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Diária

Agrupamento de Escuteiros de Barcouço celebra 40 anos de vida


tags: Barcouço, Escuteiros Categorias: Especial, Entrevista segunda, 24 outubro 2022

O Agrupamento 1036 – Escuteiros de Barcouço comemora, este ano, 40 anos de atividade. O Agrupamento teve início no ano 1982, mas foi filiado em 1989. O Jornal da Mealhada conversou com Cidália Martins, chefe de Agrupamento desde 2016, e com Aristides Simões Dias, primeiro chefe dos Escuteiros de Barcouço, para compreender como foi a formação do Agrupamento, quais as maiores dificuldades e qual a motivação para trabalhar com jovens.

 

Jornal da Mealhada (JM) - O agrupamento fez 40 anos, mas qual a data de fundação?

Cidália Martins - O agrupamento teve início no mês de setembro/outubro (coincidindo com início da catequese) no ano de 1982. Foi filiado em 1989.

JM - Queríamos saber um pouco da história do agrupamento, será que me podia contar?

CM - Em 1982, na altura o Sr. Padre Carlos Pinho, pároco da freguesia, teve a ideia de implementar o escutismo em Barcouço e com a ajuda da Dona Josefa Alves (pertencente ao Instituto Secular Servas do Apostolado a desenvolver atividades na paróquia) resolveram pôr essa ideia em prática.

Convidaram o Chefe Aristides Dias para dar início a este projeto que aceitou e se disponibilizou para fazer a formação necessária.

O primeiro grupo era composto por 12 jovens que tinham feito a Comunhão Solene recentemente.

A este grupo juntaram-se outros jovens, e durante 7 anos estiveram “em formação”, pois o grupo não tinha o número de bandos, patrulhas, equipas necessárias para a sua filiação.

JM - Qual foi o primeiro acampamento do Agrupamento?

CM - O primeiro acampamento decorreu na Fonte da Lapa, um pinhal, localizado entre Santa Luzia e Quinta Branca. Este acampamento realizou-se, em novembro, por altura da festa de Quinta Branca e a tenda era feita com um panal da apanha da azeitona e uns paus. Neste acampamento para além dos 12 juniores, o chefe Aristides Dias, estava um elemento mais velho, já caminheiro, o Octávio Neves.

JM- Quais as atividades que destacam nestes anos?

CM - Durante estes 40 anos foram realizadas muitas atividades, destacamos os acampamentos Nacionais de Bagunte (em 1987, apenas com o Chefe Aristides Dias) e do Palheirão (1992), onde tivemos representação em todas as secções. Das atividades Regionais além dos acampamentos e dias da região, há duas atividades que nunca esqueceremos, “corrida de carros de rolamentos” – Madeira & Ferro, onde ganhámos o 1.º prémio em Oliveira do Hospital e a participação nos 1.º e 2.º festivais da canção escutista regional onde obtivemos sempre a melhor interpretação.  

Os ACM (Acampamentos dos Escuteiros do Concelho da Mealhada) e mais tarde as atividades do núcleo, onde também procuramos sempre estar, são momentos que estão bem presentes na memória de todos. Mas aquelas atividades que sempre que algum escuteiro do 1036 recorda, quando se encontra, foram as atividades do agrupamento. A construção da jangada Albertina e a famosa Pensão Estrela em Ferreira do Zêzere (construção com dois andares), constituem o “nosso orgulho”.

Embora não sendo um agrupamento com grande número de elementos, participámos, sempre que possível, em várias atividades relacionados com escutismo e de outras instituições com empenho e dedicação.

JM - Quando é que entrou nos escuteiros? Explique-me a sua história enquanto escuteira?

CM - Entrei no escutismo como caminheira, onde estive algum tempo, pois sendo um grupo pequeno sempre teve muita necessidade de dirigentes.

O meu 1.º “grande” acampamento foi como caminheira na Barragem da Aguieira em 1989 (1.º Jamboree das Beiras). No ano seguinte, fiz a formação para dirigente e promessa em 1991.

Estive durante vários anos como chefe de unidade da II Secção (que são os exploradores) e um curto período a acompanhar a I Secção (lobitos, os mais novos).

JM - Tem família nos escuteiros?

CM - Sim, tenho uma família escutista: tio, a prima, irmão, filhas, genro e uma neta.

JM - Qual é a sua secção?

CM - Continuo a trabalhar com a II Secção e acompanho as outras secções.

JM - Qual a secção de que mais gosta de trabalhar? E porquê?

CM - Sem dúvida a II. Gosto de motivar os jovens a desenvolver as técnicas de nós e construções.

JM - Quantas pessoas tem o agrupamento, atualmente?

CM - Atualmente somos 31 elementos.

JM - Queria saber se já existe calendário de atividades? E se há alguma atividade que se vai destacar pela diferença ou por alguma particularidade?

CM - Este ano vai ser o ano das ‘Comemorações dos 40 anos do Agrupamento’. Iniciamos com a atividade “40 anos 40 nós”, projeto que desenvolvemos durante o ano anterior e que foi realizada nos dias 30 de setembro a 2 de outubro. Efetivamente, iniciamos da melhor forma com a junção de mais de 200 pessoas ligadas ao 1036 (Agrupamento de Escuteiros de Barcouço). Neste momento ainda estamos a ultimar o nosso Plano Anual de Atividades tendo em conta a “saída” das restrições da covid-19 e o envolvimento com as atividades da comunidade.

Uma das atividades, que se destacou e vamos dar continuidade, é a definição de percursos pedestres. No ano anterior, envolvemos as quatro secções na construção e dinamização de um percurso com passagem nas várias capelas e igreja do lugar de Barcouço, a este percurso demos o nome de Rota dos Patronos, que foi posta em prática com uma caminha solidária onde estiveram presentes familiares dos escuteiros, amigos e população em geral. Este ano já temos mais duas pensados que esperamos executar, mas que deixamos em segredo (afirma sorridente).

JM - Porque é que todos deviam ser escuteiros?

CM - Para seguir os ensinamentos de BP (Baden-Powell), fundador do escutismo, e deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrámos.

JM - Qual é a importância de ser escuteiro hoje em dia?

CM - Ser escuteiro, é um excelente modo de vida e uma escola para a vida. É estar alerta para servir, conseguindo ajudar o outro e saber ultrapassar as dificuldades pessoais.

JM - Qual a atividade que mais gostou de fazer desde que é chefe de agrupamento?

CM -  O ACAREG, em Ferreira do Zêzere, em 2018, com o tema “Com [Seguir] Homo erectus”.

JM - A pandemia foi um problema para os escuteiros do agrupamento?

CM - Sem dúvida. As restrições foram muitas e não nos permitiram estar juntos fisicamente, sendo essa umas das premissas do nosso agrupamento.

JM- Nos escuteiros, qual é a lei ou princípio que mais sentido lhe faz?

CM - Todas elas são importantes e o conjunto é que dá sentido a cada uma das Leis e dos Princípios.

JM - Como é formar os jovens de Barcouço?

CM - Não é fácil, sobretudo nos dias de hoje em que há tanta oferta de atividades e que as tecnologias os atraem mais. Tentamos cativá-los com a nossa boa disposição, a alegria do grupo e dinâmicas escutistas, o contacto com a natureza e a “liberdade” de planearem as suas aventuras.

JM - O que é que o Agrupamento 1036 faz pela sua freguesia, em que atividades é que ajuda, por exemplo?

CM - A nossa postura sempre foi/é de dizer sim a qualquer atividade que nos é proposta. Colaborando com outras associações/entidades, e com atividades próprias. Saliento campanhas relacionadas com o ambiente, como a recolha de monstros, nos terrenos da freguesia, a limpeza da rua que liga Barcouço ao lugar de Santa Luzia, recolha de medicamentos, plantação de árvores no parque Adriano Barata.  A angariação de fundos para o Grupo de Ação Sócio Caritativo (GASC) e envolvimento de elementos dos escuteiros nas atividades do grupo. Participação na animação da eucaristia e organização de procissões e festas religiosas. Em 2017, organizamos a festa anual da aldeia (Festa do Senhor). Participamos na dinamização de atividades na feira SaboreArtes e também já participamos em atividades ambientais com a associação o Planalto.

JM - E a população de Barcouço valoriza os escuteiros?

CM - Sim, sem dúvida. A disponibilidade dos espaços para fazer atividades e os contributos das pessoas em campanhas financeiras (venda de calendários, venda de velas…) são disso um bom exemplo.

JM - Queria saber um pouco da história do agrupamento, chefe Aristides, será que me poderia relatar?

ASD - Muito já foi dito pela Chefe de Agrupamento atual, mas tal como foi referido o agrupamento iniciou com 13 elementos, passando posteriormente para 14. Em termos de elementos foi sempre um agrupamento com um número entre 20 e 30 elementos, em parte reflexo da paróquia e da localização geográfica. Mas sempre um grupo muito unido, quer entre si quer à comunidade. Embora com pouco elementos havia sempre a preocupação de “estar presente”.

JM - Como foi formar um agrupamento de raiz? O que sentiu mais dificuldade?

ASD - Formar o agrupamento não foi ideia minha, mas sim do Sr. Padre Carlos Pinho que em conjunto com a Dona Josefa Alves chamaram-me para ser o 1.º chefe e os quais me orientaram para tal. A formação do agrupamento surge quando disse sim a esse chamamento. Claro que além destas duas pessoas o Octávio Neves, na altura como elemento mais velho do grupo foi uma ajuda muito importante.

Foi difícil, no início, aceitar as várias formas de estar na vida de alguns elementos, mas logo me vinha à ideia de que eram estes elementos que mais precisavam do meu apoio e isso dava-me coragem para continuar. Houve momentos muito difíceis, mas o facto de ser escutismo católico e de eu ter estado no seminário, tudo acabava por se tornar familiar o que foi um facilitador.

No início decidi responder ao chamamento e pela necessidade que existia na paróquia de dar uma orientação e continuidade após os jovens terminarem os anos de catequese, normalmente quando faziam a comunhão solene, deixavam de frequentar a igreja.

JM - Quantas pessoas ajudaram na formação do Agrupamento?

ASD - Tal como já foi referido o início começámos 3 pessoas, posteriormente entra o caminheiro Otávio Neves, mas um aspeto muito importante foi o facto de ao “mesmo tempo” o Sr. Padre implementar o movimento em Ventosa do Bairro, com o Chefe Zé e Ernesto, e Casal Comba, com o chefe João, a Chefe Guida e o Tó Pires, o que possibilitou a partilha a formação em conjunto e a realização de atividades, que é a maior escola de formação.

JM - Qual a atividade que mais gostou de fazer?

ASD - A atividade que mais gostei de fazer foi a construção da Ponte de Himalaia, numa atividade na Quinta Branca, em que fui o primeiro a passar sobre ela com êxito.

JM - E qual a que melhor feedback teve?

ASD - Os feedbacks das atividades do agrupamento sempre foram considerados muito positivos, quer pelo envolvimento de todos, quer pelas boas recordações que ficaram. Mas o primeiro acampamento nacional, em que vários elementos do agrupamento participaram, deixou grandes marcas. Foi o XVIII acampamento nacional que decorreu no Palheirão e tivemos todas as secções representadas. Desde a envolvência dos pais que no dia das visitas foram visitar os filhos, os banhos quentes para lobitos, os centros de reciclagem que foram criados até à confeção da grande manta de retalhos que depois de completa atingiu 3 milhares de metros quadrados, o que lhe deu a entrada no "Guiness Book", foi muito bom!

JM – Para terminar, gostávamos de saber como é que os jovens devem fazer para entrar nos Escuteiros de Barcouço?

CM – Basta querer ser escuteiro.