De seu nome, Policarpo
Comprou um espelho barato
P’ra substituir seu retrato,
Tirado, quando rapaz
Há muitos anos atrás
“à lá minuta” em Sandim.
De tanto para ele olhar
Pois que o fazia pensar
Que ainda hoje era assim
Aconteceu:
A imagem esmoreceu!
Então…
Pôs o retrato de lado
Espreitou o espelho de frente
Mas logo, rilhou o dente
E soltou berro espantado.
Quem é este mal-amanhado
Barba branca e engelhado
Que está aqui espelhado?
Quem é este camafeu
Este judas, plebeu?
Juro, que não sou eu!
Te faço em mil pedaços
P’ro inferno, maldito espelho!
Por me trocares por um velho
Que há muito baixou os braços
E tem pé no cemitério.
Vai daí
O espelho, então respondeu:
Trocaste o Sol, por um espelho
Não és novo, mas nem velho
Apenas estás vivido.
Nada tens a lamentar
E a tua alma, não te enjeita
Por aprenderes, que por cá
A vida é para se semear
E que a sonhada colheita
Te espera noutro lugar.