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Perspectiva - Nove Meses | Opinião


tags: Mauro Tomaz Categorias: Opinião quinta, 28 julho 2022

Nove meses volvidos desde a tomada de posse, creio que já é de certa forma seguro formar um primeiro balanço sobre a actuação deste novo Executivo do Município de Mortágua. Até aqui pautei pela discrição por variadas razões, sendo que por um lado é natural que se dê algum tempo para que as pessoas se possam habituar aos novos cargos e às novas responsabilidades, e a nível pessoal tenho tido uma disponibilidade para acompanhar a actividade autárquica muito mais limitada do que em outros tempos. No entanto, parece-me que já é hora de participar e de intervir na minha terra, prestando-me a um estatuto e a um papel a que nenhum de nós deverá renegar, quando o sentimento de pertença à sua comunidade existe de facto e está bem vivo e presente.

Começo por elogiar a frescura que é sempre benéfica numa mudança de liderança (daí sempre ter sido acérrimo defensor da limitação de mandatos). Pessoas novas por norma combatem vícios antigos e isso é claramente positivo. Apesar da perda do Rally de Mortágua, a que a autarquia foi certamente alheia de responsabilidades, são de louvar os esforços desenvolvidos na promoção da etapa do Rally de Portugal, nomeadamente no marketing em torno da nova “arena”, que me parece ter gerado um bom hype, sem esquecer o próprio desenho do referido trajecto, assinado pelo vice-presidente Luís Filipe Rodrigues que é, como sempre referi a propósito, o trunfo maior desta equipa, pelo seu perfil de serenidade, confiança e competência, próprio de um homem responsável e sério. Está a tomar bem conta das suas pastas mas não se pode esquecer que, sendo o número 2, acabará sempre por também lhe ver cobradas as decisões tomadas por todo o grupo… e há lealdades que por vezes têm um preço. A vereadora Ilda Matos, por sua vez, não se tem cansado de referir publicamente que é uma “novata” e que se orienta pelo seu superior hierárquico, o que por um lado faz todo o sentido, dados os diferentes estatutos, mas que pelo outro revela alguma insegurança na afirmação própria. Claro que o conhecimento e a experiência são determinantes, mas espera-se sempre convicção e confiança da parte de um representante com importantes pelouros atribuídos. As pessoas por norma desejam competência e provas dadas, e não uma espécie de estagiário ainda em aprendizagem, mas eu defendo que todos necessitam do seu tempo para fazer o seu próprio caminho. Já sobre o seu grande empenho e a sua inusitada vontade em prestar o designado serviço da melhor forma possível não tenho qualquer tipo de dúvida. À sua alçada, por exemplo, esteve a consolidação e o reforço do programa Férias Activas, em curso neste momento, e que até agora se está a revelar um enorme sucesso.

De resto, e em profunda coerência com os votos de boa ventura que enderecei ao Ricardo Pardal na tomada de posse, prometendo-lhe a devida deferência e ao mesmo tempo alertando para a necessidade de se cumprir com o que explícita e evidentemente prometeu em campanha (com prova escrita e filmada), tenho naturalmente alguns apontamentos a fazer. O novo Presidente, em linha com o que passou para fora durante toda a campanha, foi sempre revelando aos poucos um cenário supostamente catastrófico. Ainda agora, passados nove meses, continuam a sair directas e indirectas nos editoriais da agenda municipal e nos meios propagandísticos do movimento que se sobrepôs ao partido. O alarmismo perante a situação financeira deixada pelo anterior Executivo passou a ser uma narrativa recorrente e transversal, apesar de falaciosa. Subitamente, assumiu em sede própria que não havia dinheiro para grandes celebrações de Natal, tendo, entretanto, acedido a colocar algumas luzes para o efeito, e pronto… à luz da contenção e da poupança, até o mais “ricardista” dos Mortaguenses há-de ter ficado com saudades das antigas e das mais recentes festas da época. Ora, vamos aos factos: os “cofres vazios” deixados pelo anterior presidente contavam com uns muito confortáveis 5 milhões e meio de euros, o que me deixa a pensar que o Ricardo, que nos habituou na sua muito famosa carreira de fiscal a ver o que não estava lá, subitamente passou a não ver o que lá estava. De seguida, a transparência. A tal que foi incessantemente cantada aos cidadãos desta terra maravilhosa, em campanha eleitoral… “temos de ser mais rigorosos e transparentes”, blablabla, “prometo que vou transmitir as reuniões de câmara e as sessões de assembleia para que todos os Mortaguenses possam estar bem informados”, etc e tal. Depois de todo este tempo volvido, nada. 0. Bola. Não publicou uma única ata nem transmitiu uma única reunião ou sessão. Já foi, pelos vistos, indagado por apoiantes e opositores quanto a essa promessa, tendo-se escudado nas “questões técnicas” que todos sabemos não serem justificação nenhuma. Hoje em dia, são vários os equipamentos de baixo custo que o permitiriam fazer, o que me leva a concluir o óbvio: este logro é uma intenção e é estratégia de comunicação. Haveria muito mais para dizer, mas por agora fico por aqui. O descontentamento popular é crescente e cada vez mais visível. É real, sem imagem trabalhada nem slogans da conveniência. Esse sim, é efectivamente transparente, sem o make-up próprio dos especialistas em marketing. Há cada vez mais pessoas a perceber o que se passa, o que me leva a concluir que, se não arrepiar caminho, o Ricardo não passa do primeiro mandato. A palavra dada aos Mortaguenses é sagrada e tem obrigatoriamente de ser honrada e respeitada.

Fica a dica!

Mauro José Tomaz