Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

50 anos de vida... | Opinião


tags: Padre Rodolfo Leite Categorias: Opinião quarta, 13 julho 2022

A sua verdadeira «conversão» deu-se aos 17 anos. Até aí, na paróquia da Pampilhosa, era catequista, ensaiava os cânticos e estava ligado à JEC (Juventude Escolar Católica). Mas foi, na Sagrada Escritura que se encontrou com Jesus Cristo e isso transformou a sua vida. Chorou de alegria imensas horas, por essa descoberta. A partir daí a sua vida mudou e forma de se relacionar com os outros foi totalmente diferente. Fez o seu curso comercial, na Avelar Brotero, em Coimbra, e seguiu para a tropa. Esteve em Tancos, Lisboa, Porto… Tempos duros, onde o testemunho cristão era provado com a provocação e a crítica de alguns colegas. Mas nunca desistiu ou deixou de fazer a oração diária, de ir à missa aos domingos e da leitura e reflexão frequentes da Bíblia.

Foi nesta altura, que a inquietação vocacional tomou conta do seu coração. Questionava-se, frequentemente, sobre o afastamento do povo da Igreja e da «tristeza» de muitos membros do clero. Chegou mesmo a perguntar para si próprio: «que Igreja é esta onde os padres não são felizes?». Acabando o serviço militar, decidiu arriscar ser padre. Entra no Seminário Menor da Figueira da Foz, com 24 anos. Um homem no meio de rapaziada muito mais nova. Como jogava bem à futebol, conseguiu uma integração rápida. Passado um ano, veio para o Seminário Coimbra, onde viveu uma aventura, repleta de momentos gozosos e outros dolorosos, com as marcas próprias daquela época. Eram os tempos da revolução estudantil que também influenciou muito a vida do Seminário.

Entretanto, no final do curso, é ordenado padre e vai para Santa Cruz. A seguir, com os seus colegas de curso, segue para Soure, onde viveu uma experiência marcante e feliz de trabalho em equipa. Passados uns anos, foi para paróquia da Cumieira, onde, pastoralmente, deu início aos grupos de Catequese de Adultos. A certa altura, foi convidado para ser professor, mas não aceitou, pois sempre quis ser pastor. Mais tarde, foi para pároco de Figueira de Lorvão. Terminando essa etapa, fez um ano de sabático, em Madrid. No regresso, é nomeado assistente nacional dos movimentos da Ação Católica, em Lisboa. Por fim, foi pároco nalgumas paróquias, a norte da cidade de Coimbra, até à reforma, aos 80 anos. Desde então, colabora na Unidade Pastoral da Mealhada.

Celebrou, no passado dia 3 de julho, os 50 anos de Ordenação, na igreja paroquial da Pampilhosa, onde foi batizado. Uma festa simples, fraterna, amiga e calorosa. Estava repleta de amigos, familiares e de muitos a quem serviu, por onde foi passando. Deu gosto ver como estava feliz, na humildade de quem se sente agradecido por tudo, a Deus e aos outros. Sim! Celebrar 50 anos de padre é viver a gratidão; é reconhecer a grandeza desse dom misterioso que é ser «instrumento de Deus», na vida de todos a quem se serviu; é assumir, com verdade, que as fragilidades humanas, as dores e as lágrimas da vida de um padre, não são maiores que o amor que Ele constantemente concede aos que chama. No fundo, é dizer definitivamente «sim» ao chamamento de Amor com que Deus forjando, em felicidade, os que escolhe.

Nestes cinquenta anos de sacerdócio do padre Luciano, há algumas realidades que estiveram sempre presentes na sua vida: os pobres, a Palavra de Deus, a Catequese de Adultos e a família. Quem o conhece e com ele convive capta facilmente estes traços que lhe definem a identidade. Hoje, vive o seu ministério com a mesma paixão do início. Continua a sonhar com o «coração», isto é, a viver apaixonadamente a Igreja, no seguimento de Jesus Cristo. Nele é permanente esse desejo de provocar, na vida de todos, o encontro transformador com Jesus Cristo. Vê e vive a fé como estilo de vida, saciando-se na fonte que é a eucaristia e a caridade. É livre e desprendido de tudo e diante de todos. Neste momento, resta-me agradecer ao padre Luciano aquilo que é, a generosidade do seu testemunho, da sua entrega, tantas vezes, com sacrifício na missão, da sua presença amiga e fraterna.

Já agora! Nesta época em que vivemos carentes de testemunhas de felicidade; em que tudo parece tão sombrio pela violência com que os interesses particulares se impõem em detrimento do bem de todos; e, ainda, em que as «forças de pressão», que a tantos níveis e oportunisticamente, vão costurando o pensar comum; faz bem contemplar vidas como a do padre Luciano. Uma vida feliz porque se rege pelo Amor de Deus que se faz concreto, no serviço e na comunhão, sempre para o bem de todos e cada um.

Muitos parabéns, bom amigo, Padre Luciano! 

Padre Rodolfo Leite