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João Pega
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Diária

Centenário: Rancho Folclórico São João celebrou 100 anos de cultura, tradições, gerações e cantares


tags: Mealhada Categorias: Especial quinta, 30 junho 2022

Augusto Mamede é presidente do Rancho Folclórico São João, de Casal Comba, desde o 25 de Abril, mas a sua presença como dançarino já vem desde 1957. Na sexta-feira passada, dia 24, viu o seu rancho celebrar 100 anos, este que é o centenário de um rancho que continua fiel às suas raízes, costumes e tradições. “Somos o único rancho com 100 anos do concelho e, se calhar, até do país. Para mim significa muito. É o património que o início do rancho folclórico nos deixou até hoje. É um grande legado porque, embora depois tenha apanhado a segunda guerra mundial, e mesmo com algumas paragens, sempre se manteve”, começou por recordar.

Deste rancho faz parte muita história e Augusto Mamede partilhou que o primeiro grupo, que surgiu em 1922 no Dia de São João, “acabou por dar uma lição porque já se trajava como deve de ser”, embora depois tenha havido uma dispersão, “pois os grupos queriam fazer os trajes à maneira deles”. “Até que eu agarrei nisto e foi uma reposição mais séria para os usos dos costumes e trajes”, garantiu o presidente, certo de que o seu trabalho tem passado também por uma procura histórica, de modo a transportar os hábitos dos tempos antigos, para os tempos modernos. “Desde que eu entrei é esse o meu caminho, mas é um caminho longo para se atingir o fim”, adiantou. 

Questionado sobre o que significa o rancho folclórico, Augusto Mamede não hesitou, revelando que rancho é “história”.  “Significa muito para a história, em primeiro lugar, de Casal Comba, que foi um lugar sempre com folclore. E significa muito porque é um bem social que a terra e o concelho têm. Nós vamos a todo o lado, em Portugal já devemos ter corrido o país todo, e já fomos a França, a Espanha, entre outros. E isso significa que, no fundo, estamos vivos e, culturalmente, é interessante”, partilhou. Para o presidente, o maior desafio que enfrenta atualmente é de deixar o legado a alguém que dê continuidade a esta história. “Mas a quem?”, questiona-se. “Acabar não acaba. Tenho receio é que não façam as coisas como deve de ser. Mas queria que isto ficasse seguro. Querem andar no rancho, mas não querem ter trabalho. Esse é o meu grande problema. Porque quando eu entrei no rancho, o grupo ensaiava num armazém meu. Não tinha nada deste património. E eu consegui, enquanto presidente, reconstruir esta sede e a nova também. O problema é não encontrar pessoas para dar continuidade ao trabalho, porque tem despesas associadas”, lamentou.

35 pessoas constituem este rancho agora centenário, entre músicos, cantores e dançarinos, que acabam por promover um encontro de gerações, desde os pais, aos avós e netos, sendo que o mais recente elemento tem 2 anos. Os ensaios realizam-se todas as quartas e ouvem-se acordeões, ferrinhos, reco reco, violas e trécula, que acompanham os diversos cantares: “Não te encostes à barreira”, “Lava na pedrinha” e “Tia Anica”, e até mesmo letras alusivas à Bairrada, como o “Vira Bairradino”.

A sede mais antiga, além de ser palco dos ensaios, é uma amostra das relíquias do passado. Augusto Mamede colecionou várias peças que marcam as antiguidades e decidiu expor para os visitantes e, é naquele espaço, que se encontram trajes de antepassados e vários artigos que servem de adornos nas atuações do Rancho Folclórico São João. Quanto ao novo espaço, adquirido há 5 anos, Augusto Mamede garante que “tem melhores condições” e “tem o dobro do espaço”, mas que ainda falta terminar o piso de cima. “O próximo objetivo é terminar as obras da nova sede, essa que será a sede oficial. A sede antiga, além de continuarmos a disponibilizar para outras iniciativas, mantém-se para exposição, até por causa do nosso museu”, mencionou.

 

Festejos começaram mais cedo e momento alto aconteceu no dia 24

Os festejos do centenário arrancaram no passado sábado, dia 18, com um cortejo.  Dia 24, no dia de aniversário, foi a vez do Grupo Regional da Pampilhosa do Botão e do Grupo Tá-Mar da Nazaré subirem a palco, juntamente com o grupo centenário, depois de um jantar convívio para assinalar este marco.