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Teletrabalho e saúde mental: vantagens ou desvantagens? | Saúde


tags: Mealhada, Mealhada, Saúde, HMM, Saúde, Mealhada Categorias: Saúde segunda, 20 dezembro 2021

O teletrabalho tornou-se uma palavra presente no nosso quotidiano e faz cada vez mais parte da vida de muitas pessoas. Mas quando falamos em teletrabalho e saúde mental, falamos em vantagens ou desvantagens? Fábio Fernandes, psicólogo da Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, explica o que é que acontece a nível de teletrabalho quando abordamos este conceito e o relacionamos com a saúde mental propriamente dita. Para o psicólogo, não há dúvidas de que “existe uma lacuna a preencher neste sentido”, isto porque “foram realizados estudos, poucos ainda, no entanto os resultados que chegaram não estão em consenso, uma vez que existem estudos que focam mais nas consequências negativas na saúde mental relacionadas com o teletrabalho, mas também há artigos que se chega à conclusão que de facto existem sim desvantagens, mas também existem potencialidades nesta nova realidade”.

“Se nos focarmos nas consequências mais negativas e mais prejudiciais para a saúde da pessoa, tanto física como mental, nós chegamos à conclusão que temos aqui dois grandes fatores que estão em causa: a alteração do regime da higiene de sono e a questão do isolamento social. Ao nível da alteração do sono, esta está relacionada com o facto de existir uma menor exposição à luz natural, mas também da necessidade que o teletrabalho obriga de estarmos constantemente com ecrãs de computador e de tablets. E estas alterações de sono surgem quando estamos em contacto com estes ecrãs, sobretudo em regime noturno. Relativamente ao isolamento social, a pessoa passa maior parte do tempo no seu domicílio e não convive. E todos nós precisamos de conviver, precisamos de estar uns com os outros e precisamos de dialogar. E isso é colocado em causa quando falamos num contexto específico de teletrabalho”, explica. Nestes casos, segundo Fábio Fernandes, é importante a pessoa não se resignar a estar em casa e criar uma rotina como se estivesse a trabalhar num contexto dito normal, aproveitando as horas livres para dar o passeio higiénico.

Ainda assim, o psicólogo alerta para o facto de o teletrabalho “ser um pau de dois bicos” para a saúde mental, o que significa que estar em teletrabalho pode também ter as suas vantagens. “Quando falamos em isolamento é algo bidirecional porque, por um lado, poderá levar a esse isolamento social – e o isolamento social talvez seja visto como algo negativo, mas não, o isolamento social é até um fator e uma medida de proteção da saúde física - mas tem é de haver um equilíbrio”, refere Fábio Fernandes, adiantando que “quando esse isolamento ultrapassa uma dita barreira, aí sim a saúde mental é colocada em causa, no entanto, esse isolamento também é benéfico numa quantidade dita normal”.

E porquê? O psicólogo Fábio Fernandes esclarece que o teletrabalho poderá também diminuir o isolamento social, isto porque a pessoa estando em casa, aquele tempo que ocuparia, por exemplo, na deslocação de casa-trabalho e trabalho-casa, tendo esse tempo livre a pessoa tende a sair e a conviver mais. “Não estando naquele horário de trabalho, tendencialmente a pessoa sai mais e existem estudos que comprovam que quem passa a trabalhar em casa, até tem mais tempo para adotar animais de estimação, investe mais em relações amorosas, sai para fazer exercício físico ou para fazer uma caminhada. Portanto, são consequências positivas”, acrescenta.

Para Fábio Fernandes há um trabalho a ser feito não só pelos indivíduos que estão no contexto de teletrabalho, como também pelas empresas onde estão inseridos, de forma a que estas consigam garantir a segurança psicológica do trabalhador e, consequentemente, os trabalhadores possam também beneficiar a empresa da melhor forma possível, havendo produtividade laboral. “Se a empresa apostar numa formação, em pausas para o trabalhador, apostar em férias e outros pontos, claro que estes fatores vão levar a que uma pessoa esteja com uma saúde mental mais saudável, porque a saúde mental é a base de tudo e para tudo”, mencionou o psicólogo, adiantando que este tipo de programas já existe, desde programas que beneficiam a saúde psicológica da pessoa, programas de trainee e programas que abordam as práticas que as pessoas devem levar a cabo em casa quando estiverem no regime de teletrabalho, programas esses que já estão a ser implementados “mas ainda muito aquém”.

“Quando falamos de saúde mental e teletrabalho, ainda é um tema que são necessários muitos estudos. Há que apostar nesta pesquisa, sobretudo para beneficiar a própria pessoa. É inacreditável, pelo menos para mim, como é que em pleno século XXI e em pleno ano 2021, a saúde mental seja ainda um conceito tão pouco abordado, quando é o principal. Tem de existir este relevo e importância que a saúde mental adquire. Porque é tudo”, concluiu.