O inverno, este ano, está de eriçar os pelos de um cão. O vento sopra desabrido, cego, esbarrando em todas as esquinas. No seu turbilhão de fúria, traz de arrasto, as folhas moribundas, que teimam em não se entregar, nunca desistindo de viver.
Connosco acontece a mesma coisa, quantas foram as vezes que fomos arrastados pelo turbilhão de ventos desfavoráveis, mas sempre nos agarrámos, com unhas e dentes, ao bem mais precioso que podemos ter, a vida.
E acreditem, que o nosso melhor amigo, nesses momentos, fomos nós próprios. Porque, quer queiramos, ou não, o nosso melhor amigo, somos nós mesmos. Somos nós, que nos acompanhamos sempre, nos bons e maus momentos até que a nossa estrela se apague.
A sorte que eu tinha, enquanto garoto, ao sentar-me no rebate da porta, noites e noites seguidas, é verdade, indiferente ao frio, para admirar as estrelas, lá no infindável e alto céu. Nunca me cansei de as ver!
Quantos meninos na grande cidade, têm a oportunidade de desfrutar do brilhar das estrelas como eu? O que eles perdem!... Dizia eu para os meus botões.
Pelo menos, uma única vez, apaguem as luzes da cidade e deixem que eles se extasiem, com tamanho milagre da mãe natureza.
Metia-me espécie, como é que aquelas lindas estrelas, aconchegadinhas umas nas outras, todas as noites, lá estavam, precisamente, no mesmo sítio. Por vezes, parecia-me que tremelicavam. Seria do frio? Pensava! E quem é que as leva para lá? E quem é que as apaga, quando a manhã ainda espreita por detrás da serra?
Talvez seja uma mão poderosa, ou então uma fada, ou quem sabe, os anjos, que se diz estarem no céu, que as coloquem nos lugares, destinados previamente, e um sopro de um dragão as acenda e o vento as apague.
Nunca, por nunca ser, me atrevi a perguntar a um velhinho querido, do qual eu desconfiava que, de certezinha, me saberia tirar todas estas minhas dúvidas.
Mais tarde, quando deixei de usar calções, fui compreendendo as leis do universo, o mundo, e vim a saber que chegam e até sobram, quando um dia forem distribuídas, em igualdade, por toda a humanidade.
Então, escolhi uma delas, a "Estrela da manhã" ou "Estrela do pastor", porque tenho a certeza que Ela tem na sua companhia, aqueles que fizeram de mim o homem que sou hoje e me deram sempre o que de melhor tinham: o seu amor e o seu carinho.