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Património no concelho de Mealhada Observações. 16.


tags: Maria Alegria Marques Categorias: Opinião sexta, 29 novembro 2019

Após as considerações feitas, vai tempo, acerca do património industrial do concelho de Mealhada e terminada a nossa ronda pelo seu património religioso, é tempo de nos voltarmos para o património dito civil.

            Para um olhar mais arguto e atento, e partindo da publicação da Câmara Municipal - Inventário # 001. Património Cultural civil e religioso do concelho de Mealhada. Mealhada: Câmara Municipal de Mealhada, 2001, procurámos, junto dessa entidade, o que aí se encontra indicado a p. 008 e 403, e citamos: “Queríamos também deixar claro que não nos esquecemos de inventariar o Património Arquitectónico de Valor do Concelho com exemplos tão notáveis como o edifício da Câmara Municipal, o Cine Teatro Messias, o Grémio de Instrução e Recreio da Pampilhosa, a Casa Rural Quinhentista da Pampilhosa, o Casino do Luso e tantos outros. Julgamos apenas que por ser tão rico e tão vasto, este tipo de património é merecedor de um trabalho, uma publicação que o registe e perpetue de algum modo.” (p. 008) e “Optámos por não incluir os edifícios, públicos e privados, que já foram reconhecidos como de “Valor e Interesse Patrimonial do Concelho”, por estarmos convictos de que o seu valor justifica por si só uma publicação” (p. 403). Solicitámos a informação, por requerimento dirigido ao Presidente da Câmara. Foram necessários 3 requerimentos (!!!!), para obter resposta: ao primeiro, não existiu; ao segundo, replicação da nossa fonte de informação; ao terceiro, resposta lapidar: “não existe qualquer documento sobre a matéria versada no requerimento apresentado”. E, no entanto, existia. Há 18 anos…

            Se constam provas de um acentuado défice de literacia existente na Câmara Municipal de Mealhada, sobretudo no que ao domínio da língua portuguesa diz respeito, aqui se reproduz prova acabada disso mesmo…

            E perante isto, que se não for ignorância ou desconhecimento, só pode entender-se por desorganização ou incapacidade dos Serviços (e respectivas chefias e, em última análise, dos responsáveis pela Câmara Municipal, Presidente à cabeça), ou, muito pior, por má vontade, não insistimos, pois já nos ensina o povo, na sua sabedoria, que não vale a pena gastar cera com fraco defunto.

            Sigamos, então, por nós. No campo do património civil, o concelho de Mealhada é, genericamente, pobre, como o é em todo o património construído, excepção feita ao Buçaco, de que não tratamos, como já indicámos. Não há paços nem palacetes, não há casas nobres, não há fontes nem pontes notáveis. Mesmo em Vacariça, e pese, embora, ostentar uma coroa de visconde, a chamada casa do Visconde do Valdoeiro fica a meio caminho entre uma casa da burguesia rural, que o era, e um palacete de uma outra, rica e afirmada; arquitectonicamente, porém, não é exemplar de excepção. De alguma antiguidade, assinalam-se em Ventosa, duas casas seiscentistas. Mas não passam disso. Todas elas são casas que se tornam notadas não pelos seus aspectos arquitectónicos, mas porque se destacam no ambiente artístico pobre em que se inserem e porque imanam vetustez. O mesmo da chamada Casa Rural Quinhentista, em Pampilhosa: impõe-se pelas suas dimensões, conservação e raridade, de edifício funcional. Mas nada se diz do que foi um imponente edifício aldeão, a Casa Melo, que lhe fica em frente.

            No Luso, notam-se algumas casas de uma média burguesia, do século XIX e inícios do XX, e o edifício do Casino, com notas ou reminiscências estilísticas de “arte nova”, movimento artístico vigente por cerca de 1880 a 1920, caracterizado por traços longos, linhas exageradas e espiraladas, entrelaçados de folhagens e flores. Na Mealhada existe o mais significativo exemplar concelhio dessa corrente artística, o edifício que acolhe a Farmácia Brandão. Construído em 1911, destaca-se pela sua traça, cantarias e azulejos, nos quais se patenteia esse novo estilo. O século XX viu ainda obras de arquitectos renomados: Cassiano Branco (Grande Hotel das Termas) e Pardal Monteiro (Balneário das Termas).