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Bullying


tags: Mauro Tomaz Categorias: Opinião quarta, 05 fevereiro 2020

A necessidade de afirmação leva a criança ou o adolescente a procurar dominar os seus pares, e essa será a base principal do Bullying. Ser popular e sentir-se poderoso através do recurso à troça e à ameaça, física e psicológica. Os rapazes por norma recorrem à agressão directa, roubando ou atacando com empurrões, murros e pontapés, sendo que as raparigas agem de uma forma mais indirecta, humilhando verbalmente ou criando boatos, por exemplo, numa derivação ainda mais recente do fenómeno, que é o Cyberbullying, que está presente sobretudo nas actuais redes sociais como o Facebook, ou ainda nas mensagens escritas em aplicações como o Whatsapp, nos telemóveis. As estatísticas revelam que em Portugal uma em cada quatro crianças está envolvida directamente no fenómeno, na qualidade de vítima ou agressor. Os alvos mais fáceis são os mais apetecíveis, por serem mais vulneráveis e submissos, num jogo de poder fortemente influenciado por factores externos como problemas familiares, falta de dinheiro, drogas e álcool, e que ocorre sobretudo por factores de exclusão como o racismo, a obesidade, o uso de óculos ou quaisquer outras características particulares que de alguma maneira originem esses sentimentos de repulsa. Penso que as escolas e os seus recreios têm impreterivelmente que ser objecto de reflexão, como espaços determinantes que são para a formação dos adultos de amanhã, e que a meu ver têm vindo a deteriorar-se. Sempre houve crueldade nos espaços escolares, eu próprio me recordo de inúmeras situações na minha meninice, mas casos mais sérios devem provocar uma reavaliação de posturas e procedimentos, até porque me parece que se trata de um fenómeno cada vez mais crescente, e que causa uma angústia tremenda aos protagonistas, mas também aos seus progenitores. O que fazer?

 

Na minha opinião, a primeira medida deveria ser o reforço do número de auxiliares de acção educativa, e também do número de psicólogos, no espaço escolar. Propunha a criação de uma (ou mais) figura que zelasse pelos alunos no recreio, um vigilante que assegure alguma tranquilidade, que monitorize a interacção dos jovens, identificando dessa forma eventuais situações de risco. Creio que a realidade do rácio de adultos por crianças nestes espaços continua dramaticamente aquém do que seria desejável, uma limitação que existe por motivos economicistas, como é tradicional, e isso não pode continuar a acontecer. A equipa de psicólogos, as direcções das escolas, as associações de pais e os conselhos pedagógicos, todos terão que em conjunto se responsabilizar pelo acompanhamento destas situações, agindo prontamente e em conformidade, não alheando-se. Temos até bons exemplos em algumas escolas, de projectos estabelecidos em que alunos “finalistas”, os mais velhos, têm uma função integradora e protectora relativamente aos recém-chegados, promovendo junto destes uma melhor adaptação a uma nova realidade. Porque não generalizar? Havendo uma estrutura própria com todos estes intervenientes, seria possível actuar nestas situações específicas com a certeza que seriam colhidos frutos, pela acção preventiva e dissuasora. É um facto que a fatia dos recursos financeiros destinados à Educação não permite grandes extravagâncias, como é sabido, mas tenho a certeza que uma escola bem organizada e munida de uma equipa de diferentes profissionais com várias competências, como as que referi, seria melhor, mais harmoniosa e mais eficiente – um espaço onde se aprende mas também onde se promove uma convivência saudável.

 

É importante retirar ilações dos lamentáveis sucedidos que se vão verificando no nosso país, mês após mês, ano após ano. Impõe-se um olhar mais atento às crianças e aos jovens, não apenas no recreio mas em todos os espaços onde estas interajam e, principalmente, no espaço mais determinante da formação da personalidade do indivíduo, que é o lar. Sem esquecer os principais responsáveis por essa mesma formação, que são os progenitores. Precisamos de uma escola mais proactiva, sem dúvida alguma, mas precisamos também de pais mais comprometidos.

 

O Bullying é um problema de todos.