Tinto, branco, rosé ou espumante? Os vinhos da Bairrada estão com mais qualidade
Desde o cultivo das vinhas até o momento em que o copo de vinho é servido, cada garrafa carrega consigo uma história única de terroir, tradição e paixão. Em entrevista, o Jornal da Mealhada falou com João Rama, proprietário da Adega Rama, com Mário Ferreira, enólogo da Casa de Sarmento e com João Figueiredo da Caves Messias, com o objetivo de perceber como foi a colheita de uvas tanto a nível quantitativo como qualitativo este ano. Todos referem que apesar de menos quantidade, face ao ano passado, a qualidade é muito superior. Com muito conhecimento e experiência na área, indicaram alguns dos desafios que o mundo vitivinícola atravessa.
Adega Rama - João Rama
Há quantos anos e dedicam à produção de vinhos?
Já há muitos anos. O meu bisavô era detentor das vinhas, o meu avô já fazia vinhos, mas a primeira vez que a marca Rama foi registada foi em 1997. Desde então foram sempre feitas colheitas que não eram sucessivas, porém não temos registo dos anos.
Como foi a colheita deste ano a nível qualitativo e quantitativo?
Em termos de quantidade foi menor que o ano passado. Genericamente, posso dizer que na maioria das castas houve uma perda de 15% a 20%, em contrapartida houve cerca de três castas que tivemos mais produção face ao ano anterior, foi o caso da Sauvignon, da Chardonnay e da Touriga Nacional.
Que fatores influenciam a qualidade do vinho?
São vários. As condições climatéricas são fundamentais, outro fator que influencia a qualidade do vinho é a prevenção das doenças que aparecem na vinha. Caso surjam a forma como são tratadas é também um fator importante no produto final. Após a colheita das uvas, o tratamento e o cuidado que é feito na adega são crucias.
O excesso de quantidade de uvas na videira não é benéfico. Se queremos fazer um vinho com uma qualidade muito superior e as videiras possuírem demasiados cachos terá de ser feita uma monda, isto é, cortar cachos em excesso na altura do pintor
Assim, atrevo-me a usar uma expressão muito utilizada por enólogos: ‘O segredo para fazer um grande vinho é imaginar uma escada alta com muitos degraus, em que os primeiros são grandes muito fáceis de subir, e os últimos degraus são pequenos e difíceis de subir’.
Em que tipo de barricas estagiam os vinhos?
Depende do tipo de vinho que vamos fazer. Existem vinhos que merecem barricas e outros não. Os vinhos de estilo moderno não precisam de barrica, existem outros que se fazem com aparas (madeira selecionada para aumentar o aroma e a estrutura do vinho). É preciso ter em conta o preço final do vinho. Portanto, uma barrica de 300 litros de vinho custa 1200 euros, não posso colocar em barrica um vinho de entrada de gama, iria encarecer o produto em 4 euros o litro, o que em garrafa estará a acrescentar 3 euros tendo em conta que ainda há a acrescentar rolha, garrafa, cápsula e caixas, o valor de venda seria alto. Portanto, mediante a qualidade do vinho aplicamos o método de estágio mais adequado. De qualquer forma, temos vinhos em estágio em barricas, em garrafas como é o caso dos espumantes e em inox.
Qual a quantidade de produção deste ano?
A nossa produção este ano foi de cerca de 103 toneladas.
Que variedades de vinho produzem?
Estamos a apostar cada vez mais em castas nacionais e em branco de uvas tintas, serve de base para espumantes já que tem vindo a aumentar a procura. A nível de espumantes e vinhos tranquilos temos o branco, o tinto e o rosé, o reserva tinto e branco e o espumante feito 100% com uvas tintas. Para além disso, temos os nossos vinhos topo de gama que têm três ou cinco anos de estágio em que podemos fazer a partir de castas de 100% Sauvignon, Touriga Nacional e Vaga, e muitas outras variedades.
Para que países exportam?
Atualmente para o Brasil, Estados Unidos, Canadá e Angola. Também já estamos a trabalhar, embora em menor escala, com a França. Estamos expectantes que durante o próximo ano entrar possamos entrar no mercado suíço e eventualmente no espanhol, sendo que este último temos a perfeita noção que será difícil já que eles têm muito vinho, mas a Suíça seria o ideal.
Em Portugal, que percentagem é consumida?
Cerca de 85% dos nossos vinhos é consumido cá em Portugal.
Que desafios enfrenta um produtor de vinho atualmente?
Na minha opinião a escassez de mão de obra e a diminuição do consumo de vinho são as mais alarmantes. As pessoas que trabalham nesta área são reformados, é um trabalho custoso e os jovens não se dedicam a esta área. Não falo só da vindima, mas de todo o trabalho que as vinhas requerem durante o ano inteiro. Já no que diz respeito à diminuição do consumo de vinho na Europa já está em queda já há cerca de 3 ou 4 anos, segundo as notícias que faço questão de acompanhar.
Adega Casa de Sarmento - Enólogo Mário Ferreira
Há quantos anos e dedicam à produção de vinhos?
Produzimos vinho há 30 anos.
Como foi a colheita deste ano a nível qualitativo e quantitativo?
A colheita deste ano em termos qualitativos muito boa, próximo da excelência, mas com quebra de produção.
Que fatores influenciam a qualidade do vinho?
Os principais fatores que influenciam a qualidade do vinho são vários. O clima desempenha um papel crucial na produção de um bom vinho, pois influencia diretamente o desenvolvimento das uvas, e por consequência a qualidade do vinho. Os solos mais ricos em minerais originam uvas de maior qualidade do que solos mais pobres. Para além destes fatores, o tipo de castas é muito importante na produção de vinho. Cada casta possui características diferenciadoras que influenciam o aroma, sabor e estrutura do vinho. A data de colheita é também um dos fatores decisivos para a qualidade do vinho, deve ser realizada no momento ideal para garantir que as uvas estejam no ponto certo de maturação.
Em que tipo de barricas estagiam os vinhos? De que maneira é que este processo influencia a qualidade e o sabor?
Fazemos o estágio do vinho em barricas de carvalho francês. O estágio em barricas de madeira de carvalho é uma prática tradicional na produção de vinhos de elevada qualidade, influenciando positivamente as suas características sensoriais e complexidade, desenvolvendo um perfil de sabor mais rico e equilibrado, tornando-o mais atraente para os consumidores.
Qual a quantidade de produção deste ano?
A produção deste ano chegou muito perto das 450 toneladas de uvas.
Que variedades de vinho produzem?
Produzimos vinhos tranquilos, frisantes e espumantes.
Em comparação com anos anteriores houve quebra. Porque?
Este ano houve uma quebra generalizada. Uma das causas principais foi o excesso de humidade e baixas temperaturas na época da floração que provocou o mau vingamento.
Para que países exportam?
Exportamos para o Brasil, Moçambique, EUA e mais recentemente Suécia e Cabo Verde.
Qual o país para onde exportam mais?
É para o Brasil.
Em Portugal, que percentagem é consumida?
Cerca de 85% da produção.
Que desafios enfrenta um produtor de vinho atualmente?
O produtor de uva e vinho enfrenta alguns desafios devido ao aumento dos custos de produção e aos efeitos das alterações climáticas. A diminuição gradual do consumo do vinho também é um dos graves problemas com que o produtor tem que se preocupar, principalmente no mercado tradicional.
Caves Messias – João Figueiredo
Há quantos anos se dedicam à produção de vinhos?
Dedicamo-nos à produção de vinhos desde 1926.
Como foi a colheita deste ano a nível qualitativo e quantitativo?
Excelentes expectativas. Uvas muito bem equilibradas entre todos os seus componentes constituintes.
Que fatores influenciam a qualidade do vinho?
Conjugação entre clima, solo, casta e porta enxerto, operações culturais e enológicas, tudo isto é importante na qualidade dos vinhos.
Em que tipo de barricas estagiam os vinhos?
Barricas de carvalho francês. Adicionando complexidade.
Qual a quantidade de produção deste ano?
Cerca de meio milhão de kilos de uvas.
Que variedades de vinho produzem?
Vinhos tranquilos e vinhos espumantes naturais.
Em comparação com anos anteriores houve quebra. Porque?
Sim, nas variedades brancas, as tintas mantiveram-se. O clima que pressionou vingamento das uvas após floração e exerceu alguma pressão criptogâmica.
Para que países exportam?
A Messias exporta para cerca de 40 países, espalhados por todos os continentes.
Qual o país para onde exportam mais?
Exportamos mais para a Alemanha.
Em Portugal, que percentagem é consumida?
Entre 35% a 40% da faturação.
Que desafios enfrenta um produtor de vinho atualmente?
O principal desafio passa por conseguir diferenciar-se num mercado lotado.