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Páscoa é acreditar no inacreditável!


Categorias: Opinião quinta, 17 abril 2025

Na Páscoa, os cristãos celebram o mistério fundador da sua fé: a ressurreição dos mortos, de Jesus Cristo. Esta celebração dá maior visibilidade ao sinal de esperança que ela representa, sobretudo para aqueles cuja fé mais tem sido posta à prova: é bálsamo para o seu sofrimento. A alegria genuína destes cristãos que vivem a sua fé na provação, ajuda-nos a compreender como é difícil que a celebração da Páscoa seja uma «festa» para quem não é cristão: com os acontecimentos trágicos da paixão e da morte, esta memória é estranha aos esquemas mentais mais consolidados. E contudo, esta é a festa própria da fé cristã e se esta ressurreição de Cristo não fosse realidade – recorda São Paulo – então a fé seria «vã», vazia, incapaz de dar consistência à vida do crente.

Na verdade, os cristãos sentir-se-iam como os seres mais miseráveis de toda a humanidade, confrangedoramente iludidos...sim, porque no coração da fé cristã está este acreditar em qualquer coisa de «inacreditável»: como acreditar que aquele cadáver ressuscitou? E que aquela ressurreição de Jesus de Nazaré possa manifestar os seus efeitos vivificantes sobre outros seres humanos e ainda hoje? Os evangelhos, conscientes desta dificuldade, testemunham, em uníssono, o esforço de todos os que haviam seguido Jesus, nas estradas da Galileia e da Judeia até Jerusalém, de acreditarem na ressurreição. Escandalosa era já a morte violenta, ignominiosa de um Messias, mas ainda mais escandalosa é a ressurreição do Messias morto na cruz.

Este paradoxo da fé cristã, torna-se ainda mais incompreensível pelo facto de que a fé na ressurreição é uma coisa distinta da convicção na imortalidade. Crer na ressurreição, implica crer na morte, levar a sério o cadáver concreto de Jesus deposto no sepulcro, mas também assumir a própria morte, a morte de cada um e lê-la não como a última, mas como a penúltima palavra sobre a qual se ergue vitorioso o amor, isto é: Cristo ressuscitado.

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