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O presépio do Rodrigo…


tags: Padre Rodolfo Leite Categorias: Opinião sexta, 27 dezembro 2019

Vivem para lá de Coimbra e ainda não tinha lá ido, depois da morte da mãe. Sei que foi um duro golpe, para ela e para o filhote, no final do Verão. A falecida senhora era o alicerce da casa e de cada um deles. Sempre sofreu para si, pois para os outros irradiou constantemente amor. Mesmo quando a filha saiu de casa para ir viver com o «homem da sua vida», embora triste, nunca se revoltou, como que premeditando que um dia ela voltaria. E voltou, com o Rodrigo, o seu primeiro e único neto. Aquele homem tinha sido uma ilusão para a filha que, quando se descobre grávida, é abandonada. Ouvia-a, uma vez, dizer à filha:

 

- Não digas mal do pai, ao menino. Não sabes se um dia as coisas mudam. Ainda podem dar-se bem!

 

No ano passado, numa visita de passagem, recordo-me de vê-la numa cadeira rodas, com o menino sentado ao seu colo, a rezar o terço e a cantar os «versos» de Fátima que o rádio transmitia.

Até ao seu fim, nunca deixou de fazer o que podia pela filha e pelo neto. Aliás, sempre deu e fez tudo, pela filha e por aqueles que a ela acorriam.

Dizia frequentemente:

 

- O meu marido morreu-me quando a menina tinha 3 anos e desde essa altura tive sempre que lutar e fui conseguindo, com a ajuda de Deus.

 

Bati à porta e rapidamente fui atendido. Antes de me saudar, a mãe diz para dentro da casa:

 

- Rodrigo, olha quem está aqui!

 

Num instante, lá estava junto de mim o menino a abraçar-me com ternura e pureza.

 

- Espere aqui um bocadinho, ainda não pode entrar.

 

A mãe, sorrindo, disse-me:

 

- Está a fazer o presépio!

 

Logo a seguir, ouviu-se uma voz:

 

- Já pode entrar.

 

Lá vou eu, obedecendo aquela voz que me chamava. Quando entrei, deparei-me com o menino, sentado no chão, a dar os últimos retoques, nas imagens do seu presépio, no canto da pequena sala. Sentei-me com ele, mesmo que a mãe me tenha dito logo:

 

- Tem aqui uma cadeira. Têm algum jeito sentar-se no chão.

 

Respondi-lhe, sorrindo:

 

- O presépio só é belo quando nos baixamos para o ver!

 

Ela também sorriu. Entretanto, o Rodrigo lá me foi explicando tudo, ao detalhe. A certa altura, perguntei-lhe:

 

- Tens ali uma fotografia?!

 

Ele respondeu-me prontamente:

 

- É da minha avó. Então, ela, agora, está ao pé de Jesus!

 

Confesso que fiz um grande esforço para controlar a emoção, com a profundidade da resposta daquela criança com 5 anitos apenas. Depois, fiquei na dúvida se mo dizia por o ter ouvido, ou se era mesmo convicção sua.

Continuámos a conversar sobre o presépio e tantas outras coisas. Por fim, perguntei-lhe:

 

- Rodrigo, que vai pedir ao Menino Jesus?

 

Ele, resoluto, respondeu-me:

 

- Que cuide bem da minha avó.

 

Não aguentei e chorei!

Mais tarde, lembrei-me do que o Papa Francisco escreveu sobre o presépio: “Não é importante a forma como se arma o Presépio; pode ser sempre igual ou modificá-la cada ano. O que conta, é que fale à nossa vida. Por todo o lado e na forma que for, o Presépio narra o amor de Deus, o Deus que Se fez menino para nos dizer quão próximo está de cada ser humano, independentemente da condição em que este se encontre.

Este Natal, como o Rodrigo, porei a cada um junto de Jesus e também Lhe vou pedir que cuide bem de todos.

Boas Festas!

 

P. Rodolfo Santos Oliveira Leite