve-se ao facto de a cidade estar às portas de Paris e, por isso, estarem a “tentar melhorar o acesso através de transportes públicos”, e de estarem a construir “novos edifícios” para a população na região, já que as habitações tornam-se “escassas”. Nos tempos livres, Ricardo gosta de “passear de mota”, descontrair e ver as paisagens, viajar na companhia de colegas que também gostam de andar de mota e fazer capoeira, bem como ir ao cinema.

Já tinha família em França, entre tios, padrinhos e primo, e até foi para o país com eles de carro. Como não dominava o francês teve que aprender a ler e a escrever por lá, mas também considera o clima “mais húmido e muito mais frio. As temperaturas chegam a baixar a 10 graus negativos e há neve”.

O português explica que o processo de adaptação ao novo país não foi muito complicado, mas recorda-se de uma história com os transportes públicos.

Sensivelmente um ano depois de ter chegado ao país francófono, foi-lhe pedido para ir para o trabalho, em Paris, de transporte público. Com a experiência que tinha de ir para a EPVL, de comboio, achava que “era só tirar o talão, entrar no comboio e depois no apeadeiro certo era só descer”. No entanto, acabou por descobrir “que, para além do comboio tinha de se usar o metro e trocar varias vezes de estação” no metro. Assim, em vez de chegar às 08 horas acabou por chegar ao trabalho às 12 horas, a tempo de almoçar.

Ao analisar a sociedade francesa e a multiculturalidade que a caracteriza, Ricardo sente que na região da capital “a sociedade passa a vida a correr atrás de algo que pensam que é importante e acabam por esquecer o que importa realmente, há muito stress, muita pressão”. Tudo isto acaba por levar a que haja pouca comunicação e a que “muitas das vezes os vizinhos de andar nem se conheçam”.

“Levava a Rádio da Pampilhosa”

O português sente que “já houve melhores condições” em França e que a emigração em

massa atual está a levar a uma degradação profissional, e os preços aumentam constantemente, “tanto a nível de impostos e taxas como a nível de combustíveis e mantimentos e os salários não têm tendência a acompanhar esse aumento da vida”.

Questionado sobre algo que diferencie os portugueses e os franceses, Ricardo Rodrigues indica que, “a nível culinário nós temos a tendência a comer a salada durante o almoço ou o jantar, eles aqui só a comem a salada no fim, tal como o queijo, que comem no fim como uma sobremesa”, mas o português indica que “as diferenças começam a ser mínimas”, visto a facilidade em viajar fazer com que as maneiras de viver se comecem a diversificar.

Ricardo sente saudades dos “amigos e familiares, o clima, as praias, o convívio das pessoas e, sobretudo, das festas que, em muitas zonas, se estão a perder”. Declara que gosta muito do aquecimento central na França quando é altura do inverno, porque “não há nada melhor do que chegar a casa completamente “congelado” e ter a casa quentinha”, afirma, entre risos.

O português tem dúvidas quando se trata de aconselhar outros portugueses a emigrarem para França, e explica que não se deve só pensar no que se vai ganhar, e é preciso considerar o que há a pagar e lembrar que “vão estar longe da família, que o clima é diferente, e que, aqui, a vida é mais que uma rotina que é casa-trabalho e trabalho-casa”. Em suma, recomenda todos a verem “os prós e contras de uma vida fora do país”, recomendando, até, a considerar outros países da Europa.

Se Ricardo pudesse levar algum espaço para a França afirma que levava a rádio da Pampilhosa, “onde ia todos os dias e noites, que me permitiram ter conhecimento de muita coisa, onde passei músicas fabulosas e conheci uma equipa incrível”. É com saudade que se lembra dos amigos e colegas, inclusive a “fábrica das cerâmicas da Pampilhosa, que tanto nos serviu para brincarmos dentro, como para fazer trabalhos de grupo para a escola”.