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Vencer a crítica para viver o Natal


tags: Padre Rodolfo Leite Categorias: Opinião quarta, 11 dezembro 2019

Ia apressado e nem reparei nele. Já não nos víamos há uns anos. Foi sempre um homem de causas e dava a alma por elas, sobretudo nas instituições da sua terra. Quando lhe perguntava como conseguia fazer tantas coisas, respondia-me sempre:

 

- A minha família é muito boa! Além de me ajudarem, são compreensivos!

 

Entretanto, neste encontro, reparei que tinha um semblante abatido e um olhar triste. Procurei saber o que se tratava. Ele, com tom de voz a revelar mágoa, respondeu-me:

 

- Padre Rodolfo, nos últimos tempos fizeram-me a vida num inferno. Eram tantas as críticas e as pressões que fui obrigado a abandonar tudo. Custou-me muito, mas já não aguentava mais. Agora, infelizmente, está tudo parado…, morreu tudo!

 

Reparei que os seus olhos ficaram cheios de lágrimas e a voz começou a prender-se.

 

- As críticas destrutivas são o pior veneno da nossa sociedade. Põe tudo abaixo e acabam por destruir as pessoas. Não vamos longe com esta sociedade, onde todos dizem mal de tudo!

 

Concordei com ele e lá me foi contando em detalhe o que se tinha passado. Topei claramente que estava triste e ferido. Confortei-o como pude, sabendo que de pouco valia, pois nada iria mudar.

 

Mais tarde, recordei-me da nossa conversa. Todos já sentimos, pelo menos ligeiramente, uma tendência para criticar e julgar os outros. Em alguns momentos, a nossa disposição é mesmo negativa e encontramos logo um erro em alguma coisa ou em alguém. Pior! Nessas alturas, até sentimos dificuldade em ver algo bom porque o mal parece brilhar mais.

Com efeito, este sintoma significa que temos um espírito crítico que não reflete o que somos, nem a nossa relação com os outros e até com Deus. Afinal, o propósito de quem crítica negativamente não é mais do que ferir e destruir, manifestando essa atitude negativa de um coração que condena, devasta e destrói com palavras e atitudes. Diferente é a crítica construtiva que envolve opiniões e maneiras de ver, de pensar e de sentir e que têm o propósito edificar. Mas, há mais: a crítica destrutiva cria “pontos cegos” no coração e na mente da pessoa e que a faz acreditar que está a fazer bem.

Entretanto, convém compreender que a crítica maldosa tem vários protagonistas. Temos o mexeriqueiro que é alguém que revela segredos, difamando os outros e propagando “novidades”, que possui informações privilegiadas sobre as pessoas e revela-as com motivos duvidosos, sem o conhecimento e o consentimento sobre quem está a falar. Os mexeriqueiros procuram parecer importantes aos olhos dos seus ouvintes, aparentando ser fonte de todo o conhecimento! Temos também o caluniador que é alguém que dá testemunho falso sobre outra pessoa a fim de estragar a sua reputação. Ele não se importa com a verdade nem com consertar o erro. O caluniador cria o erro para infligir danos.

Temos ainda o juiz, a pessoa que julga de um ponto de vista excessivamente crítico, caracterizado pela tendência de condenar com dureza, não aceitando o ponto de vista dos outros porque acredita que o seu ponto de vista é o correto. Ela acredita que tem a capacidade de conhecer as motivações alheias. Possui uma incrível habilidade de apontar os erros dos outros e, ao mesmo tempo, minimizar os seus próprios erros. Por fim, temos o murmurador, que é alguém que sempre pensa coisas negativas sobre os outros e sobre as circunstâncias da vida. As suas características são o descontentamento e a ingratidão.

Por de trás destas pessoas que vivem criticando destrutivamente tudo e todos, há vários fatores que podem contribuir para que seja assim. Um deles é o “fator eu” que gera ciúmes ou invejas, vinganças, raiva, ódio e rancores, e quer destruir a outra pessoa a fim de obter uma recompensa pessoal. Depois, o “fator medo” que faz com que a pessoa se sinta ameaçada por alguém ou ansiosa em relação a alguma coisa, e produz nela um espírito crítico como forma de proteção pessoal. Há também o “fator controle” que provoca a perda de controle, e leva a uma terrível prática de manipular e envergonhar a outra pessoa com o propósito de retomar o domínio da situação.

Um espírito crítico negativo é o contrário do amar o nosso próximo como a nós mesmos, verdade evangélica e universal. Por outras palavras, é não ser capaz de se pôr no lugar do outro! Os relacionamentos entram em rutura e ficam feridos quando há mexericos, calúnias e julgamentos. Quando somos críticos negativamente em relação aos outros ou a alguma coisa, nós colocamo-nos numa posição autoritária e tirânica sobre tudo e todos. Como consequência, a pessoa que crítica maldosamente vai ficando isolada da comunhão com outros, chegando ao abismo da solidão ferida e revoltada, tornando-se cada vez mais autoritária e áspera.

Já agora, como seria diferente esta época natalícia se cada um procurasse vencer a crítica negativa que permanentemente enche as nossas conversas! Sim! Bastará que cada um faça um esforço! A tarefa é difícil, mas sabemos bem que para nos livrarmos de um coração crítico e malicioso, precisamos tão somente de nos revestir do amor, que é o contrário do ódio e da indiferença; precisamos de ser instrumentos de coragem que é o contrário de sermos destrutivos; e, porque não afirmá-lo, de agir com caridade, pondo fim ao egoísmo e à autossuficiência. Só tenho a certeza que se assim acontecer, viveremos o verdadeiro Natal!