No reino da mediocridade… impera a inveja e a vanglória!
Por estes dias, em várias conversas, tenho ouvido falar muito que a inveja anda aguçada, na vida e no coração, de muita gente. Aliás, ela é usada, no dia-a-dia, em várias instâncias e contextos. O que importa é criticar, dizer mal, pôr em causa, destruir, simplesmente porque se quer reinar. No fundo, vivemos no reino da mediocridade, onde a «inveja» é um dos sintomas mais prevalecentes, embora esta seja disfarçada de uma saloia «vanglória», em tantos discursos, mesmo que de um português horrível.
Sim! Um dos vícios que atinge imensa gente; à nossa volta, na actualidade e, se calhar, desde sempre, é o da inveja. Ela é facilmente constatável. Por exemplo, o semblante da pessoa invejosa é sempre triste e desconfiado, embora disfarçado de uma alegria superficial, composta por sorrisos forçados e estratégicos. O olhar vago e superficial do invejoso, tem dificuldade em olhar, olhos nos olhos, os outros; parece que, continuamente, observa tudo o que o envolve, mas na verdade, pouco ou nada vê, porque a mente está mergulhada em pensamentos cheios de malícia A inveja, se não for controlada, leva mesmo ao ódio pelo outro. Já a Sagrada Escritura fala da cena de Abel ser morto pelas mãos de seu irmão Caim, pois este não era capaz de suportar a felicidade do irmão.
Aliás, a inveja é um mal investigado não apenas no âmbito moral. Ela tem chamado a atenção de muitos filósofos, psicólogos e sábios de todas os quadrantes. Na sua base existe uma relação de ódio e de amor: quer-se o mal do outro, mas secretamente deseja-se ser como ele. O outro que é invejado é a manifestação daquilo que gostaríamos de ser e que, na realidade, não somos capazes de ser. A sua «sorte» parece-nos uma injustiça. Certamente, pensamos que nós teríamos merecido muito mais os seus sucessos ou a sua boa sorte do que ele!
Unido à inveja, está um segundo vício que hoje frequentemente se constata, a saber: a vanglória. Ela anda de mãos dadas com a inveja e, juntos, estes dois vícios são caraterísticos de uma pessoa que aspira a ser o centro do mundo, livre para explorar tudo e todos, objeto de todo o louvor e «amor». A vanglória é uma autoestima desequilibrada e sem fundamento. O orgulhoso possui um «eu» despropositado e desproporcionado: não tem empatia e não se dá conta de que há outras pessoas no mundo para além dele. As suas relações são sempre instrumentais, determinadas pelo predomínio sobre o outro. A sua pessoa, as suas conquistas, os seus sucessos devem ser exibidos, para todos…, é um perene mendigo de atenção. E se, às vezes, as suas qualidades não são reconhecidas, então zanga-se ferozmente. Os outros são injustos, não compreendem, não estão à altura.
Para curar uma pessoa vaidosa, não há muitos remédios. Porque, afinal de contas, o mal da vaidade e da vanglória têm o seu remédio em si mesmos: os elogios que o vaidoso esperava receber do mundo depressa se voltarão contra ele. E quantas pessoas, iludidas por uma falsa imagem de si próprias, caíram depois em «asneiras» de que rapidamente se envergonharam! Não precisamos de pensar muito, em exemplos, mesmo à nossa volta!
Para mim, como cristão e padre, a melhor orientação para superar e vencer a inveja e a vanglória encontra-se no testemunho de São Paulo. O Apóstolo sempre se confrontou com um defeito que nunca conseguiu superar. Por três vezes, pediu a Deus que o libertasse desse suplício, mas no fim Jesus respondeu-lhe: «Basta-te a minha graça, porque a força se manifesta plenamente na fraqueza». A partir daquele dia, Paulo foi libertado. E a sua conclusão deveria tornar-se também a de cada um de nós: «Por isso, é de bom grado que me orgulharei das minhas fraquezas, para que o poder de Cristo permaneça em mim» (cf. 2Cor 12, 9).
Já agora, talvez nem todos percebam, mas esta é das experiências mais profundas e belas da fé cristã. Com efeito, perante as nossas fraquezas e fragilidades, perante os ataques, umas vezes cobardes e injustos, outras vezes maliciosos e mentirosos que nos abatem, sentimos a força do Amor maior que Deus nos tem. Isso basta-nos!