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Opúsculo analisa 50 anos do Poder Local


tags: Mealhada, 25 de Abril Categorias: Região quarta, 24 abril 2024

Aos 83 anos, Nuno Salgado, residente na Mealhada, mantem as memórias vivas de uma vida passada nos tribunais onde exerceu funções juiz de direito em várias comarcas do país, trabalhou diretamente com a PIDE e tratou de casos que afirma “terem sido de grande complexidade”.

Gosta de escrever e investigar sobre os temas que lhe suscitam curiosidade, daí ter escrito o opúsculo intitulado “50 Anos do Poder Local em Portugal: Município de Mealhada -sua criação, reforma e integração futura”, que será apresentado hoje, dia 24 de abril, pelas 16 horas, na Biblioteca Municipal da Mealhada.

Como surgiu a ideia para escrever acerca deste tema?

Escrevo várias crónicas sobre várias matérias, passo assim o meu tempo. Todas as semanas publico uma, um dos temas que me despertou atenção foram os 50 anos do 25 de Abril. Selecionei, o que eu considero os aspetos positivos da revolução. Entre as diversas coisas que pesquisei, algo que me chamou a atenção foi a constituição do Poder Local Democrático, constituído pelos municípios e pelas freguesias e daí deste opúsculo.

Quando decidiu escrever este opúsculo quais foram os principais objetivos?

Em primeiro lugar comemorar os 50 anos desta data histórica, de seguida fazer uma análise das alterações do Poder local com a revolução do 25 de Abril. Vejamos, na época do Estado Novo as necessidades dos concelhos eram satisfeitas pela Administração Central, não havia autarquias locais, os presidentes da câmara não eram eleitos, eram nomeados pelo governo salazarista, portanto após o 25 de Abril tudo isto se alterou.

Outro grande objetivo que não poderia deixar de abordar no meu opúsculo, sendo também uma homenagem, é o papel da Mulher na sociedade antes e pós 25 de Abril. Durante a ditadura a Mulher era uma escrava, a luta que travaram pelos direitos que têm hoje em dia é algo notável.

Onde estava no dia da Revolução?

Sabia que tinha havido uma revolução, mas não sabia bem se era de esquerda ou direita. Ia a pé para o trabalho e lembro-me que parou um jipe ao pé de mim, era um agente da PIDE, talvez dos mais severos que conheci, e falou-me da Revolução, disse-me que se ia entregar. Sei que foi para a prisão do Porto e passados poucos dias morreu.

O 25 de Abril ficou conhecido como Revolução dos Cravos ou Revolução sem Sangue, concorda?

Não, nesse dia a PIDE matou quatro jovens manifestantes portugueses entre os 17 e os 37 anos.

Quando percebeu a profundidade e a importância do que tinha acontecido na noite de 24 para 25 de Abril, o que sentiu?

Fiquei muito satisfeito, um dos bens essenciais foi a aquisição da Liberdade, que já tínhamos perdido com a Constituição de 1933.