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A 13 de Abril de 1695 (há 330 anos), faleceu La Fontain


Categorias: Opinião quinta, 24 abril 2025

Escritor e poeta Francês, nascido a 08 de Julho de 1621. Ficou conhecido, essencialmente, pelas suas fábulas.

Hoje, tartamudos, cinzentões e sérios, vivemos convencidos de que somos a grande espécie inteligente, na face da terra. Engordamos de certezas e enchemos a barriga de parangonas, teoremas, teorias e ideias (quanto mais perfeitamente encaixotadas e cartesianas melhor). O resultado está à vista.

Não raro nos referimos aos humanos como animais racionais, em contraposição aos restantes (que deleitosa e sossegadamente epitetamos de irracionais). A única razão que colhemos é a irracional forma de vida cruel, destrutiva, selvagem (que as selvas não se ofendam, espero).

Estamos a inventar uma inteligência artificial (numa tentativa desesperada de validar a que julgamos ser a humana), resumindo-a a algoritmos conhecidos, como se a inteligência (mais uma vez, tal como para todo o conhecimento visto pelos mais ignorantes), fosse o que eu vejo da janela dos meus olhos (que, de resto, nem tão pouco veem, quem vê é o cérebro e vê o que que julgamos querer ver).

Rendo, daqui,a minha homenagem a tão grande alma que soube dizer, nos livros, que os animais pensam, decidem, dão lições, chamam o burro de animal inteligente e os humanos de tolos, espertos e pelegos.

Talvez por esta sua grandeza, La Fontain, veio a ser sepultado no cemitério de Père-Lachaise, ao lado do Grande dramaturgo Molère que tinha falecido em 1673.

Como eu gostava que as minhas cinzas fossem sopradas, num vento que me permitisse entrar no palco oculto e eterno desse cemitério, obedecendo à direcção artística do Grande Molière, para representar uma besta qualquer das fábulas sábias de La Fontaine (até podia ser já, sem funeral, sem padres e sem gente com propósitos de chorar). Para fazer, não um burro, que não tenho inteligência para tanto, nem um leão, que o meu tamanho não é esse, mas, talvez uma formiga, pedindo desculpa à cigarra pela injustiça a que foi votada (num simples reparo). (A fábula é atribuída a Esopo, mas terá sido recriada por La fontaine).

Quem nos dera mais cigarras, para alegrar a carga horária das formigas, incentivar os sindicatos para a luta dos direitos laborais e decorar, de adornos culturais e de beleza, o coração dos líderes, empreendedores, políticos e homens sábios, para exercerem, com força e sabedoria, os seus mesteres.