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Entrevista a António Jorge Franco | Presidente Câmara Municipal da Mealhada


tags: Mealhada, Mealhada, Entrevista, Mealhada Categorias: Entrevista terça, 07 dezembro 2021

Desde dia 26 de setembro, que foi eleito, e depois dia 18 de outubro, que tomou posse, que já não é só o munícipe António Jorge Franco, mas também o Presidente da Câmara Municipal da Mealhada. Como tem sido a adaptação? E qual o balanço?

São dois tempos diferentes. Um em que ganho as eleições e toda a gente me vê na rua e me chama Presidente, quando eu sou o presidente eleito mas sem poderes. Foram cerca de 25 dias de presidente eleito em que aproveitei esse tempo para organizar a minha vida pessoal e também para organizar a tomada de posse, constituir o executivo e tentar perceber algumas coisas que estavam a decorrer no concelho da Mealhada, ou seja, perceber a nível de decisões que teria que tomar.

Após isso foi passar a ter o poder, e quando digo poder é um poder muito limitado, porque eu estou aqui em representação de todos os munícipes do concelho da Mealhada. Qualquer decisão não depende apenas de mim. Depende da minha forma de estar, mas também daquilo que eu tento ouvir e sentir da população. Nós estamos aqui para fazer o que a população quer, dentro de alguns princípios e algumas regras, como é evidente. Portanto, foram estes os dias enquanto Presidente da Câmara. Dias muito longos, mas muito interessantes. Tentar conhecer dossiês, tentar conhecer as pessoas que trabalham connosco, tentar reorganizar algo que eu acho que não estará assim tão bem, não sou eu que estou a reorganizar, mas são os próprios funcionários que se estão a reorganizar, dentro de alguns parâmetros que eu dei, da forma como devem trabalhar. E claro, ouvir o exterior, ouvir o interior da Câmara e, acima de tudo, transmitir a todos a tranquilidade que eles precisam, que os funcionários da Câmara precisam, porque os funcionários também são representantes da população. E tem que passar por isso também, que é, eles têm que dar resposta às vontades da população, dentro das regras evidentemente. Tem sido esse o nosso trabalho e também entrar nesta estrutura, não vir impor nada, mas envolvê-los naquilo que nós pretendemos, na forma como nós pretendemos que isto seja gerido. Eu e a minha equipa de trabalho entrámos numa equipa que já cá estava a trabalhar e que nós tentamos ajustar e motivá-los para que saiam daqui com vontade de vir no dia a seguir.

Quais são as principais apostas para os próximos quatro anos?

Nós vamos apostar muito no ambiente, temos projetos que nós achamos que são estruturantes, que é o projeto de linhas de água, o projeto da floresta, o projeto de criarmos uma boa circulação dentro do concelho, e quando digo boa circulação é que o espaço público esteja mais digno e mais acessível a todos, mesmo aos que têm menos mobilidade.

Os nossos grandes eixos são o Ambiente, que a pessoa possa usar muito o espaço público, falo no Rio Certoma e nos seus afluentes em que nós temos de virar estas estruturas naturais para nós, e não estarmos de costas para eles, e podermos fazer uma limpeza destes espaços, circularmos ao lado deles e utilizarmos o melhor que eles nos podem dar.

As pessoas têm que sentir orgulho da sua aldeia, da sua vila e orgulho da sua cidade. É uma grande aposta que temos aqui e outras apostas como é evidente. Entre elas, recuperar o património que nós temos e dar-lhe alguma dignidade, vamos fazer uma Câmara nova que vem do executivo anterior, mas não podemos esquecer este edifício, que é algo nobre e tem de ser recuperado. Também o Tribunal, que é um outro edifício que eu acho que precisa de recuperação para que lhe possamos dar o valor que ele tem, portanto, é um projeto que tem que avançar. Temos outro grande projeto que estamos a começar a pensar o que é que vamos fazer, que é a Quinta dos Coutos, que é um património que está ali muito valioso e que tem que ser um património de toda a população. É um património que tem de ser aberto à população, mas algo ligado à cultura, ao ambiente, e que seja algo marcante para a cidade da Mealhada.

Uma das grandes apostas do anterior executivo foi a cultura. Vai continuar a ser um campo estratégico desta governação ou há outras áreas que considera mais prioritárias?

A cultura é fundamental para o nosso crescimento e para a nossa formação. E sim, vamos apostar muito na cultura. Na cultura poderemos alterar aqui algo muito focado à nossa maneira de pensar a cultura, como envolver as associações locais e criar um local mesmo da cultura. O Cineteatro tem de ser um espaço não só para apresentar a cultura de fora mas também a cultura de dentro. Mas que as pessoas possam utilizar aquele espaço para se formarem, a nível também de educação. Criar pequenas escolas ligadas ao teatro e a outras áreas. E queremos, e isto é um processo que não é tão repentino, terá de ser um processo mais lento, mas queremos que a cultura possa vir de todas as aldeias. E possamos criar nos mais jovens a vontade de participar na cultura de uma forma diferente, sejam eles os mais novos daqui a uns anos a darem os espetáculos. E para isso, como temos as Escolas do Desporto, podemos e devemos ter a Escola do Teatro, da Música, do Conhecimento ligado à cultura. Portanto queremos trabalhar essa área, como também queremos que todo o património cultural que existe no nosso concelho seja devidamente reconhecido, e seja feito um levantamento e criarmos espaços que possam preservar a nossa cultura. E quando digo a nossa cultura, é a cultura de todos os mealhadenses, todos do concelho da Mealhada. Muitas vezes temos peças que nos são deixadas de antepassados e não sabemos como havemos de guardar e proteger. E, certamente, se houver um espaço museológico, a pessoa pode emprestar para que alguém o proteja e estime, não perdendo a sua propriedade.

É esse o nosso projeto muito ligado para a cultura e queremos que também o Cineteatro da Pampilhosa, que é importante dar-lhe continuidade e a obra não pode estar parada, esteja aberto para todos. E temos o projeto do Luso, que embora esteja um projeto na Câmara e, sou sincero, ainda não entrei nesse processo, mas vamos analisá-lo e acho que é fundamental o Luso ter um espaço cultural digno da vila que é o Luso.

Numa entrevista ao nosso jornal, antes de ter tomado posse, referiu que uma das formas de tornar a Mealhada mais atrativa, era tornar “o espaço público atrativo”. Que trabalho já está a ser desenvolvido neste sentido?

A primeira coisa que estamos a fazer é a criar uma equipa de trabalho, dentro da Câmara, de projetistas, de pessoas que podem fazer pequenos projetos para resolver alguns problemas que temos no espaço público. E quando digo alguns problemas é, por exemplo, a acessibilidade. Por vezes vemos aí situações de passeios completamente degradados, que precisam de uma grande reestruturação e não fará sentido andar a contratar pequeno projetos do exterior quando temos aqui técnicos com essa capacidade. E estamos a tentar fazer um levantamento das necessidades dos pequenos problemas que existem no concelho para fazer esses projetos e poder executar o mais rápido possível.

Outro do trabalho que estamos a fazer é preparar zonas para que possamos intervir e possamos dar alguma dignidade ao espaço público do concelho, não só da cidade, mas do Luso e todas as freguesias e aldeias, pois queremos chegar a todas, com o objetivo claro de que as pessoas que vivem na rua A ou na rua B, ou na aldeia A ou na aldeia B, possam também ter orgulho e que possam sentir que o seu espaço é um espaço agradável e que vale a pena vir viver para o concelho da Mealhada.

Quais são os planos para a governação de proximidade com as Juntas de Freguesia?

É aquilo que temos de fazer no dia-a-dia, que é ouvir não só os representantes das Juntas de Freguesia, e por isso temos uma pessoa que está muito ligada às Juntas de Freguesia, o meu chefe de gabinete. Mas também ouvir as pessoas que vêm à Câmara, ouvir as pessoas que nós encontramos na rua e tentar perceber quais são as necessidades delas. E o que nós estamos a sentir neste pouco tempo que temos tido, é que temos todo o tipo de pessoas. Umas vêm reclamar e com muita razão, mas vêm reclamar de uma forma que é muito interessante. Dizem “nós precisamos”, e não, “vocês têm que fazer”.

E isso para nós é muito bom porque é para isso que estamos cá. Para resolver os problemas e necessidades que essas pessoas têm. A proximidade será total, desde recebermos todas as pessoas nas casas delas, como quando andamos na rua, ouvi-las e quando é possível, executa-se. E sabermos dizer quando não é possível executar. Porque nem tudo se consegue, também temos regras que temos de cumprir e as pessoas entendem. Se nós explicarmos às pessoas elas entendem que embora haja aquela necessidade, de outra forma poderá resolver-se essa situação.

De que forma é que pensa envolver os munícipes no trabalho desenvolvido pelo executivo?

De várias formas. Nós temos muitas atividades que queremos desenvolver no concelho, em que eles se envolvam não só como voluntários mas também com ideias. O que já aconteceu neste pouco tempo que cá estamos, é que por vezes há uma situação que nós queremos resolver mas depende de certas pessoas. Ou porque vamos tocar no privado, no privado deles e não no privado de todos, e aí eles têm de ser envolvidos. E envolvidos é ajudarem-nos a que nós possamos resolver os problemas de todos. Se todos nós contribuirmos um pouco com o que é nosso para a população, certamente também ganhamos com isso. E falo em tudo em geral. Ainda agora na reunião com os aderentes às “4 Maravilhas da Mesa da Mealhada” foi isso que foi transmitido, que é, nós queremos valorizar o projeto das 4 Maravilhas, e queremos que quem esteja no projeto que dignifique e que defenda muito o produto local com identidade local. Aqueles que não consigam estar no projeto, não os vamos afastar, não os vamos abandonar, mas estes vão ter que ajudar os outros. E como é que eles podem ajudar? De várias formas. Podem dar algumas ideias do que eles podem melhorar no serviço, no seu restaurante, na sua padaria, ou no seu estabelecimento comercial. É eles estarem ao lado deles e ajudarem. Quem tem condições e tem o saber para ajudar quem menos neste momento consegue, certamente está a ajudar o município no seu dia-a-dia e no seu trabalho.

Nós não conseguimos estar em todo o lado, se os munícipes nos avisarem de alguns problemas que há, já nos estão a ajudar. E por vezes são problemas que até eles próprios conseguem resolver. Porque todo o dinheiro que nós temos na Câmara e que vamos gastar ou investir, é dinheiro de todos. Portanto, se nós pouparmos algum para outras áreas prioritárias em que mais pessoas possam usufruir esse bem que vai ser investido melhor. Se todas as pessoas colaborarem desta forma, garanto que vamos ter um bom mandato.

Estamos no final do seu mandato, em 2025. O que mudou essencialmente na Mealhada?

Não consigo dar essa resposta e é algo muito difícil de responder. Mas o que eu gostava era que estivesse um concelho mais unido, as pessoas pudessem trabalhar mais em conjunto e pudessem ter muito orgulho do seu município. Pudessem andar de “peito feito” e dizer: “Sou da Mealhada, gosto da Mealhada”. Isso seria o que eu mais gostaria em 2025, sentir as pessoas com muito orgulho, como eu também quero ter muito orgulho e, tenho já orgulho de ser mealhadense.