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"Boa Páscoa!"


tags: Mealhada, Páscoa Categorias: Opinião quarta, 27 março 2024

Na noite do próximo sábado, antes do domingo de Páscoa, os cristãos, em todo mundo, proclamarão este anúncio, antigo e sempre novo: Cristo ressuscitou! O eco deste acontecimento, que partiu de Jerusalém há vinte séculos, continua a ressoar na Igreja e na humanidade, mesmo que pareça abafado por tantos ruídos. Este anúncio carrega, em si, a fé vibrante de Maria, a Mãe de Jesus, a fé de Madalena e das primeiras mulheres que viram o sepulcro vazio, a fé de Pedro e dos outros Apóstolos, e de milhões de homens e mulheres ao longo da história.

Até hoje – mesmo nesta nossa era de comunicações super-tecnológicas – a fé dos cristãos assenta neste anúncio, no testemunho daquelas mulheres e daqueles homens que viram, primeiro, a pedra removida e o túmulo vazio e, depois, os misteriosos mensageiros que atestavam que Jesus, o Crucificado, ressuscitara; em seguida, o Senhor, em pessoa, vivo e palpável, apareceu a Maria de Magdala, aos dois discípulos de Emaús e, finalmente, aos onze, reunidos no Cenáculo, como nos narra a Bíblia.

A ressurreição de Cristo não é fruto de uma especulação, de uma experiência mística: é um acontecimento, que ultrapassa certamente a história, mas verifica-se num momento concreto histórico e deixa nela uma marca indelével. A luz, que encandeou os guardas de sentinela ao sepulcro de Jesus, atravessou o tempo e o espaço. É uma luz diferente, divina, que fendeu as trevas da morte e trouxe ao mundo o esplendor de Deus, o esplendor da Verdade e do Bem, o esplendo do Seu Amor.

Tal como os raios do sol, na Primavera, fazem brotar e desabrochar os rebentos nos ramos das árvores, assim também a irradiação que dimana da Ressurreição de Cristo dá força e significado a cada esperança humana, a cada expectativa, desejo, projecto, sonho. Por isso, a humanidade inteira, se acolher este anúncio, pode alegrar-se. O Aleluia pascal, que ressoa na Igreja, presente no mundo, exprime a exultação silenciosa e, sobretudo, o anseio de cada coração humano aberto sincera e livremente a Deus, mais ainda, agradecido pela Sua infinita bondade, beleza, verdade e Amor. Na celebração pascal, na noite do próximo sábado, dir-se-á: Na vossa ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra. A este convite ao louvor, que se eleva do coração da Igreja, os «céus» respondem plenamente. No Céu, atesta-nos a fé cristã, tudo é paz e alegria. Mas, infelizmente, não é assim sobre a terra!

Aqui, neste nosso mundo, o Aleluia pascal contrasta muito com os lamentos e gritos chocantes que provêm de tantas situações dolorosas: a miséria, a fome, as doenças, as guerras, as violências, a corrupção, as mentiras da vida e as vidas de mentira! Mas foi por isto mesmo que Cristo morreu e ressuscitou! Ele morreu também por causa do mal que, hoje, desgraçadamente praticamos e, também, para libertar, hoje, as nossas vidas e a história desse mesmo mal, Ele ressuscitou. Por isso, nesta crónica diferente, quero dirigir-me a todos e, com profunda convicção, fazer um anúncio de esperança, sobretudo aos que estão a sofrer uma hora de maior dor, para que Cristo Ressuscitado lhes abra o caminho da liberdade, da justiça, da paz e do Amor.

Que o fulgor de Cristo chegue também àqueles que sofrem para que a luz da paz e da dignidade vença as trevas da divisão, do ódio e das violências, tantas vezes, no seio familiar. Que a violência, seja ela de que género for, ceda o lugar ao diálogo e à harmonia. Que todos – de modo particular os jovens – se esforcem por promover o bem-comum e construir uma sociedade, onde a pobreza seja vencida e cada decisão, também política, seja sempre inspirada pelo respeito a cada pessoa, apesar da sua diferença. A tantos que, por várias razões, foram forçados a deixar os afectos dos seus entes mais queridos e as suas casas, para integrarem uma instituição, em especial os idosos, chegue a presença e solidariedade de todos; as pessoas de boa vontade sintam-se inspiradas a abrir o coração ao acolhimento, para que se torne possível acudir às necessidades prementes de tantos irmãos.

Termino, na certeza de que Cristo ressuscitado caminha à nossa frente para a construção de uma humanidade nova, onde possamos viver todos como uma única família. Ele está e estará connosco até ao fim. Sigamo-Lo, neste mundo ferido, cantando o Aleluia. No nosso coração, há alegria e sofrimento; na nossa face, sorrisos e lágrimas. A nossa realidade humana é assim! Mas Cristo ressuscitou, está vivo e caminha connosco. Por isso, cantamos e caminhamos, fiéis ao nosso compromisso neste mundo, na certeza que o Amor vence a morte e tudo o que nos «mata»! Boa Páscoa a todos!