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O CAMINHO DE FERRO EM PORTUGAL -Linha da Beira Alta- A estação da Pampilhosa (conclusão )


tags: Alice Godinho Rodrigues Categorias: Opinião quarta, 11 dezembro 2019

Em julho de 1895, o Sud-Express, comboio de luxo, com carruagens-cama e restaurante, circula na linha da Beira-Alta. Em 1906 passa a ser diário e muito utilizado pelos que pretendem contactos com o estrangeiro. Referimos as viagens régias que na altura eram instrumento de diplomacia europeia. D. Carlos, que percorrera várias vezes a Europa em viagens diplomáticas, utilizava este comboio nas suas deslocações através da Beira Alta, pernoitando no Challet Suiço da Pampilhosa. Temos notícia de uma dessas viagens até França, datada de 19 de janeiro de 1886. O seu quarto era o número 11, aquecido por uma salamandra semelhante à existente no salão nobre do Palace Hotel do Bussaco. O tecto em estoque, “à belle époque” , estava ligado a um salão cujas paredes eram revestidas de belas pinturas (ver o Conimbricense de 19/01/1886). Em 31 de julho de 1910, passou D. Manuel II em direção ao Luso para fazer termas. Nessa altura, na Pampilhosa, a Mealhada fez-se representar pelo Dr. Luís Navega, chefe do Partido Progressista e médico municipal.

De lamentar o estado degradado em que se encontra o Challet Suiço, digno representante do património nacional. O povo diz na sua sabedoria : “ nem só do pão vive o Homem…”

Não podemos deixar de referir o jardim da estação da Pampilhosa, que já não existe… Ao longo da linha do caminho de ferro, encontramos jardins em quase todas as estações. Fazem parte das nossas memórias históricas e culturais. Têm, de uma maneira geral, a sua origem em D. Fernando de Saxe Coburg, marido de D. Maria II. Ao longo da linha da Beira-Alta existiam em grande profusão, os jardins românticos. Encontramo-los presentemente nas estações de Carregal do Sal, Oliveirinha, Mangualde, Canas de Senhorim, Nelas e outras. Foi a estação da Pampilhosa que recebeu o 1º Prémio dos Jardins Ferroviários.

Não podemos esquecer, na Pampilhosa, os azulejos azuis e brancos, cercaduras barrocas, ao gosto de D. João V. Existentes na sala de estar, na cantina e restaurante, é-nos hoje quase impossível atribuir-lhe uma autoria, com rigor histórico, dado que desapareceram por vandalismo. Talvez tenham sido fruto da imaginação do italiano Leopold Ballistini, formado na Academia de Roma e Florença, contratado como Professor de Desenho e Pintura para a Escola Industrial de Avelar Brotero em Coimbra.

Leopold Ballistini dedicou-se muito à execução de trabalhos destinados à decoração das Estações de Caminho de Ferro.

Podemos também atribui-los ao fabrico moderno utilizado pela Fábrica das Devezas que, na Pampilhosa, utilizava prensas e moldes para a produção de azulejo de relevo.

Não podemos deixar de relembrar António Pereira Lopes “O Vapor“, que nessa altura, vindo do Porto, colaborou na montagem da maquinaria necessária. Foi considerado o primeiro artista de ferro forjado, existente na estação da Pampilhosa, um devotado obreiro da arquitetura metálica.

Esta estação, após a sua inauguração, foi sofrendo muitas alterações. Está na nossa memória o Bairro Ferroviário, habitação de operários, vindos sobretudo da Beira-Alta, que no verão honravam o seu padroeiro com um divertido arraial – São Pedro.

Não podemos esquecer o papel que o comboio teve na difusão de novas ideias na população Pampilhosense.

Surgem em diversos movimentos : comemorou -se o 1º de maio com demonstrações festivas nas Fábricas Cerâmica Excelsior e Almeida & Costa Lda.

Em 1911, a Cerâmica Excelsior pagou o ordenado aos operários que foram chamados para as fileiras militares; em 5 de outubro de 1912 a República foi condignamente festejada: as fábricas, o comércio, o caminho de ferro e as ruas engalanaram-se com bandeiras republicanas; em 28 de janeiro de 1914 formou -se a Comissão Política do Partido Afonsista, assim constituído: José Duarte de Figueiredo, Dr. Jaime Vilares, Ernesto Navarro, João Ferreira Baptista e Abel Godinho. Como suplentes: Dr. Manuel Pega, Padre José Cerveira de Almeida, José Iria, António Seabra e Manuel Antunes Breda. Pertenciam a este partido os empresários da Cerâmica Excelsior: Abel Godinho e Ernesto Navarro.

O Jornal “ A Madrugada”, fundado na Pampilhosa por Joaquim da Cruz, termina em 1912. Dá-nos a conhecer todas as vantagens que o Caminho de Ferro, em especial a Linha da Beira-Alta, teve na Pampilhosa. Merece uma leitura atenta.