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Casal estrangeiro no Luso para “espalhar o amor”


tags: Mealhada, Luso Categorias: Região quinta, 05 novembro 2020

Zana é inglesa, Joki é sueco. Conheceram-se há quatro anos e meio e nunca mais se largaram. “Até nos aviões exigimos ficar um ao lado do outro”, brinca Joki. No início do ano, vieram para Portugal com o objetivo de vender a sua roupa e comida saudável nos festivais. A pandemia trocou-lhes as voltas, mas Zana e Joki não esmoreceram. Instalaram-se no Luso, colocaram a sua carrinha no centro, criaram a sua própria linha de roupa alusiva à localidade e têm vivido um dia de cada vez. O objetivo é comprarem um terreno, criarem a sua própria comunidade e poder receber visitantes. E já têm um espaço apalavrado, em Faro, para onde esperam ir nos próximos dias.

“O nosso objetivo é espalhar amor e luz, e mostrar que não é preciso ser-se milionário para isso. Os sonhos materiais não provêm da nossa alma, os maiores sonhos vêm do coração”, salienta Zana. O casal veio para Portugal depois de ter vivido na Noruega e na Suécia. Para além de trabalhar nos festivais, queriam ter mais sol. O Luso foi, segundo contam, por intuição. “Não conhecíamos nada do Luso. Estivemos a ver locais para ficar e soubemos de uma casa aqui que era barata, nem vimos fotografias nem nada, sentimos que era o local certo. E acertámos, porque temos sido muito bem tratados”, assegura Joki.

 

Fé nas pessoas

Zana e Joki têm a linha de roupa Hippy Spirit e, no tempo que estão no Luso, criaram também uma linha dedicada à região. O objetivo não é enriquecer, mas fazer dinheiro para viver. E, num ano em que mudaram de país e passaram por muitas dificuldades, as vendas cresceram. “É o universo a ajudar-nos”, destaca Zana. E ajuda é o que não tem faltado no Luso, o que leva o casal a afirmar que se apaixonou por Portugal. “Nos outros países onde vivemos, as mentes são muito fechadas e toda a gente nos julga. Acham que eu sou suja por ter esta aparência, mas não é verdade, eu tomo banho todos os dias, visto estas roupas porque quero. Em Portugal ninguém faz estes julgamentos”, aponta Zana.

Nos últimos tempos, as pessoas do Luso têm oferecido ao casal cestos de comida e de roupa, de forma voluntária, o que tem os tem emocionado. “Nós não pedimos nada e as pessoas fazem questão. São adoráveis”, revela Joki.

 

Aspetos positivos

Para trás ficou a “viagem terrível” que Zana e Joki fizeram da Suécia para Portugal, na sua carrinha. Era para demorar três dias, demorou oito. “A nossa vida tem tido momentos em que é um pesadelo, outros em que é um filme de comédia. A nossa viagem foi um pouco assim, em que apanhámos tempestades de neve, saímos da neve e apanhámos granizo, sem saber muito bem onde podíamos ficar e se a carrinha aguentava”, descreve Joki.

Ao chegar a Portugal, depararam-se com o evoluir da pandemia da Covid-19, uma fase onde o casal vê aspetos positivos, em especial a atitude das pessoas perante a vida. Segundo Zana, “a sociedade está a perceber que os governos não ajudam, impõem um sistema escravo onde as pessoas têm de trabalhar horas para cima de horas para poderem sustentar-se a si e aos filhos. As pessoas estão a acordar”. Para a inglesa, o sucesso da felicidade está dentro de cada um. “O problema é que as pessoas pensam muito no que as outras pessoas pensam delas, e querem ter aquele carro espetacular, então trabalham loucamente para isso, mas ao fim de um ou dois anos já querem ter outro e mal aproveitaram aquele. As pessoas têm de perceber que são especiais, cada ser humano tem o seu fascínio, e não estar a pensar no que os outros podem achar delas”, salienta. Joki completa o raciocínio da companheira: “a sociedade não deixa as pessoas serem felizes. O sistema em que vivemos tem milhares de anos, começou com a civilização egípcia. Há uma série de famílias poderosas e o resto das pessoas trabalha para elas e enriquece-as”.

 

Comunidade em Faro

Zana e Joki pretendem viver em Portugal. O objetivo de adquirir um terreno onde possam constituir a sua comunidade poderá estar prestes a ser alcançado, através de uma pessoa que os contactou. “Tem um espaço em Faro perto da praia. Estamos a juntar dinheiro para lá ir e podermos constituir a nossa comunidade”, conta Zana. O casal tem sido contactado por pessoas de várias partes do globo, que se têm mostrado interessadas em vir a Portugal e ajudá-los a criar este espaço.

A comunidade será para o casal viver, juntar mais pessoas e receber visitantes, através da plataforma Airbnb. “Queremos que as pessoas venham e experimentem o nosso mundo, fora da agitação das grandes cidades. Queremos que usem o nosso espaço para desligar um pouco da sociedade”, entende Joki.

Enquanto não partem para o Algarve, Zana e Joki vão aproveitando o Luso, local onde já toda a gente os conhece e os cumprimenta sempre que os vê. “As pessoas são muito amigáveis e sentem o nosso amor. Gostamos de dar amor a toda a gente, porque cada pessoa é especial”, completa Zana.