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Viagem pelos computadores dos anos 80 em Cantanhede


tags: Cantanhede Categorias: Região quarta, 14 outubro 2020

É um local marcante para quem viveu a década de 1980 e os primórdios dos computadores pessoais. O ZX Spectrum, computador marcante para muitos, tem o seu museu, que abre a 17 de outubro. É o único museu do género no Mundo e é aqui bem perto, no centro de Cantanhede.

A ideia partiu de João Diogo Ramos, um engenheiro informático de 42 anos, amante do ZX Spectrum, e colecionador de tudo o que está relacionado com a máquina. “É um ícone de uma geração”, aponta. Sem mais espaço onde colocar todo o material, organizou, com a ajuda da Câmara Municipal de Cantanhede, uma exposição temporária no Museu da Pedra. O sucesso foi tão grande que começou a pensar em fazer um museu. “Foi aí que me apercebi que não havia nenhum museu no Mundo sobre este tema”, destaca.

João Diogo Ramos falou com a Câmara Municipal de Cantanhede, que lhe disponibilizou um espaço. “Escolhi Cantanhede por duas questões: filantropia e comodismo. Quero ajudar a minha terra a ter uma atração e quero ter o equipamento perto de casa. Era fácil ir para o Porto ou para Lisboa e tinha investimento garantido, mas prefiro fazer alguma coisa pela minha cidade”, defende o colecionador.

 

Várias vertentes

O Museu ZX Spectrum é, no entender do seu responsável, “uma homenagem a todas as pessoas que fizeram a máquina”. A começar em Sir Clive Sinclair, o britânico que criou o ZX Spectrum, no início da década de 1980. “Temos uma parte dedicada ao Clive Sinclair e muitos materiais que a Sinclair criou, desde livros eletrónicos a amplificadores”, lembra João Diogo Ramos. Em vários computadores e ecrãs, são mostradas informações da época. Portugal também não é esquecido, uma vez que havia uma fábrica da Timex em Almada. “Temos aqui computadores argentinos que foram fabricados em Portugal”, revela João Ramos. E não há só ZX Spectrum argentinos. Também há espanhóis, polacos e até árabes.

Na mesma sala, uma secção dedicada à Amstrad, empresa a quem Clive Sinclair vendeu direitos do ZX Spectrum. Aqui estão os primeiros PC, como o PC 200, já lançado pela Amstrad.

 

“Túnel do tempo”

Um dos espaços mais curiosos do museu fica na segunda sala: uma recriação de uma sala de estar da década de 1980, em que nemo crucifixo ou o quadro do menino da lágrima faltam. No centro, um ecrã com imagens vindas de um jogo do ZX Spectrum. Mais à frente, na parede, capas de cassetes de jogos que se vendiam nas lojas de informática da década de 1980. “Havia muita pirataria dos jogos. As pessoas punham dois gravadores, gravavam para cassetes virgens e depois vendiam com estas capas”, lembra João Diogo.

 

Autarquia entusiasmada

A presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, Helena Teodósio, mostra-se satisfeita pela atitude de João Diogo Ramos em instalar o museu na sua cidade. “Vê-se a paixão que tem por este tema, da maneira como fala dele. É um museu diferenciador como outros que temos, integrado na atividade turística do município”, entende.

Para a autarca, o município quer ser inovador, e o Museu ZX Spectrum é mais uma peça para esse desejo. “Este espaço mostra as origens de muitas tecnologias que são fundamentais no dia-a-dia e faz um reconhecimento das pessoas que quiseram inovar, como foi o caso de Clive Sinclair”, aponta.

Apesar de não haver uma inauguração oficial, até pelos constrangimentos provocados pela pandemia da Covid-19, Helena Teodósio e João Diogo Ramos esperam muita gente nos primeiros dias, o que poderá levar a ter algum controlo das entradas. O facto de o museu ser único no Mundo já tem levado a “feedback” internacional. “Muita gente já me disse que quando acabar a pandemia vem cá ver. Tive ingleses a dizer que pensavam que este museu ia nascer em Inglaterra. Eu pensei o mesmo”, brinca João Diogo.

O Museu ZX Spectrum vai estar aberto de terça-feira a sábado, das 10 às 18 horas. Excecionalmente, estará aberto no domingo, 18 de outubro, por ser o primeiro fim-de-semana em que o espaço está aberto.