O nosso coração é feito para a alegria
Aspirar pela alegria está no íntimo do ser humano. Além das satisfações imediatas e passageiras, o nosso coração procura a alegria profunda, total e duradoura, que possa dar «sabor» à existência. E isto é válido, sobretudo, nesta fase de recomeçar, com o novo ano. É um tempo de abertura ao futuro, no qual se manifestam os grandes desejos de felicidade, de amizade, de partilha, e de verdade, no qual somos movidos por ideais e concebemos projetos.
E todos os dias são tantas as alegrias simples que temos: a alegria de viver, a alegria face à beleza da natureza, a alegria de um trabalho bem feito, a alegria do serviço, a alegria do amor sincero e puro. E se olharmos com atenção, existem muitos outros motivos de alegria: os bons momentos da vida familiar, a amizade partilhada, a descoberta das próprias capacidades pessoais e a consecução de bons resultados, o apreço da parte dos outros, a possibilidade de se expressar e de se sentir compreendidos, a sensação de ser úteis ao próximo. E depois a aquisição de novos conhecimentos através dos estudos, a descoberta de novas dimensões através de viagens e encontros, a possibilidade de fazer projectos para o futuro. Mas todos os dias nos confrontamos também com tantas dificuldades e no coração existem preocupações em relação ao futuro, a ponto de que nos podemos perguntar se a alegria plena e duradoura pela qual aspiramos não seja talvez uma ilusão e uma fuga da realidade. São muitos os que se questionam: é possível a alegria plena, nos dias de hoje? E esta busca percorre vários caminhos, alguns dos quais revelam-se errados, ou pelo menos perigosos. Mas como distinguir as alegrias duradouras dos prazeres imediatos e enganadores? De que modo encontrar alegria na vida, aquela que dura e nunca nos abandona, até nos momentos difíceis? Como receber e conservar a alegria profunda?
Com efeito, a alegria está intimamente ligada com o amor: são duas faces da mesma moeda. O amor produz alegria, e a alegria é uma forma de amor. Pensando nos vários âmbitos da nossa vida, amar significa constância, fidelidade, ser fiel aos compromissos. E isto, em primeiro lugar, nas amizades: os nossos amigos esperam que sejamos sinceros, leais, fiéis, porque o verdadeiro amor é perseverante, também e sobretudo nas dificuldades. E o mesmo é válido para o trabalho, para os estudos e para os serviços que desempenhamos. A fidelidade e a perseverança no bem levam à alegria, mesmo se nem sempre ela é imediata.
Para entrar na alegria do amor, somos desafiados também a ser generosos, a não nos contentarmos em dar o mínimo, mas a comprometer-nos profundamente na vida, com uma atenção particular pelos mais necessitados. O mundo tem necessidade de pessoas competentes e generosas, que se ponham ao serviço do bem comum; que procurem o modo de contribuir para construir uma sociedade mais justa e humana, onde quer que se encontrem. Toda a nossa vida deveria ser guiada pelo espírito de serviço, e não só pela busca do poder, do sucesso material e do dinheiro.
Por fim, não se pode ser feliz se os outros não o são; por isso, a alegria deve ser partilhada. Não podemos ter só para nós a alegria: para que ela possa permanecer connosco, devemos transmiti-la. Por vezes, é apresentada uma imagem do cristianismo como de uma proposta de vida que oprime a nossa liberdade, que vai contra o nosso desejo de felicidade e de alegria. Mas isto não corresponde à verdade! Os cristãos são pessoas verdadeiramente felizes porque sabem que nunca estão sozinhos, mas que são amparados sempre pelas mãos de Deus! Compete sobretudo aos discípulos de Cristo, mostrar ao mundo que a fé confere uma felicidade e uma alegria verdadeira, plena e duradoura. E se o modo de viver de alguns cristãos, por vezes, parece cansado e entediado, mostremos, ao mundo, que é precisamente o contrário! Levemos a alegria a quantos sofrem, a quantos estão em busca. Levemos às nossas famílias, às nossas escolas e universidades, aos nossos lugares de trabalho e aos nossos grupos de amigos, onde quer que vivamos. Veremos que ela é contagiosa.
Já agora, para entrar na alegria do amor, há que fazer crescer, na vida de cada um e de todos, a comunhão fraterna. Há um vínculo estreito entre a comunhão e a alegria. Só juntos, vivendo a comunhão fraterna, poderemos experimentar esta alegria. Na Bíblia, o livro dos Actos dos Apóstolos descreve do seguinte modo a primeira comunidade cristã: “Partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração” (cf. At 2, 46). Como seria bom o compromisso de todos e cada um, também dos não cristãos, para que as nossas «comunidades» pudessem ser lugares privilegiados de partilha, de atenção e de cuidado uns dos outros!