Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

Crónicas Locais - 260 - Alexandre de Almeida e o Palace Hotel do Buçaco


tags: Opinião, Ferraz da Silva Categorias: Opinião quarta, 20 fevereiro 2019

Alexandre Almeida nasceu na Lameira de S. Pedro, Luso, em 1885, filho de Isidoro José Ferreira e de Maria da Conceição de Almeida. A família possuía, nas Termas, a “Casa Aliança” desde 1875, um estabelecimento comercial destinado a servir aquistas e nativos com uma larga variedade de produtos. Na sua juventude assistiu á construção do Palace do Buçaco e já adolescente ao início da actividade hoteleira, pelas mãos de Paul Bergamin, um suíço que explorava o Hotel da Mata, a albergaria “Chalet Suisse” e o restaurante da estação da Pampilhosa, onde atendia turistas e termalistas que se encaminhavam para o Luso-Bussaco.

Quando tomou conta da Casa Aliança a estância termal e a Mata estavam na moda e o seu caminho passou pela modernização do negócio aberto a nacionais e estrangeiros. Instala no local a primeira máquina de café da região, a qual possuía um apito accionado por vapor de água avisando os clientes da frescura do café. Cria a secção “Suíça no Luso” onde vende artesanato helvético com legendas locais, como “Souvenir do Luso”, “Souvenir do Bussaco”, importando o material directamente para a estação da Pampilhosa. É o primeiro cidadão do distrito de Aveiro a comprar um motociclo, indicio dum interesse posterior por veículos motorizados.

A sua vida na hotelaria, segundo a história da família, começa por um convite de Bergamin em 1916 para se juntar a ele e fazerem uma gestão comum do Hotel do Bussaco. Mas Alexandre tinha da indústria do turismo uma visão avançada e via potencialidades para ir em frente num caminho criativo e de desenvolvimento enquanto Bergamin, desactualizado, optava por uma gestão caseira ou de merceeiro, gestão de gaveta aberta sem despesas nem receitas. Esta gestão doméstica levou o suíço a queimar no forno da cozinha a “livralhada” das contas, o que levou Alexandre a virar as costas ao acordo. Em 1917, incapaz de segurar o barco, Bergamin reconhece a sua incapacidade e entrega a gestão da casa ao ex-sócio que lhe dá o nome de Palace Hotel do Bussaco, por escritura de 20 de Março de 1920.

Acto importante na área do novo empresário e igualmente na história da hotelaria em Portugal, pois o Hotel começa por figurar como o melhor do país, e dos melhores da Europa e do mundo.

O sonho de Alexandre Almeida concretiza-se. O castelo e paço capaz de receber com luxo uma clientela exigente capaz de pagar um produto de alta qualidade abre-se pela primeira vez num país que o não tinha e que o exemplo do Bussaco veio abrir e ensinar a Cascais, Estoril, Sintra e poucos mais locais de então. Um hotel de charme que tem funcionado ininterruptamente nas mãos de um dos primeiros empresários do sector em Portugal.

Foi esta unidade, única do país, que o sábio presidente da câmara deste município procurou e procura destruir. Melhor seria ir destruir a terra dele.