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Em Moçambique sem esquecer a Mealhada


tags: TuCáTuLá Categorias: Região quinta, 17 outubro 2019

Maria Fernanda Motty, de 48 anos, ainda guarda boas recordações dos tempos em que viveu na Mealhada. Atualmente na sua Moçambique natal, Maria Fernanda esteve 18 anos em Portugal, sendo que os últimos três foram passados na terra bairradina.

“Era uma zona muito calma, um meio mais pequeno, onde fui muito feliz”, recorda. No tempo em que viveu na Mealhada, Maria Fernanda teve uma loja de decoração, chamada “Tesouro das Prendas”. Antes disso, foi gerente da Natura, no Alma Shopping em Coimbra. Natural da Beira, Maria Fernanda acabou por se ver obrigada a voltar para Moçambique. “A prestação aumentou e as burocracias para as aceder também se complicaram”, aponta. A concorrência agressiva, ainda para mais em tempo de crise, também não ajudaram e contribuíram para que Maria Fernanda tivesse de tomar opções. O regresso a Moçambique foi para assumir um negócio que também pertence à sua família.

 

Boas memórias

Os 18 anos passados em Portugal são guardados com carinho por Maria Fernanda. Nem tudo foi bom, como recorda, mas o positivo superou largamente os aspetos negativos. “Tive uma vez uma situação com a minha filha na escola, ela sentia-se posta de parte por uma professora porque ela não a deixava participar nas aulas. Mas após uma conversa a situação foi esclarecida”, lembra.

Mais tarde, na loja que geriu em Coimbra, uma cliente mostrou-se desagradada por ter de tratar de um assunto da loja com uma pessoa negra. “Pediu para falar com o patrão, mas ele disse que o assunto teria de ser tratado com a gerente”, destaca.

Maria Fernanda ainda vem regularmente a Portugal, país onde tem os três filhos. “Para eles voltar a Moçambique está fora de questão, pelo menos para já, enquanto ainda estiverem a estudar”, revela. Do país recorda ainda a qualidade da comida, aspeto muito diferente do que tem em Moçambique. “Lá para termos comida de qualidade temos de comprar de marca, e a situação complicou-se muito mais depois do furacão. Em Portugal é muito fácil encontrar comida de qualidade e não é preciso ser de marca”, afirma, entendendo que o português “tem todas as condições para ser feliz”. Como grandes diferenças, realça o tempo em Moçambique e o estado de espírito dos moçambicanos. “É um povo que tem mais apetência para a boa disposição e para a diversão. O facto de estar sempre bom tempo também ajuda, porque o frio em Portugal leva a que as pessoas andem mais tristes”, considera.

 

Gosto pelas “maravilhas”

Maria Fernanda e a família não esquecem a Mealhada e os bons momentos que lá viveram. O seu marido tinha uma época do ano que gostava muito. “Ele adorou o Carnaval”, revela Maria Fernanda. As dificuldades maiores vividas por Maria Fernanda acabaram por não ser tão acompanhadas pelo marido, que estava sempre a trabalhar por fora.

Quanto aos filhos do casal, ainda mantêm muitos amigos na Mealhada, para além de outro motivo de interesse: “os meus filhos adoram leitão”, brinca Maria Fernanda. O Carnaval também é uma altura do ano que os filhos da ex-imigrante gostam muito.

A moçambicana não se arrepende de ter sido imigrante durante 18 anos e aconselha todos os que tenham oportunidade para isso a fazerem-no. “Passei por muitas experiências que, de outra forma, não teria qualquer hipótese de passar”, entende.