O Natal chegou à «Céu»
Decidimos ir visitá-la, no sábado passado. Algumas catequistas, um catequizando em representação de todos os outros e alguns elementos do Conselho Económico. Aliás, não podia chegar o Natal, sem o fazermos, por reconhecimento e gratidão. Então, lá fomos nós até Fátima, ao encontro da «Céuzinha», como carinhosamente sempre foi tratada, na paróquia de Casal Comba e um pouco por todo o lado.
Como cheguei primeiro, com os que me acompanhavam, ao lar, dirigimo-nos logo para a sala, onde ela nos iria receber. Quando nos viu, não escondeu uma alegria imensa, assim como era grande a nossa emoção. Antes de chegarem os outros, conversámos um pouco.
Lá lhe fui fazendo perguntas às quais respondia, lúcida e convictamente. Contou que, desde que se lembrava, sempre andou na Igreja e a sua paixão foi a Catequese. Tantos cursos que fez, em Coimbra, a fim de se formar e actualizar! Foram centenas as crianças que, ao longo dos mais de 60 anos, ela falou de Jesus Cristo e do Evangelho, de forma simples e sempre amorosa. Aliás, ainda há poucos meses, ia de manhã cedo, para a paragem do autocarro, onde as crianças iam para a escola, para as convencer a ir ou a não desistir da catequese. Não há adulto ou jovem que não a admire! Incansável evangelizadora, ao seu modo e como podia!
Depois, sempre zelou a igreja, juntamente com outras pessoas, e tratava esmeradamente dos panos litúrgicos. Era distribuidora do jornal Amigo do Povo. Uns pagavam-lhe e a outros ela oferecia-o, pois podia ser que lhes fizesse bem aquela leitura. No mês de Maio e de Outubro, orientava o terço, e durante a Quaresma a Via-sacra. Pertencia ao grupo dos leitores. Estava sempre disponível para o que fosse preciso.
Sempre foi simples e generosa, sem olhar a esforços e sacrifícios de todos os níveis. Dizia-nos, a certa altura:
- A minha vida é a Igreja! É a minha casa. Sinto tanta falta. Quero ir-me embora daqui. Trouxeram-me ao engano!
No carro, no regresso, contavam-me que muitas vezes iam encontrá-la na igreja, sozinha, a rezar. Era onde se sentia bem e segura. Mas, agora, tem de ali estar, para seu bem e segurança. Apesar de tudo, não muito conformada, parece estar bem.
A Dona Maria do Céu Lindo é uma marca incontornável na comunidade cristã onde sempre viveu a fé. Um exemplo de dedicação e serviço, uma verdadeira inspiração.
Os mais de 80 anos e a falta de saúde fizeram com que fosse internada de urgência e não pudesse voltar para a sua casa, onde vivia sozinha. Agora, está em Fátima, num lar, segundo a orientação dos sobrinhos, onde é bem tratada e cuidada, a todos os níveis. Nesse encontro, ainda nos contou que vai ajudando os que vivem ali com ela, sempre de forma dedicada e ao seu jeito.
A certa altura, chegaram os outros. Foi de novo uma alegria, com beijos, abraços e muita emoção por parte de todos. Sem largar a bengala, a todos beijava e abraçava. Quando viu o André Cruz, seu catequizando, não ligou a mais ninguém, por uns momentos, a expressar a sua predileção pelos mais novos de quem sempre se aproximou para evangelizar.
Reparei, quando tentava tirar a fotografia, que olhava para um saco transparente que a Laura trazia na mão, com alguns jornais do Amigo do Povo. Como que lhe «cheirava» a algo que sempre fez parte da sua missão. O tempo estava a passar e tinha de regressar para as celebrações da tarde. Despedimo-nos, eu e os que me acompanhavam no carro, e ficaram os outros.
Na viagem até à Mealhada, senti que já estávamos a viver o Natal. Ir ao encontro dos outros para reconhecer e agradecer o que foram e são, nas nossas vidas, é o ponto de partida para saborear este mistério do nascimento do Deus Menino. Aliás, o Natal é também a experiência de gratidão, ou de amor agradecido, a Deus e a tantos em que Ele atua, mesmo sem saberem, para nosso bem.
Já agora, há tantas pessoas que são semeadoras de bem; tantos cuidadores sacrificados; tantos a derramarem lágrimas de amor sofrido; tanta humildade, paciência e bondade em imensas pessoas que encontramos, no dia-a-dia das nossas vidas, e a quem muito devemos! Que, neste Natal, nos sintamos desafiados a reconhecer e a agradecer o Seu amor, manifestado de tantas formas e em tantas realidades, mas sobretudo naqueles de quem nos devemos aproximar porque nos amaram. Santo Natal!