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Diária

Luso- Bussaco


tags: Ferraz da Silva, Ferraz da Silva Categorias: Opinião terça, 06 agosto 2024

 Quando falamos do Luso-Bussaco falamos duma realidade secular vinda dos anais do velho concelho da Vacariça e do misterioso Convento Bubulense não encontrado ainda em termos de ruínas que identifiquem a sua localização, mas claramente referido em escritos coevos. O território que era então pertença da igreja cristã e depois do dito concelho, pertenceu ao poder conimbricense, quer pela via religiosa, os bispos, quer pela via administrativa, o Governo Civil e pela Universidade que o moldaram a seu gosto e saber em paralelo com a mística dos tempos.  Regra geral, a transferência de poderes de 1834 levou em linha de conta o poder anterior, isto é, a nova administração coincidiu com a velha divisão religiosa, o que, por razões ainda desconhecidas, não aconteceu no caso do concelho da Vacariça, primeiramente integrado em Anadia, depois no concelho da Mealhada criado para o efeito. Claro que razões pessoais do contexto monárquico em que se vivia então terão resultado neste afastamento da Vacariça que a própria autarquia assimilou   com o acordo do seu mais representativo político, se assim se pode dizer, na altura. O lugar da Mealhada era de pouca ou nenhuma importância e reconhecido por Mealhada Má, com as ilações que cada um daí possa tirar…O Luso Bussaco, freguesia da Vacariça, foi integrado no movimento comum e como tal no distrito de Aveiro que veio a herdar os poderes anteriores.

   Esta redistribuição administrativa do território operada em 1834 e o encerramento do Convento do Bussaco com a saída dos frades, contribuíram para o enfraquecimento e abandono do poder vindo de Coimbra sobre o território , cuja organização caiu de mão beijada num novo poder politico novo, um  concelho  que partiu do conhecimento zero, sem tradição, sem costumes, sem organização , dentro de uma população agrícola longe da literacia da igreja e dos frades buçaquinos e a partir  de então a freguesia do Luso, por estes e outros factos, declinou em conjunto com  a Vacariça, cessando assim um conjunto de regras, conhecimentos e cultura vinda dos tempos anteriores, de séculos atrás.

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   Hoje é notória uma política camarária que faz tudo por desligar o Luso-Bussaco do progresso, pretendendo alterar o que não é alterável e dedicando à freguesia , sobretudo em termos turísticos e termais, um  grande desinteresse e abandono por falta de investimentos, concretamente casos como falta de  estacionamento, uma entrada digna no parque de campismo, de uma animação aquática no lago, da recuperação do triste exemplo que é a Miralinda,  e da Avenida do Castanheiro, o estudo e implantação de um funicular da Quinta do Alberto, Pinhal do Marquês, Portas de Coimbra, Cruz Alta, facto que não é um sonho mas esteve e está ao alcance de um PPR que a autarquia esquece, a reconstrução do Cine Teatro , a  criação dum museu da hotelaria numa das muitas unidades abandonadas, um  apoio e incentivo ao investimento nas áreas do turismo e da saúde , já que a autarquia deixou ir água abaixo o primitivo SPA prometido de uma forma cega e irresponsável. Um estudo capaz de encontrar soluções para os numerosos chalés existentes, cuja arquitetura marca  época própria e que tem todas as hipóteses de ser recuperada e ajustada a novas realidades, seria uma boa medida na tentativa de reanimar um valor que vai caindo perante o enorme silêncio de elencos municipais   que orçamentam milhões para a “cidade” e deixam  a maior parte do território, sobretudo onde as potencialidades existem, ao abandono quer por falta de vontade politica, quer por incapacidade critica e financeira para gerir um património sui generis que necessita de acompanhamento próprio e especializado na atividade respetiva.

Quem sabe o que foi o Luso, sabe o que o Luso pode ser, infelizmente os autarcas não o sabem, uns por falta de competência, outros , convencidos que a Mata do Buçaco  é o único ponto de referência para satisfazer clientelas partidárias e promover a sede do concelho que, em termos turísticos, não tem qualquer ponta  por onde se possa pegar, ignorando que o  progresso do território, neste capitulo, nunca deixará de passar pelo recurso Luso-Bussaco, que feliz ou infelizmente não tem rodas para se mudar.

Li no ultimo número deste jornal, que a freguesia de Barcouço vai rejubilar quando a Mata Nacional do Bussaco arder, uma abjeta opinião de qualquer celerado mental, embora a falta de cuidado e o estado em que está a área respetiva corra esse risco, trata-se duma opinião não só anti território como anti nacional que só a pura insensatez pode transmitir.

   O Luso Bussaco, enquanto órgão administrativo, foi obra do Bispado de Coimbra, do Governo Civil de Coimbra, da Universidade de Coimbra e finalmente da Sociedade da Água de Luso e da Comissão Administrativa da Freguesia. As Termas, essas foram criadas, incentivadas e iniciadas pelo ilustre mealhadense Costa Simões e mais tarde continuada pelo estadista e ministro Emidio Navarro. Ambos tem a sua efigie na principal avenida do lugar. Devemos acrescentar Messias Batista, um investidor competente enquanto administrador da citada sociedade.

Pertencente hoje ao distrito de Aveiro, o Luso-Bussaco pouco ou nada lhe deve, talvez pela distância e mesmo a câmara da Mealhada raramente ultrapassou os limites administrativos comuns nesta matéria, pois como já referi quer a Mata Nacional, quer a freguesia do Luso são obra praticamente exclusiva do distrito de Coimbra.

Triste? É verdade que sim, mas trata-se da pura realidade. O Luso-Bussaco não precisa de pseudopolíticos, mas sim de quem conheça os meandros do turismo dos nossos dias e saiba idealizar e criar condições para atrair investimento reprodutivo, coisas que a uma autarquia câmara de cariz paroquial não tem sabido fazer. O Luso-Bussaco nada teria a perder, mas tudo a ganhar, se administrativamente voltasse ao velho distrito de Coimbra, o distrito que lhe deu vida, o viveu e construir e o manteve em atividade permanente durante séculos. De resto, a meia dúzia de quilómetros de distância da Fonte de S. João, estamos no distrito de Coimbra, enquanto Aveiro nos fica, na melhor das hipóteses, quase a cinquenta.

Incongruências de um país sem rei nem roque, como se diz na gíria…