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Morfeu e os sonhos…


tags: Padre Rodolfo Leite Categorias: Opinião terça, 14 janeiro 2025

Nestes últimos dias festivos, entre os muitos votos de felicitação de Ano Novo, alguém me escrevia, por mensagem:

 

- Um bom ano e que nunca deixe de ter sonhos. O resto a sorte trará!

 

Quando acabei de ler, já deitado, não sabendo bem porquê, fiquei a pensar no seu conteúdo. Lembrei-me de Morfeu e do seu mito. Morfeu é o nome do deus grego dos sonhos. Segundo a mitologia, ele era um dos filhos de Hipnos, o deus do sono, e representava a personificação dos sonhos. Era descrito como um ser dotado da capacidade de assumir várias formas diferentes. Etimologicamente, o nome do deus grego do sonho é traduzido como «moldador», ou «o construtor de formas». Também a partir desta raiz etimológica, surgiram outros termos, na língua portuguesa, como as palavras «morfologia», ou «morfina».

Segundo a lenda, graças as suas grandes asas, Morfeu conseguia se mover com rapidez, por todo o lado. Outra característica era a sua habilidade de se transformar em qualquer coisa, manifestando-se nos sonhos das pessoas através das mais diversas formas. Interessante que a história de Morfeu está, presente na obra Metamorfoses, do poeta grego Ovídio, e descreve o deus dos sonhos como o mais hábil imitador da figura humana. Mas, os sonhos de uma pessoa não podem ser imitação, a fazer de conta, pois dessa forma nunca serão realidade na vida. Acho que este é o problema de tantos sonhadores de hoje e de sempre, e a razão de ser de tantas frustrações e pesadelos!

Com efeito, os sonhos são importantes. Eles mantêm o nosso olhar amplo, ajudam-nos a abraçar o horizonte, a cultivar a esperança no nosso viver do dia-a-dia. Depois, temos os sonhos das crianças e dos jovens que são os mais importantes de todos e sempre belos, são como as estrelas luminosas, aquelas que indicam um caminho diferente para os adultos. Os sonhos das crianças e dos jovens são estrelas no seu coração!

É claro, que os sonhos precisam crescer, de serem purificados, colocados à prova e também partilhados. Mas, há também perguntas incontornáveis: qual será a origem dos nossos sonhos? Eles nasceram por assistirmos a algo na televisão ou nas redes sociais? Por influência do grupo de amigos? Sonhamos com os «olhos abertos»? São sonhos grandes ou pequenos, miseráveis, ou sonhos que se contentam com o mínimo possível?

A tradição bíblica diz-nos que os grandes sonhos são aqueles capazes de serem fecundos, de semear a paz e a fraternidade. Os grandes sonhos incluem, envolvem, são extrovertidos, partilham e geram vida nova, alegria, felicidade, esperança. Contudo, para os sonhos serem grandes têm necessidade de uma fonte inesgotável de esperança, de um «Infinito» que sopra dentro e os expande; precisam de Deus para não se tornarem miragens, delírios ou utopias.

Hoje, vou-me apercebendo, cada vez mais, que os sonhos assustam os adultos. Talvez seja por terem parado de sonhar e de arriscar, talvez porque os sonhos minam as suas escolhas de vida, talvez porque estejam reféns do calculismo egoísta. Não sei bem! A verdade é que não podemos deixar de ter sonhos e de os tornar vida concreta, em gradualidade e com serenidade, seria viver sem sabor e saber.

Neste novo ano, sejamos sonhadores, com esperança e com confiança. A vida não é um jogo de sorte e de azar, uma loteria em que apenas os sortudos podem realizar os seus sonhos. A vida é um dom que se torna desafio, em que se «vence» a felicidade, quando vencemos juntos, quando não esmagamos o outro, quando ninguém é excluído, quando deixamos Deus ser fonte de Amor para nós!

Já agora, o Papa João XXIII dizia: “Eu nunca conheci um pessimista que tenha concluído algo de bom”. Mantenhamos um olhar positivo e abençoado neste ano de esperança. Não tenhamos medo de sonhar, porque as dificuldades sempre existiram e todos e cada um temos a tarefa de superá-las e torná-las oportunidade para o bem e para o amor. Um feliz e abençoado Ano Novo!