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D. Dinis, poeta e rei, homem do destino


tags: Alice Godinho Rodrigues Categorias: Opinião quarta, 16 outubro 2019

No dia 9 de outubro, comemoraram-se os 758 anos do seu nascimento. Nasceu no dia de S. Dionísio, num 9 de outubro que se atribui ao ano de 1261.

A hereditariedade que o fazia rei também o tornará poeta. Por intermédio de sua mãe, a Infanta D. Beatriz, conjugar-se-iam no espírito do jovem Dinis, tanto por via materna como por via paterna, duas gerações de trovadores.

O avô, Afonso, o Sábio, pontificava numa corte de poetas, onde acorriam, a par dos bardos de Castela e de Leão, trovadores, segréis e jograis da Galiza, de Aragão e da Aquitânia. A ele se deve o famoso Livro das Cantigas de Santa Maria, por outro lado, o avô paterno, D. Sancho I de Portugal, forte na Guerra e fogoso no amor, também cultivava as musas. Foi à formosa dama Maria Pais a quem dedicou uma das mais antigas poesias da língua portuguesa: mas o próprio pai, Afonso III, magnífico senhor da Corte de Bolonha, era também afeiçoado às artes de bem trocar.

Era destes sangues e tendências familiares que provinha aquele pequenino D. Dinis, que pela primeira vez vira a luz do dia no Paço de São Bartolomeu alcandorado na encosta do Castelo.

Pelos 12 ou 13 anos estreou -se na vida diplomática, perante a presença do avô Afonso o Sábio, procurou obter para Portugal a soberania absoluta dos Algarves, saída aos poucos das mãos dos príncipes mouriscos. Admirado com a ousadia do jovem neto, impôs-lhe por suas mãos as armas da Sagrada Ordem da Cavalaria. Estava então a Corte em Sevilha e ali, com grande pompa, o Infante de Portugal foi armado cavaleiro, submetendo -se às cerimónias da Investidura na Sagrada Ordem da Cavalaria. Estas terminaram com justas e torneios sob os olhares das formosas damas da corte. A poesia trovadoresca vivia por toda a parte de mãos dadas com a Cavalaria.

Não podemos deixar de referir as alianças pirenaicas e a política dos casamentos reais.

Num estio doirado de 1282, a Infanta D. Isabel de Aragão, entra em Portugal, seguida de um magnífico e pomposo séquito. Presidido pelo bispo de Valência, acompanhava-a uma luzida embaixada de barões e cavaleiros fidalgos a que não faltava o brilho intelectual e artístico dos trovadores.

Recebida na fronteira de Bragança pela flor da aristocracia portuguesa, atravessou as serranias de Trás-os-Montes, cortou as montanhas e vales do Douro e entrou pela província da Beira Alta. Em Trancoso, seu noivo esperava-a. Tremulavam ao longo dos adarves as bandeiras de Portugal e Aragão e o campo fora de portas era um arraial engalanado e festivo. Era o dia de São João dos Bem Casados, e os noivos recebiam na Igreja de S. Bartolomeu de Trancoso, as bênçãos sacramentais com as graças do Céu.

Foi Isabel de Aragão, a nossa Rainha Santa, dotada de inteligência, de carácter e bondade que sem dúvida concorreu para o esplendor do reinado de D. Dinis. Louvou-a numa Canção de Amor, dizendo: Érades boa para Rei.

A influência de el-rei D. Dinis, na língua literária portuguesa, não se limita porém às suas canções de amor e cantigas de amigo com algumas trovas de mal dizer. É ele quem dá o maior impulso ao desenvolvimento de uma prosa literária, ordenando que todos os documentos oficiais deixem de ser escritos em latim para o serem em português.

Em 1 de março de 1290, D. Dinis funda os primeiros Estudos Gerais que estabeleceu no bairro de Alfama para o ensino das Artes, Direito Romano, Direito Canónico e Medicina, aprovado pela Bula Papal de Nicolau IV, datada de 1290. Foi assim fundada a 1ª Universidade Portuguesa, transferida para Coimbra em 1308.

Muito mais temos a relatar sobre D. Dinis. Ouçamos o povo: - Dom Dinis fez tudo quanto quis.

Continua