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'Promete ser um espetáculo muito rico e cheio de emoções para todos os sentidos, não só para os ouvidos'


tags: Entrevista, Música, Mealhada Categorias: Cultura, Entrevista terça, 21 dezembro 2021

Paulo Figueiredo, no piano, e Bruno Costa, na guitarra portuguesa, dão vida ao grupo CORDIS que vai estrear-se no Cineteatro Messias, dia 28 de janeiro de 2022, pelas 21h. O duo viu o seu espetáculo ser adiado, uma vez que estava previsto para dia 27 de novembro do presente ano, mas mais do que um espetáculo, promete que esta noite será uma experiência a não perder. Paulo Figueiredo, representante do CORDIS, esteve à conversa com o nosso jornal e partilhou todo o percurso do grupo, desde o seu começo até ao lançamento do mais recente disco “Reflexo”.

Como surgiu este grupo que dá vida ao CORDIS?

Este grupo nasce de uma série de experiências que andavam a ser feitas aqui na cidade de Coimbra, em que para além do fado tradicional e das guitarradas, se juntavam diversos instrumentos que não eram típicos deste tipo de música. Então houve vários elementos ligados ao fado de Coimbra e às guitarras que se lembraram de em determinados concertos começar a juntar piano, contrabaixo, outras vozes e outros instrumentos. E o piano foi um dos elementos de eleição para começar a juntar a estes espetáculos e fui eu o convidado para ser o pianista destas novas experiências.

E participamos nalguns discos inovadores que ligavam o fado de Coimbra à música eletrónica e à musica do mundo de uma maneira geral. E nessas experiências todas, eu, Paulo Figueiredo, tomei contacto com o guitarrista Bruno Costa. E nesse contacto nós achámos que havia ali potencial para fazer umas experiências um pouco mais específicas, não de instrumentos, não do fado geral, mas da música instrumental apenas com piano e guitarra portuguesa.

O Bruno Costa, que era muito mais novo que eu na altura e vinha de uma tradição da guitarra portuguesa, concretamente do fado de Coimbra, portanto, da Escola de Fado da Associação Académica, trouxe toda esta componente mais tradicional do fado e das guitarradas. E eu contribui com a minha formação, por um lado mais clássica em termos de piano, e mais jazzista da minha formação na Escola de Jazz do Porto, que me deu uma abrangência completamente diferente daquela que o Bruno trazia. Ao juntarmos estas duas tradições e raízes, surgiu em 2005 o primeiro disco, em que nós achámos que valia a pena fazer uma experiência com 13 músicas e juntámos o piano e a guitarra portuguesa, exclusivamente.

Então fizemos um primeiro disco em que nós tínhamos abordagens nossas, completamente novas e originais, dado a esse background que cada um trazia. Eram abordagens novas e diferentes de peças de reconhecidos compositores da música da guitarra portuguesa, ou seja, Artur Paredes, Carlos Paredes e toda a família Paredes, e depois António Portugal, Francisco Martins e tantos outros. Já aí nós incluímos nesse disco duas ou três peças originais, mas essencialmente eram versões nossas de originais que já existiam.

Porquê o nome CORDIS?

O nome CORDIS vem do latim “Coração”, que significa alma e interior. E a nossa música desde o início que nos pareceu que só fazia sentido se fosse tocada com muita alma, que viesse do nosso interior e que chegasse ao interior das pessoas. Isto para nós não pode ser uma música de ânimo leve e tocada sem grande interioridade. É uma música que requer muita interioridade, muita introspeção e que só faz sentido se vier do coração e se for tocada com alma. E daí que o nome tenha sido sugerido por uma pessoa muita próxima ao CORDIS e ligada ao latim, e que tinha tudo a ver connosco.

O CORDIS foi sempre de raiz, e continua a ser, um grupo instrumental de piano e guitarra portuguesa. No entanto, logo a partir do segundo disco que tivemos connosco convidados em palco. E a partir daí temos desenvolvido inúmeras parcerias, nomeadamente muitos instrumentais, mas também com muitos cantores, desde Cuca Roseta, Tiago Bettencourt, Jorge Palma, António Azambujo, entre tantos outros. E temos feito uma caminhada muito bonita com grandes artistas a nível nacional. E, para além desses, temos feito inúmeras parcerias com músicos de outros instrumentos. Daí também que este concerto agora em janeiro, no Cineteatro Messias, seja com o Quarteto Arabesco, com quem já trabalhamos há algum tempo, e que conta também com duas bailarinas que vão interpretar ao vivo coregrafias da Paula Fidalgo, intercaladas com momentos de vídeo e áudio que vão aparecendo pelo meio do espetáculo sobre a cidade, a cultura e a tradição de Coimbra, acabando assim por ser não só um espetáculo mas também uma experiência.

Relativamente ao mais recente álbum, o “Reflexo”, que vocês vão apresentar no espetáculo, de que se trata?

O “Reflexo” é o nosso quarto disco e é um seguimento do álbum “Terceiro”. O terceiro álbum rompeu um pouco a tradição com que vínhamos, que era de trabalhar peças de reconhecidos compositores de música da guitarra portuguesa, mas rompe um pouco isso no sentido em que nós no terceiro disco achámos que estava na altura de arriscar e de começar a fazer um disco apenas e exclusivamente com música original, totalmente composta por mim e pelo Bruno Costa. E o quarto disco foi no seguimento disso, embora mais maduro, mais evoluído e sofisticado e com um grau de originalidade.

Sendo a primeira vez na Mealhada, o que o público pode esperar deste espetáculo?

O público neste espetáculo, assim como em todos, pode ir convencido que vai ter uma viagem. E nós dizemos sempre que é uma viagem porque vamos passar por uma estrada que leva desde o início do CORDIS até ao final. Mas este concerto ainda é mais uma viagem porque além de ir buscar pontualmente peças do primeiro, segundo e terceiro disco, o espetáculo vai assentar muito no próprio disco “Reflexo”, que saiu agora em 2020 e que ficou um pouco na gaveta por causa da pandemia. Este disco é novo, só andámos a tocar no Verão, e é um disco muito mais maduro e, portanto, chamase Reflexo precisamente porque vem mostrar o produto do trabalho destes anos todos e é o resultado das parcerias que temos feito, dos contactos musicais e artísticos que temos feito e dos palcos todos que já pisámos. Pareceu-nos que reflexo era um nome que fazia jus a este dico. Mas além de tudo, este espetáculo tem a ajuda das bailarinas a dar uma vertente artística completamente diferente ao espetáculo, quer em termos auditivos como também visuais, e depois temos a experiência também dos vídeos que vão pontualmente fazer referência ao espaço, cidade, cultura e tradição de Coimbra, que esta na origem de tudo isto.

Promete ser um espetáculo muito rico e cheio de emoções para todos os sentidos, não só para os ouvidos.