Chegados ao fim de vinte e quatro entre festas e foguetes, saltamos apenas numa noite pelas promessas do ano vinte e cinco, cantadas e louvadas pelos adoradores de nova era, restringindo o período que se segue e espera a mais feliz, criativo e paciente que o tempo que passou. Do nada ou do vazio, espera-se sempre por melhor, embora as perspetivas sejam estranhas e os resultados não mudem muito nas turbulências do mundo, do planeta ou do país…
Rá, o velho Sol egípcio será o mesmo sol, verá os mesmos solstícios, fará girar em torno do seu eixo a mesma freguesia explorando o ano pelas mesmas estações. Calmo e sereno como costuma ser, vai juntar novo período aos seus milhões num ato de cósmica justiça e haver suficiente temperança perante sua tremenda eternidade.
Diz a ciência que um dia terá fim, mas amenizemos nós os nossos dias que os dias veem longe no calendário da humana pequenez. Por esta terra feita de nobre gente, conta a história que tudo vai correr de igual maneira, o pobre vai descendo para mais pobre, o do meio aguentará a sintonia, o rico desfralda as comuns velas e exprime-se no termo da formiga, duplicando a pança e a barriga. Ouve-se ainda o dia de amanhã pela boca dos canhões pelo mundo fora, pena se então por dentro, minando a sorte de Isabel a Soberana, e já que estamos perto do milagre das rosas, uma extensão risonha dos nossos reis políticos ás lendas da nossa milagreira economia, enquanto a Galp anuncia no fim do ano a descoberta de uma jazida de petróleo na Namíbia. A isto devemos, no entanto, acrescentar a nossa barafunda habitual, o nosso falatório costumado, o elenco das coisas prometidas e a continuação das desigualdades, da pobreza, do atraso centenário e da previsão provisória da aparência política que vai negando a esperança e a vontade, isto é, mais um ano passado para ficar tudo na mesma após o desiderato dos festejos.
Na saúde, um caso bicudo que vai deslizando em falhas sucessivas, estamos perante a inoperacionalidade de um ministério vago, velho e enrugado, incapaz de dar às mães o parto seguro e necessário, sublinhando sobremaneira o caso do parto em movimento e as falhas maternais de ditas URLs, numa anarquia geral. Na educação, a falta de professores continua constante e na habitação, está fora de questão a compra de uma casa própria com o rendimento do cidadão doméstico. Estes e outros problemas estruturais, tem estado em permanência na ordem dos políticos, entre eles o mais gravoso tem a ver com a insegurança que se vem instalando no país, a entrada livre de emigrantes no território ou rendimentos obscenos em meios politizados a favor de outros favores. Uma rede ou eixo cinquentenário que teima a duplicar ciclicamente. Ultimamente, a demissão das direções das Unidades Locais de Saúde, estão a ser substituídas com critérios baseados nos interesses de clientelas partidárias.
Portugal caminha mais uma vez num vazio de governação que não tem em conta os interesses dos portugueses mas apenas o interesse de alguns portugueses, sinais indicadores de que não se passa desta crónica cepa torta a que o cidadão está sujeito, onde os casos e casinhos que ironicamente servem de escudo ás política de alguns, não são tão inocentes como o querem fazer crer, mas sim atos de clara consciência e definidos fins onde não está presente o profissionalismo, a competência ou o saber, mas antes a pura e simples substituição de unidades humanas, numa duvidosa lógica de novos processos, métodos ou experiências por um domínio politico cativo do poder vigente, esquecendo a qualidade , a seriedade o próprio conhecimento e finalmente a cidadania. Um mesmo caminho, uma mesma identidade, um mesmo fim, uma mesma luta pela tomada ou sustentação do mesmo poder partidário do tipo polvo.
Como na primeira ou na segunda República, não se vai a lado nenhum com estas políticas fracionadas em interessas vários num arremedo democrático destituído de sentido, de hombridade e sem futuro.