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Património no concelho de Mealhada


tags: Opinião, Opinião, Opinião, Maria Alegria Marques Categorias: Opinião quarta, 20 fevereiro 2019

Observações. 1.

 

            Iniciamos, hoje, um pequeno conjunto de considerações acerca de um tema que, não tendo relevância no concelho, sempre merece alguma atenção, até pelas responsabilidades que todas as gerações têm em relação às gerações futuras.

            É verdade insofismável que o concelho da Mealhada não é rico em património edificado, seja ele mais antigo ou mais recente.

           E não basta a existência, no seu seio, da joia (tremendamente desprezada, quer no aspecto material, quer no simbólico, ainda agora, com um folheto publicitário pobre, triste e eivado de erros…) que é o Buçaco – no seu conspecto alargado de património natural, construído, histórico e simbólico, para que se veja abalada tal opinião.

           Basta que se folheie o Inventário #001. Património cultural, civil e religioso do concelho de Mealhada. Mealhada, Câmara Municipal de Mealhada, 2001, 410p., (cuja análise deixamos para próximo artigo, após análise de documento pedido à Excelentíssima Câmara Municipal, em requerimento ao seu Presidente, e que contamos receber a todo o momento), e isso mesmo se conclui.

          Mesmo descolando de tal publicação e olhando mais longe, a realidade não se mostra muito diferente. Aqui ou ali – Luso, Ventosa do Bairro, Mealhada, Casal Comba, Pampilhosa, Vacariça –, poderemos encontrar, de onde em onde, um espécime arquitectónico que se imponha por uma individualidade de traça, que o faça sobressair dos demais, num arquétipo quase desenraizado do território, pela grandeza, pela idade, enfim, por um qualquer aspecto distintivo que o faça notado dos edifícios comuns.

             Tal realidade tem raízes bem profundas na história do concelho. Terras de posse imemorial de senhorios eclesiásticos, mais interessados no brilho e na grandeza dos seus lugares-sede, não foram bafejados pela existência de alguém que, individualmente, pudesse, ou pretendesse, deixar testemunho da sua vida e glória, plasmando-a em edifícios ou obras de arte. As gentes simples não tinham nem história nem memória para perpetuar, muito menos dinheiro para as dourar ou capacidade para as forjar.

           Assim, não admira que o seu património seja, essencialmente, religioso, fruto da ligação ancestral das comunidades com os seus patronos celestes e espelho das suas crenças e possibilidades materiais.

            Ainda neste campo, importa dizer que, afora a escultura religiosa, não se conhece outra, de valor, no concelho. E o mesmo se diga da pintura. Mesmo assim, tentaremos algumas considerações sobre tais manifestações artísticas, esperando que o documento acima referido, pedido à Excelentíssima Câmara Municipal, nos ajude em mais saber e divulgar.

              Ao percorrermos o Inventário Artístico do Distrito de Aveiro – Zona Sul (A. Nogueira Gonçalves. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1959), o concelho da Mealhada é dos que menos páginas ocupa, menos fotos merece, tudo significando uma imagem corrente, sem notabilidade, do triunfo da vida por estas terras.

            Mesmo tomando um outro olhar e procurando o que, de património arquitectónico poderemos considerar legado por um outro momento assaz significativo da História destas terras, o século XIX, passado o tempo do domínio de senhores e instituições, e triunfante a industrialização e o progresso em que os homens acreditavam e que, em parte, ela proporcionou, não se acham casos deveras significativos.

          Arquitectura religiosa, arquitectura industrial, arquitectura funcional, arquitectura civil, de cariz pequeno-burguesa, são alguns tipos que, ainda hoje, poderemos encontrar, como facilmente se vê em ronda pelo concelho.

            Ocupar-nos-emos deles em próximos artigos.