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In Memoriam: Visconde do Valdoeiro


tags: Alice Godinho Rodrigues Categorias: Opinião quarta, 22 janeiro 2020

Valdoeiro, pertencente ao concelho da Mealhada, freguesia da Vacariça, possui uma habitação construída por uma família bastante prestigiada, desconhecida pela maioria da população do nosso concelho.

São muitas as vivências existentes que procurámos investigar para dar a conhecer àqueles que pouco conhecem sobre os seus antepassados.

Nas investigações feitas deparámos com o primeiro Visconde do Valdoeiro: Bernardo Maria Toscano a quem fora concedido o título de Visconde por decreto de 22 de Março de 1892, atribuído pelo Rei D. Luís.

A família Toscano tinha a sua origem em Itália, na região da Toscana. Dizem os genealogistas que este apelido TOSCANO, chegou a Portugal no tempo de Afonso III, com um cavaleiro que se estabeleceu em Évora e daí se estendeu ao resto do território nacional.

O primeiro que encontrámos foi Rui Meneses Toscano, vassalo de D. João I. As armas que se atribuem a este apelido são em vermelho, com um leão em prata de língua azul. O brasão possui uma flor de lis em prata.

Aparece-nos com ligações a Portugal, Paulo Toscannelli, grande cosmógrafo, astrónomo, cartógrafo e médico italiano, nascido em Florença, capital da Toscana. Foi grande a sua influência na orientação dos descobrimentos portugueses, sobretudo no descobrimento da América por Cristóvão Colombo. As primeiras notícias das relações portuguesas com Toscannelli datam da viagem do Infante D. Pedro à Itália na primeira metade do século xv. Como hóspede de Cosme de Médicis, o infante conheceu Toscannelli na corte dos Médici, juntamente com outras figuras do tempo, algumas das quais eram portuguesas.

Foi nesses colóquios que D. Pedro tivera conhecimento da possibilidade de alcançar a Índia por via marítima.

Percorrendo os salões do Valdoeiro encontramos uma pintura que nos dá a imagem de Frei Sebastião Toscano, ermita da Ordem de Santo Agostinho e pregador de D. João III. Estudou em Salamanca, discípulo de Frei Tomás de Vila Nova, tendo sido exímio no estudo do grego e do latim. Foi ele quem pregou em Lisboa o célebre sermão da trasladação dos ossos de Afonso de Albuquerque da Índia para Portugal. Este sermão foi publicado em Lisboa em 1566. Lamentamos não ter conseguido saber o nome do autor do referido quadro.

Toscannelli, além de cientista tinha numa casa comercial em Pisa e possuía dois domínios agrícolas de grandes dimensões em Volterra ( Toscana ).

Os Toscanos do Valdoeiro seguiram-lhe o exemplo: eram extensos os seus domínios agrícolas no concelho da Mealhada – atualmente dão origem aos afamados vinhos Messias da Bairrada.

A partir de 15 de janeiro, passando pelo Valdoeiro encontramos Santo Amaro, o médico dos pés e pernas partidas, padroeiro da capela fundada pelos Viscondes do Valdoeiro.

Santo Amaro, nascera em Roma de família senatorial e fora entregue a S. Bento, passando a ser um monge beneditino. Encontramos no Mosteiro da Vacariça a presença dos beneditinos, o que talvez esteja na origem do culto de Santo Amaro pelas gentes do Valdoeiro e seus limites rurais. Além do culto religioso, temos aí presente também um culto economicista patente na feira que os habitantes do concelho utilizam para mostrar e vender os produtos que obtêm através dos seus trabalhos agrícolas.

Lançamos a hipótese de a capela ter na sua primitiva construção algo que lembre a arquitetura toscanina nos capitéis das colunas : com abóbodas, nervuras e laçarias ogivais ( ver: Ramalho Ortigão in As Farpas)

Apresentámos apenas um dos encantos bairradinos que vamos encontrando no concelho da Mealhada para não ficarem esquecidos…