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A vida está para ti


tags: Opinião, Mauro Tomaz Categorias: Opinião quarta, 20 fevereiro 2019

Por vezes dou por mim com saudades do meu tempo de estudante, submerso em memórias distantes de criança, adolescente e jovem adulto, reflectindo um pouco naqueles períodos de grandes transformações e redefinições que no fundo caracterizam os percursos de cada um de nós. Acaba uma fase para dar lugar a outra, e é inevitável que assim seja sempre, porque tudo tem o seu momento. Há relativamente pouco tempo alguém me disse “a vida está para ti”, e se no momento devo ter esboçado uma qualquer reacção superficial e pouco matutada, do género “está, está...”, como que refutando o meu interlocutor com um sorriso meio embaraçado, a verdade é que a frase mexeu comigo e me deixou a pensar numa série de diferentes experiências, transições e realidades. Cada vez mais me convenço que devemos aproveitar ao máximo o agora, que em breve não volta, só deixa a saudade. Além disso, também considero que nunca devemos esquecer aquilo que é realmente importante: viver. Alimentar as nossas paixões e o que nos dá prazer. A vida não é só coisas boas e episódios bons, pelo que nos resta valorizar e usufruir de todos aqueles momentos especiais que um dia recordaremos com agradável lembrança. Tal como em relação a pessoas que nos marcaram profundamente e em relação às quais nos teremos inevitavelmente que separar um dia, por uma razão ou outra, pois tudo é cíclico. Tudo é cíclico, por mais complicado que por vezes possa ser, e julgo que o devemos encarar com toda a naturalidade possível, restando-nos sempre olhar em frente e de cabeça erguida, até ao fim. Independentemente de tudo o que de bom ou de mau possa acontecer, a nossa “casca” vai sempre enrijecendo, e em boa verdade ficamos todos os dias mais fortes do que nos anteriores. Daí a importância do controlo emocional, no sentido de permanecermos positivamente fiéis ao imediato, confiantes, sem grandes projecções de longo prazo que possam redundar em fracasso. Uma forma simples de combatermos eventuais pessimismos, sob um ponto de vista diferente. Um passo de cada vez, vivendo um dia após o outro... o que não significa, no entanto, que não se estabeleçam metas e objectivos. Para quê sofrer por antecipação? É importante fazer pela vida, pela nossa e pela dos que nos rodeiam, mas torna-se quase imperativo também nunca descurar a fruição do instante, sem reservas preconceituosas ou de natureza hesitante, dado que essa mesma vida de que falo é realmente efémera, e muitos são os exemplos daqueles que pura e simplesmente a deixam passar.

A sequência criança/adolescente/adulto/idoso é fugaz, a memória é que faz o indivíduo. O que pareceu ontem já foi há imensos anos atrás, o relógio não pára. Nunca. Nem o biológico nem o do pulso. Daí a necessidade de darmos sentido às coisas e às pessoas... por isso os “nossos” se tornam tão importantes. “A vida está para ti”. Será? Recorrentemente me lembro de um filme em que o professor de um colégio interno se dirige aos alunos e apela-lhes gloriosamente numa lógica de Carpe Diem: “Aproveitem o dia rapazes, tornem as vossas vidas extraordinárias”. Fantástica filosofia, que procuro recordar sempre que me sinto a entorpecer, ou quando me pareço apenas mais um. Temos tempo para experimentar tudo, também para sabermos o que queremos ser, e ter. Devemos, no entanto, ter noção dos perigos que eventualmente poderemos correr, sem nunca nos entregarmos de corpo e alma a algo que saibamos de antemão que poderá causar-nos sérios transtornos, a nós ou aos “nossos”. Da melhor maneira possível, vivendo tudo o que pudermos, mas com conta, peso e medida. Já dizia um artista, “nunca vamos sobreviver se não formos um pouco loucos”. Será talvez a mais complexa de todas as ciências: saber viver. Sentimentos comuns a todos, mas únicos dentro de cada um de nós.

O momento é este, a vida está para nós todos. Tudo tem o seu tempo, e o nosso é agora.