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Paulo Candeias: uma vida de superação e resiliência


tags: Música, Música Categorias: Região quinta, 12 setembro 2024

A música fez sempre parte da vida de Paulo Candeias, de certa forma, para ele é uma terapia que ajuda a libertar a dor que insiste em marcar os seus dias. Nunca desistiu dos seus sonhos apesar das adversidades que a vida lhe impos, desde criança que cantava para os familiares, teve duas bandas musicais e em junho lançou o primeiro single do novo álbum que se chama «Indiferente». Em entrevista, Paulo Candeias aborda como superou algumas das duras adversidades da vida com a ajuda da música.

Que ligação tem a Pedras Ásperas, em Cantanhede?

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A ligação que tenho a Pedras Ásperas, em Cantanhede, é familiar, da parte materna. Eu nasci na em Alhos Vedros, mas fui batizado na Sanguinheira, que é uma terra do Concelho de Cantanhede. Assim sendo, vivi a minha infância entre Alhos Vedros e as Pedras Ásperas. Passava lá as férias todas de verão, do natal e da Páscoa, com a minha mãe.

Portanto, posso dizer que também fui criado nesta zona gandaresa, em Pedras Ásperas, onde o meu avô era cesteiro de profissão. Ou seja, fazia cestos para toda a gente, na lavoura.

Guardo muitas saudades dos meus avós, e essas recordações da minha infância são todas desta zona. Passei lá tempos muito agradáveis e memoráveis, e fiz muitas amizades que ainda hoje permanecem.

Com que idade começou a tocar em bandas?

A minha primeira banda surgiu em 1993, nessa altura tinha somente 17 anos. Era constituída por três elementos, e tinha o nome RAIO X. As músicas eram originais, e cantadas sempre em Português, no estilo pop rock. Em boa verdade, foi aí que comecei a dar os primeiros passos como compositor.

 

Com que idade aprendeu a tocar guitarra?

Aprendi a tocar guitarra aos 18 anos. Quando a banda RAIO X chegou ao fim, senti necessidade de aprendizagem, porque queria continuar a fazer música. Na altura, com 18 anos, queria dar continuidade àquela que foi sempre a minha paixão, a música.

Teve uma banda com o nome Pedras Ásperas, foi uma dedicatória à aldeia?

No fundo sim, porque tenho muito carinho por esta aldeia e pelas pessoas que lá moram. Além disso, o nome soava-me bem, então sugeri o nome à banda, e eles concordaram.

Tinha influência musical na família?

Sim. Segundo os meus familiares, pois eu já não conheci o meu bisavô, ele também tinha ligações à música. Segundo contam, compunha versos e tinha conhecimentos musicais, e até lidou com alguns nomes da música nacional.

Como foi a trajetória musical durante a juventude?

Eu penso que o gosto pela música já nasceu comigo, porque, ainda muito pequenino, estava sempre a cantarolar. Depois, mais crescido, fui reunindo pessoas com a mesma ambição. Justamente, foi aí que criei a banda RAIO X, aos 17 anos, que depois se desfez, e aos 20 anos nasceu a banda Pedras Ásperas. Infelizmente, mais tarde, por incompatibilidade dos membros da banda, também se desfez.

Como é que se sentia em cima do palco?

Em cima de um palco sentia-me realizado por poder estar a fazer o que mais gosto com a participação do público é simplesmente maravilhoso. Sentia-me ao rubro. Gosto muito da sensação de ter o público a ouvir o resultado do meu trabalho musical, e de transmitir boa música. É um sonho realizado, é assim que me sinto num palco.

Porque é que enveredou pela “arte de cortador de carne”?

Infelizmente, as oportunidades de vingar na música não eram muito grandes, e eu precisei de aprender uma profissão. Na altura, esta foi a que me interessou. Surgiu uma oportunidade, e era uma mais valia aprender uma profissão.

De qualquer forma, a música esteve sempre presente na sua vida?

Sim, desde de sempre! A música esteve sempre presente desde que comecei a dar os meus primeiros passos. Sempre gostei de ouvir toda a variedade de música. Entre outros artistas, sou fã de Elvis, Rod Stewart, Rui Veloso, Jorge Palma… Sonhava chegar ao patamar destes grandiosos senhores, e agora retomei o meu caminho musical.

 

Recebeu o diagnóstico de doença de Parkinson, ainda muito jovem, com 44 anos. Como enfrentou esta notícia?

No início, é sempre um choque descobrir que temos uma doença que nos vai impossibilitado de fazer as nossas tarefas diárias normais sem a ajuda de medicação. A notícia foi difícil para mim e para a minha família, porque o Parkinson é uma doença que limita e é degenerativa. Ou seja, vai piorando à medida que os anos passam, e isso assusta um pouco. No entanto, com o apoio do meu médico e a minha força para seguir em frente e nunca desistir, é mais fácil de aceitar.

O que faz diariamente para contrariar a doença?

Para contrariar a minha doença, a melhor forma que arranjei foi continuar a trabalhar mesmo com as minhas limitações. No dia a dia, faço caminhadas e alguns exercícios físicos para melhor mobilidade.

Em regra, tento não me lembrar que tenho a doença, e faço a minha vida normal. Acordo todos os dias cedo para ir trabalhar, e tomo sempre a medicação receitada pelo médico que me segue, porque o Parkinson, por incrível que pareça, requer movimentação para não agravar. Nesse sentido, a minha profissão é uma mais valia, e estar ativo é muito importante, assim como o exercício físico para a contrariar.

Tem enfrentado provas duras na sua vida. A música é uma forma de alguma maneira atenuar a dor?

Sim, sem dúvida, a música é a minha terapia, de algum modo. No entanto, a dor que a vida infelizmente me deu não passa. A perda de uma filha é uma ferida sempre aberta, e não há palavras que descrevam o tamanho desta dor. Contudo, eu diria que a música a atenua, porque me distrai desta dura realidade. Sim, a música é sem dúvida terapêutica.

Como surgiu a ideia para este novo projeto musical?

Mais do que uma ideia, é uma prova de superação e resiliência. Com efeito, o diagnóstico do Parkinson fez-me ter vontade de lutar por aquele que é o meu sonho. Ou seja, tornar-me um músico conceituado em Portugal, a cantar em Português. As ideias surgem-me com alguma facilidade, e a vontade faz o resto.

No fundo, este projeto surgiu para provar que, mesmo tendo Parkinson, sou capaz de lutar pelos meus objetivos. Porque o Parkinson não é o fim, mas sim uma forma de vida diferente.

Porque é que decidiu gravar um disco como cantautor neste momento da sua vida?

Antes de mais, para provar que nunca é tarde, e que nunca devemos desistir de alcançar os nossos sonhos e que, mesmo com algumas limitações, é possível. O diagnóstico de Parkinson trouxe-me uma vontade ainda maior de mostrar aos Portugueses, e ao público em geral, que somos capazes, mesmo com algumas limitações.

“Indiferente” é o nome do seu disco. Qual o motivo deste título?

Indiferente foi o nome escolhido para o single de estreia, porque traduz bem o tema desta música escolhida para lançar o meu trabalho. O título refere-se à história de um rapaz que ficou indiferente à recusa de uma rapariga para sair, depois de alguns anos de se conhecerem.

A estreia já aconteceu?

Sim, a divulgação do meu primeiro single, «Indiferente», teve início no passado dia 24 de junho, primeiramente nas plataformas digitais. De seguida, já estive num programa de televisão nacional (Casa Feliz, SIC), o single já está a passar nas rádios locais, e há novas oportunidades de divulgação que já estão na calha.

O seu single de estreia contou com Mikkeel Solnado para a produção, qual o motivo de ter escolhido este cantor?

O trabalho com o Mikkel Solnado surgiu através da Great Dane Studios, onde fui convidado a participar numa sessão de Artist Coaching. Decidi produzir na Great Dane Studios, com o Mikkel Solnado, porque já conhecia algum do seu trabalho, de que gosto pessoalmente, e pareceu-me uma boa aposta.

Como vê a vida hoje, lidando com a doença de Parkinson?

Vejo a vida da mesma forma que via antes do diagnóstico, com as mesmas alegrias e tristezas e objetivos.

O que diria às pessoas que enfrentam desafios semelhantes aos seus?

Para quem enfrenta os mesmos desafios diários que eu, diria para terem muita força, coragem, resiliência, e que tentem fazer a vida o mais normal possível. Sobretudo, não se sintam infelizes nem se inferiorizem. Em vez disso, continuem a sonhar, pois a vida é feita de desafios e nós temos de enfrentá-los, e seguir em frente.

Perante todas as experiências vividas, quer deixar alguma mensagem final que gostaria de deixar aos nossos leitores?

A mensagem que quero deixar a todos os leitores nunca desistam dos seus sonhos independentemente de todas as adversidades que a vida nos traz.

Eu sou cantor e compositor, amo a música, e recentemente fui diagnosticado com Parkinson. Sim, tem sido um desafio, mas vou continuar a sonhar, a querer fazer mais e melhor. Cada música que faço é um pedaço da minha força e da minha esperança, e espero que ouçam a minha música e lhe deem uma oportunidade. Acima de tudo, gostaria de ser uma fonte de inspiração para todas as pessoas que sofrem de doença crónica, e que a minha música chegue a todo o país.