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Ainda pode piorar?


tags: Política Categorias: Opinião sexta, 09 fevereiro 2024

É cada vez mais frequente termos de recorrer à citação da famosíssima Lei de Murphy: "Qualquer coisa que possa correr mal, correrá mal, no pior momento possível". Num ano em que se acreditaria que os ciclos políticos iriam, apenas, ser renovados no Parlamento Europeu, a verdade é que em três meses quase todas as estruturas politicas portuguesas caíram e estão em profunda discussão.

O Governo caiu e com ele caiu o Parlamento. Por causa de suspeitas de corrupção. O Governo Regional dos Açores caiu logo a seguir e com ele o Parlamento Regional. Por causa de uma incapacidade estrutural de governação em sistemas apoiados em coligações conjunturais. Agora cai o Governo Regional da Madeira e muito provavelmente cairá o Parlamento Regional da Madeira. Por causa de suspeitas de corrupção.

Três governos que caem praticamente ao mesmo tempo. Dois deles caem pela mesma razão: suspeitas de corrupção – o pecado capital de um político. No país dos brandos costumes, em que a cunha só é nociva quando são os outros a pedir aos outros, a corrupção está a marcar de uma maneira absoluta e radical um momento político que pode ser determinante para o futuro.

Os últimos meses têm sugerido que a corrupção em Portugal é transversal – nas autarquias locais (com os casos de Estarreja, de Sines, de Caminha…), nos governos regionais, no Governo e até na Presidência da República, por eleitos de qualquer partido –. Cientificamente diz-se não ser possível aferir se há muita ou pouca corrupção. Só é possível medir a perceção da corrupção… E as noticias têm dado demonstrações fortíssimas de que a perceção vai escalar.

Quem ganha com tudo isto? Quem pode tirar vantagem em haver eleições para praticamente todos os órgãos políticos, ao mesmo tempo, e sob a nuvem da corrupção? Precisamente as forças politicas que não têm eleitos em lugares executivos. Não tendo poder executivo não são corruptíveis, logo podem advogar toda a seriedade. Podem ganhar, ainda, as forças políticas que tendo uma primeira eleição com bom resultado possam cavalgar a onda de vitória para as eleições seguintes, por contágio.

Tudo o que poderia acontecer para fazer implodir a Democracia – em qualquer órgão no país – está a acontecer. Tudo o que poderia dar-se para ensombrar e assombrar a comemoração de 50 anos do 25 de Abril está a edificar-se.

Não vejo com calma, nem com serenidade, tudo o que está a acontecer. Temo que continuem a revelar-se novos casos de corrupção – nomeadamente nas Câmaras Municipais e nas freguesias –, que daqui a 21 meses vão a votos, e a ficarem cada vez mais livres os caminhos daqueles que acham que os políticos são todos iguais, são todos maus e são todos corruptos. Parece-me inevitável que aconteçam denuncias, acusações e muitas suspeitas sobre os presidentes de Câmara. Os senhores presidentes de Câmara que se “ponham a pau” e que tenham muito juizinho: São os senhores que se seguem. E isso pode ser a gota de água. Sim, ainda pode piorar!

Nuno Castela Canilho