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Crónicas Locais 259 - LUSO, O TONY FECHOU AS PORTAS


tags: Opinião, Ferraz da Silva Categorias: Opinião quarta, 06 fevereiro 2019

Nesta terra onde tudo fecha, fechou o Tony. Ele vinha ameaçando e quem acreditou que brincava, enganou-se. Não era brincadeira e depois de tanta coisa que já se viu, o Tony bateu com a porta. É pena. Faz falta, era uma casa genuína de gente simpática. Comida caseira, preços razoáveis… Ele servia nativos e turistas, não eram poucos os que vinham no Verão encher a sala. Quem há uma dúzia de anos começou a dar machadadas na freguesia, entre eles alguns eleitos que nunca abriram a boca para defender esta terra e outros que apareceram por aí depois de velhos para pagar os favores, devem dar-se por satisfeitos. O amor à terra dissolve-se no lustro, no galão, enquanto o escravo mal ganha para comer o pão que o diabo amassou. O amor das toupeiras cheira a esterco, só quem nasceu no chão húmido, lhe bebeu fontes e fomes, amou e teve filhos e pensa um dia voltar para a sepultura, só esses, tirando algumas excepções, amam isto. Porque eles próprios são isto, são a terra, são o pó, são as entranhas do seu lugar, o último refúgio fora deste hospital de doidos e corruptos que surgem todos os dias.

O Tony fechou as portas porque está farto de trabalhar para pagar impostos sem apoio de ninguém, sem sorrisos nem palavras. E tem uma coisa importante, é vertical, honrado. Estará farto de ver fechar outras portas desta terra, correios, bancos, cafés, comércios, termas, pensões! O ciclo maldito que a câmara deste concelho tem provocado e apoiado com irresponsabilidade total perante os interesses das pessoas e do turismo que aqui se fazia. Perante o esgar dos corvos e as voltas dos abutres, a autarquia senta-se à mesa e participa no banquete, até paga o banquete quando quer comprar os votos. Roubou-nos a fonte em 1955 com o fascista Lousada, rouba-nos hoje a marca Luso-Buçaco ignorando que uma marca é património e tem valor.

Não há um investidor na freguesia, não há um emprego para os seus filhos. Quando se vender tudo a terra acaba. É o que querem. Não se guarda memória, não se reconhece a história, a tradição, não há quem veja méritos dos Tónis. Só há festas e sambas, tachos e compadrios. Esta câmara não serve os interesses do Luso, aniquila a terra e aniquila o município. Por prazer, por estupidez política e pequenez da mente. Serve-se mérito, se o há, pelas conveniências, pelas influências, pelos votos, pelos favores, pelos amigos, pelos interesses do momento e pelo cartão partidário.

O Tony, um homem com letra grande, manteve anos o seu restaurante a funcionar, não regateou esforço às Termas para lhe purificar as veias. À dimensão da vila é dos maiores e nunca se vendeu às medalhas de cortiça da cupidez autárquica, opondo-se às mordomias com a verticalidade dos seus actos. Faz falta a este burgo tal como outra gente esquecida pela inépcia de eleitos. Fez em doses delicada cozinha portuguesa com sabor a Portugal e para bolsos de portugueses, não cozinha estrangeirada que andam por aí a vender.

Penso que ninguém ficará satisfeito, excepto a Câmara, com mais este encerramento mais dia menos dia para beber um café é preciso ir à Mealhada. E deixo o recado aos meus conterrâneos, entre os próximos está na calha o turismo, é mais um roubo da sede do concelho igual ao da fonte. O esquema está montado, a casa feita com aplauso dos tolos. Se quiserem que isto seja assim, calem-se até fechar o último dos Tónis e não haver mais nada no Luso, a freguesia mais bela, rica, histórica, com mais potencialidades e património concelhio. Mais conhecida no país e fora do país é por isso alvo da saloiice política de aprendizes de urbanidade que gerem o concelho. As soluções para o Luso não são lambe botas nem traficâncias políticas, mas a seriedade de processos e uma luta cívica e firme das pessoas na defesa do querer a que se tem direito. Quem não o fizer até esse direito perderá. Pensar, lutar e persistir é preciso! Não há outro modo de seguir em frente sem começar por este.

       Luso, Janeiro 2019