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Mealhadenses rumam à Irlanda para representar Portugal


tags: Desporto, Desporto, Mealhada Categorias: Região, Desporto quarta, 19 julho 2023

A história do Kenpo da Mealhada começou com José Mota, um dos atuais praticantes e mestres deste desporto. Kenpo é uma forma de arte marcial que combina técnicas de luta e autodefesa. Foi desenvolvido no Havaí por volta do século XX e é influenciado por várias disciplinas de combate, incluindo artes marciais chinesas, japonesas e indígenas do Havaí. O fundador desta arte marcial é Ed Parker, que adapta o kenpo e torna-o mais aplicável às ruas da América, denominando o seu estilo de “American Kenpo Karate”.

José Mota iniciou a sua vida desportiva no futebol e mais tarde, quando o filho se envolve no Karaté Shotokan decide acompanhá-lo nesse desporto, porém num encontro espiritual, encontra amigos que lhe mostram o Kenpo. A paixão pelo Kenpo começou aí. Iniciou os treinos em Brasfemes, uma vez por semana, em 2004.

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Nessa altura, José Mota acolhe um mestre da Suécia e com ele começa a treinar todos os dias, a aperfeiçoar a sua arte e a cultivar o gosto pelo desporto. Quando o mestre sueco regressa ao seu país, José Mota mantém os treinos com os alunos que o mestre já tinha.

A escola acaba por enfraquecer, mas reergue-se em 2008, com a abertura da sede na antiga Escola Primária da Mealhada. Em 2012, a escola de Kenpo oficializa-se com a criação da associação do Kenpo, que é o ano em que Cati Carvalho se junta a José Mota. Cati entrou no Kenpo, quando sentiu necessidade de encontrar uma atividade física para os seus filhos. “Fomos graduando, fizemos o curso de treinadores, que é importante e obrigatório” explicou Cati Carvalho. Desde aí, abriram também uma escola em Anadia e, diariamente, treinam jovens e adultos.

Em maio deste ano, concretizaram um sonho, representaram Portugal na Irlanda, num seminário “Camp Kenpo Karate 2023”, de 19 a 22 de maio. Quatro adultos e 12 jovens aprendizes rumaram à Irlanda para participarem em quatro dias de treinos e formações sobre o kenpo, com vários desportistas de diversos países. O grupo de 16 pessoas ficou alojado Hotel Mount Wolseley, em duas habitações.

Cati e José preparam toda a logística da viagem, “organização de bilhetes de avião e metro, cartão de cidadão em ordem, cartão europeu de saúde, autorizações, lidar os conflitos entre eles, gerir os treinos, foi muito interessante”, explica José Mota. “Nós queríamos mostrar-lhes outro ambiente, terem uma experiência diferente, poderem ver outros alunos da mesma idade que eles a fazer as mesmas coisas de forma diferentes”, afirma Cati Carvalho.

“A viagem à Irlanda foi no âmbito de um seminário, onde foram vários mestres de vários países, onde assistimos às aulas e treinos” explica o instrutor de kenpo. O dia começava às 8h da manhã com a tomada de pequeno-almoço, “porque às 9h30 tínhamos de nos apresentar nas aulas. Ao meio dia almoçávamos, tínhamos apenas 45 minutos para o fazer e voltávamos para as aulas” declaram os acompanhantes dos jovens.

Nos quatro dias, os jovens “tinham de saber gerir os conflitos, saber conviver uns com os outros 24 horas por dia”, diz José Mota.  

Os jovens saíram realizados e com certificados, “sempre que há formações, eles trazem certificados de participação” afirmam os instrutores.

Marta, uma das alunas participantes, diz que a viagem à Irlanda foi “diferente e interessante, treinámos com novos mestre e com outros alunos”. Já a Lara achou que “foi muito bom, fomos aprender o que já fazemos, mas de maneiras diferentes, aprendemos várias outras técnicas que outros mestres adaptaram pelas suas vivências e isso deu-nos mais conhecimentos”. Leonor acredita que “na Irlanda aprendemos que no kenpo só nos dão a base da técnica, ou seja, nós podemos adaptar aquilo que aprendemos a qualquer ataque”. Marisa Silva lembra que “foram quatro dias que pareceram um, foi uma experiência multicultural, porque estivemos com pessoas de França, Alemanha. Austrália, irlandeses. Foi sem dúvida uma experiência extraordinária, porque nos permitiu aprofundar e aprimorar as técnicas”.

Marisa contou que embora seja um dos cintos mais baixos, o amarelo, os portugueses acabaram por sobressair, “isto mostra que toda a persistência, que o Mota nos faz ter nos treinos tem algo no fundo e nos leva além”. A viagem à Irlanda uniu os jovens desportistas, “deu para nos conhecer muito mais, ver os feitios uns dos outros e criarmos mais ligação”, explica. “A Irlanda é um país totalmente diferente, mas que proporcionou muita aprendizagem. Eu quando venho para os treinos, venho mais confiança e com mais vontade”, refere Marisa.

Na viagem, a acompanhar os dois instrutores e os jovens aprendizes foram os pais de Leonor, uma das jovens desportista. Lina e o seu marido juntaram-se aos adultos que ajudaram logisticamente na viagem. Lina conta que “surgiu esta oportunidade de participarmos, então assim foi, acompanhámos e participámos, mas o grande trabalho foi do Mota e da Cati”.

Diariamente, Cati Carvalho e José Mota treinam vários jovens amantes da arte marcial. Os mestres planeiam os treinos, organizando a semana consoante o que os aprendizes devem praticar. Embora haja um plano, os mestres adaptam o treino ao grupo que está presente na aula, “há dias que eles vêm mais agitados, às vezes não vêm tão bem, podemos trazer o treino orientado, mas adaptamo-lo” esclarece Cati Carvalho.

Alguns dos alunos da Associação de Kenpo explicaram o seu interesse pelos treinos. “Aqui aprendemos a autodefesa, a autoatacar, prepara-nos para os medos de lá de fora”, explica Marta. Já Lara afirma que a prática do kenpo “nos dá mais confiança, pelas aprendizagens e caso tenhamos medo, sabemos que há algumas atitudes que conseguimos tomar para nos defender”. Leonor diz que “o kenpo não se trata só de autodefesa e ataque, traz-nos experiências e uma espécie de família fora de casa. Criamos interligações não só de amizade, mas também em coisas sérias”.

Marisa Silva entrou há um ano e quatro meses, “o kenpo simboliza a união entre as idades, porque eu ajudo com os pequenos e isso traz-me muita felicidade, simboliza a evolução, persistência e família. A Cati e o Mota têm-me ajudado muito e o kenpo tem-me ajudado muito no dia a dia e para mim, eu vejo-os como uma segunda família”.

Hugo Amorim é um dos alunos mais velho da escola de kenpo, já pratica esta arte há dez anos, “este desporto começou por ser uma escapatória. Sinto-me bem aqui, apesar de não ter muitos adultos, como sei algumas coisas, também gosto de ensinar”.

Lina, mãe de duas jovens aprendizes, explica que “das atividades existentes, eu sempre quis escolher para as minhas filhas uma atividade útil, o que é que isto quer dizer, que esta é importantíssima para a defesa pessoal. Tentei coloca-las em atividades que pudessem ser uma mais valia para o futuro delas”, refere.

A dupla de instrutores assume que os conhecimentos físicos e mentais são “o conhecimento do próprio corpo, a coordenação motora, a concentração e adiar a satisfação… Aqui, só passado alguns meses é que recebem uma fitinha, eles percebem que hoje aprendem, mas só passado algum tempo é que recebem algo”, explica José Mota. “Mesmo para nós adultos, as coisas não são imediatas, e logo desde pequenos começam a aprender a adiar a satisfação”, conclui Cati Carvalho. Neste desporto existe “um grande respeito pelo outro, porque o outro é o objeto de trabalho”, explica o instrutor. A “atenção” também foi referida como uma característica que é melhorada na prática desta arte marcial.

“Caminho” foi a palavra que os instrutores escolheram para caracterizar o kenpo, José Mota afirma que o kenpo é “um caminho infinito, mas interessante”, Cati diz que “estar sempre a caminho, porque há sempre uma porta, senão há uma janela, mas sempre muito intenso e muito interessante”.

Atualmente, Cati Carvalho e José Mota dirigem a escola de Kenpo da Mealhada e Anadia, onde dão treinos todos os dias da semana, terça e sexta-feira na Mealhada, e na segunda e quinta-feira, em Anadia, das 18h às 21h. “Na quarta-feira, na Mealhada treino com os mais velhos, aqueles que querem treinar fora do horário da aula” assume José Mota. De momento, a Associação de Kenpo tem 74 alunos, metade em cada escola, Anadia e Mealhada. As inscrições na escola de Kenpo podem ser feitas a qualquer altura do ano, junto dos mestres ou num treino na sede da associação.

Em breve, José Mota dará uma aula num seminário em Lisboa, para comemorar o aniversário dos 35 anos de um colega desportista, “espero levar alguns alunos” afirma o treinador. No dia 1 de julho, haverá graduações de alguns alunos. Está a ser planeado, em agosto, uma ida à Serra da Estrela, um acampamento, com caminhada, e uma ida a Espinho, a um parque diferente. “Pontualmente, vamos fazendo atividades, mas sempre na vertente da instrução, exames, ou na vertente cultural e lúdica” diz José Mota.