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"Mentirinha não faz mal a ninguém "


Categorias: Opinião quinta, 21 março 2024

A 17 de Janeiros do ano de 2009, num sábado frio, pelas 21H35, ouvia na minha salinha, onde normalmente passo o serão, o canal: " Memória", da RTP.

Entrevistavam o Maestro João Nobre, que sorridente contou, entre outros, que trabalhara na extinta "Emissora Nacional", quando o responsável era o Capitão Henrique Galvão.

Por certo os leitores da minha geração, estão recordados do assalto ao paquete Santa Maria, por razões políticas, comandado pelo Henrique Galvão.

Na época o Capitão era oposicionista ao Estado Novo, mas durante anos foi acérrimo defensor do regime salazarista. - Além de deputado, ocupava altos cargos, entre eles dirigente da E.N., que era, como se sabe, o órgão que expressava e defendia o regime.

Henrique Galvão, participou na Revolução de 28 de maio e foi também encarregado de organizar a grandiosa: " Exposição Colonial do Porto".

Durante os seis anos que o Capitão foi responsável pela emissora do Estado, trabalhou, nesse tempo, como pianista, o nosso Maestro João Nobre.

A emissora mantinha, nessa época, programa ao vivo, onde participavam artistas de várias nacionalidades. Entre eles destacava-se pianista inglês, que interpretava magistralmente música portuguesa, que alcançou grande sucesso. O músico era nem mais nem menos o nosso João Nobre.

O dinheiro não abundava, Salazar, preocupadíssimo com as finanças da nação, não abria a bolsa para se realizar dispendiosos programas.

Recorde-se que nesse remoto tempo não havia: " Cassetes", "Fitas" e muito menos "CDs". Contratar artistas internacionais era, então, impossível, por falta de verba.

Henrique Galvão resolveu o problema: apresentava portugueses com nomes estrangeiros e, os ouvintes confiavam e acreditavam...piamente.

 Era mentirinha, engano tão perfeito que houve ouvintes que procuravam as músicas do excecional intérprete inglês, em casas da especialidade...

Tudo isto foi dito, revelado pelo Maestro João Nobre, em noite fria de janeiro, no início do século, numa amena cavaqueira televisiva.