Grupo de Gaiteiros "Os Katembas" celebram 20 anos
A troco de uma bicicleta prometida pelo seu avô paterno, Rodrigo Leston foi para a Filarmónica da Pampilhosa aprender a tocar Requinta com 8 anos. O gosto e a curiosidade pela música cresceram o que o levou a apender mais instrumentos musicais. Mais tarde, formou um grupo de gaiteiros que dão pelo nome Os Katembas, que celebram 20 anos. Em entrevista ao Jornal da Mealhada, Rodrigo Leston, criador do grupo, conta, de uma forma geral, como foram os 20 anos dos Katembas, um grupo de gaiteiros bairradino que tem animado toda a zona centro com as suas músicas alegres e divertidas.
Antes de mais, conseguiu a sua bicicleta?
Sim, (risos)! Tudo o que o meu avô prometia, cumpria! Era assim com todos os netos.
Até que idade esteve na Filarmónica da Pampilhosa?
Mantive-me lá até aos 18 anos. Contudo, sempre tive curiosidade em aprender percussão, nomeadamente bateria. Curiosamente houve uma fase em que o baterista da filarmónica saiu e eu aproveitei para aprender a tocar este instrumento. Nesta fase eu estava a um passo de formar os Gaiteiros, porque aprendi a tocar bateria, dava uns toques na caixa, e os Gaiteiros são compostos por Gaita de Foles e dois elementos da percussão: a caixa e o bombo.
Então e com quem aprendeu a tocar Gaita de Foles?
Havia um grupo de Gaiteiros, os farristas de Larçã, na minha aldeia, em Larçã, perto da Pampilhosa, que me convidavam a participar em festas durante a semana e aí tocar caixa. Nesta altura meu gosto foi crescendo ainda mais. Com o passar do tempo foi-me proposto aprender a tocar Gaita de Foles por um dos elementos dos Farristas. O objetivo era que eu aprendesse a tocar para ele descansar um pouco. De repente dei por mim a tocar caixa e Gaita de Foles.
É cansativo tocar Gaita de Foles?
Não é propriamente fácil. O som da Gaita de Foles tem de se ouvir ao longe. No caso das filarmónicas existe uma harmonia maior vinda de um misto de instrumentos, já no caso dos gaiteiros, como somos só três elementos, o som da Gaita de Foles tem de se fazer ouvir, caso contrário o som é abafado pelo bombo e pela caixa, desta forma tem de se “puxar pelos pulmões” para garantir o som.
Já sabia tocar caixa e já estava a aprender a tocar Gaita de Foles, foi aí, em 2004, que surgiu a ideia de criar o seu próprio grupo de gaiteiros?
Sim, eu queria ter o meu próprio grupo de gaiteiros. Há 20 anos atrás havia poucos grupos de gaiteiros, hoje em dia já há muitos. Convidei dois amigos que faziam parte da Filarmónica da Pampilhosa, o Daniel Vieira, para a caixa, que é atualmente o maestro desta banda, e o Luís Almeida para o bombo.
Qual o motivo deste nome, os Katembas?
Pensamos em vários nomes, na altura até o meu avô sugeriu alguns, mas nenhum servia (risos). Depois de muito pensar, sugeri o nome: Katembas! No bar da Filarmónica serviam uma bebida que consistia numa mistura de vinho tinto com coca-cola, que nós gostávamos e daí o nosso nome.
Como foi o início dos Katembas?
Sinceramente, quando começamos não tocávamos bem. Íamos para as aldeias tocar, mesmo com pouca experiência, as pessoas começaram a conhecer-nos e a gostar de nós. Hoje em dia tocamos muito bem e por onde passamos ninguém fica indiferente à nossa música
Já passaram vários elementos pelos Katembas?
Sim, talvez 20 pessoas, por vários motivos, sejam pessoais ou profissionais, vão saindo e tenho de arranjar novos elementos. Sou o único resiliente que me mantenho há 20 anos a animar as pessoas.
Neste momento quem são as pessoas que estão consigo e há quanto tempo?
São: o José Raimundo, na caixa, e o José Albuquerque, no bombo. Já estão comigo há cerca de 6 anos. Ambos já tocavam com os familiares, ma após o falecimento destes eles ficaram parados. Então convidei-os a integrar os Katembas.
O vosso grupo de gaiteiros interpreta músicas ou tem músicas próprias?
Interpretamos músicas. Mas tocamos vários tipos de músicas como balsas, corridinhas e até marchas, cada uma com o seu próprio ritmo. Portanto, nós adaptamos o tipo de músicas à situação em que estamos, ou seja, temos um reportório completamente eclético.
Que músicas prefere ou gosta de tocar?
Um pouco de tudo, mas confesso que gosto de interpretar Xutos e Pontapés.
Sendo assim, podem participar em vários tipos de eventos?
Sim. Já participamos em, arruadas de festas populares, concentrações motares, casamentos, procissões, aniversários, festas infantis, estranhamente já fomos tocar ao funeral de um gaiteiro, nesse caso aprendi a tocar músicas para a cerimónia.
Já percorreram várias regiões do país?
A tradição dos gaiteiros é mais sentida aqui na zona centro. Cada zona do país tem as suas tradições, por exemplo na zona Norte é mais comum tocarem os grupos de bombos.
O que mais gosta durante uma arruada?
Essencialmente o contacto humano! Numa banda filarmónica ou num grupo de bombos o tocam e fazem a sua arruada sem estar em contacto com a população, o nosso caso é completamente diferente. Somos apenas três elementos o que leva a que as pessoas nos ofereçam comida e bebida e muitas vezes convidam-nos a entrar às suas casas. Aliás, uma das funções que temos é recolher os donativos que a população dá para a festa, desta forma as pessoas aproximam-se de nós para nos dar o dinheiro e acabamos por interagir. Por isto, é que nós levamos o dia todo em arruadas, no fundo levamos energia positiva e alegria às pessoas.
Têm muitas atuações?
Sim, fazemos cerca de 100 atuações por ano, aliás em algumas situações já ficamos contratados para a festa do ano seguinte. Sem dúvida que a época mais forte é o verão.
Já foram atuar ao estrangeiro?
Ainda não. Tenho convites, mas ainda não aceitei. Neste momento tenho um convite para os Katembas irem ao Canadá numa festa de portugueses para o próximo ano, contudo ainda estou em conversações para tomar a decisão.
O que estão a fazer para celebrar os 20 anos dos Katembas?
Fizemos um documentário para o Cineclube da Bairrada que retrata os 20 anos do Katembas que ainda não saiu. Para celebrar mandamos fazer uma indumentária própria para oferecer a adultos e crianças, onde se destaca o nosso nome e o nosso aniversário. Tudo isto me enche de orgulho porque quando criei o grupo não imaginava que algum dia celebraria 20 anos.
O que mais o marcou ao longo destes 20 anos?
Ir atuar à RTP em direto, mais especificamente ao programa “Aqui Portugal”, quando estiveram em Sangalhos, Anadia, em 2021, em plena época do Covid. O apresentador, Hélder Reis, entrevistou-me e fiquei muito feliz com esta apresentação na televisão, a nível da comunicação social, não posso deixar de referir que já tocamos para a Rádio Pampilhosa. Outro momento que não esqueço, foi a participação d’ Os Katembas no Wid Festival, em Anadia, a 28 de julho, no âmbito das celebrações das Jornadas Mundiais da Juventude em que todo o espetáculo ficou registado em DVD.
Tendo em conta que na época do Covid muitas das festas foram canceladas, como é que os Katembas ultrapassaram essa fase?
Nós tocamos na rua, deste forma, nunca paramos. Foi uma época que me marcou muito, as pessoas vinham às janelas para nos ver e batiam palmas. Numa altura em que ninguém podia sair de casa, nós conseguíamos levar sorrisos às pessoas.
Já pensaram em incluir mais alguém no vosso grupo?
Somos um trio. Por vezes há um amigo nosso que se junta a nós para tocar concertina e fazemos uma harmonização de som. Mas vamos continuar a ser três, porque no meu ponto de vista um grupo de gaiteiros é apenas constituído por três instrumentos: gaita de foles, caixa e bombo.
Rodrigo tem uma agenda muito preenchida. Como concilia os Katembas com a parte profissional e familiar?
Não é fácil. Tenho uma papelaria para gerir, mas felizmente tenho uma funcionária que compreende que a minha agenda é difícil. Tenho muita força de vontade, cada vez que vejo o nosso grupo num cartaz para mim é uma enorme felicidade. No que diz respeito à família tenho uma esposa e um filho com 8 anos e sempre que posso estou presente. No final de cada dia estou presente para brincar com o meu filho e a minha esposa, por vezes, leva-o a algumas das minhas atuações. Para ter mais tempo com a família deixei de ir a encontros de gaiteiros, porque se realizavam aos fins de semana.
Os encontros de gaiteiros foram importantes de alguma maneira?
Sim, muito! Participei em inúmeros encontros de gaiteiros que me ajudaram a crescer bastante como instrumentista. Tive oportunidade de conhecer outros músicos, bem como a música deles. Depois de ter participado em alguns criei estes eventos, nomeadamente em Luso e na Pampilhosa, sempre com apoios das juntas de freguesia.
Como vê o futuro dos Katembas?
Num futuro próximo penso que os Katembas se vão manter com muitas atuações, contudo confesso que tenho algum receio do que o futuro longínquo nos possa reservar. Portanto, verifico que em certas regiões já há dificuldades em arranjar pessoas que façam parte da Comissão de Festas, ou seja, já há algum desinteresse em dar continuidade ás tradições. Para além disto, o acesso digital a todas as músicas também me faz ter algum receio, porque de uma forma muito fácil se colocam colunas a transmitir música e, deste modo, não contratam grupos como o nosso. Note-se que o contacto humano é importante e facilmente se poderá perder, isso preocupa-me.
Porque é que usa um lenço apertado na perna nas atuações?
Gosto imenso da música dos Xutos e Pontapés e de certa forma é uma homenagem ao Zé Pedro. Uso em todas as minhas atuações o lenço na perna e uma boina, são adereços com os quais me identifico.