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O Serviço Militar obrigatório


tags: Virgílio Breda, Opinião Categorias: Opinião quarta, 20 março 2019

Após alguns anos de espera por estar a cursar Medicina, fui chamado ao serviço militar, então obrigatório em Mafra, quando ainda me faltavam algumas cadeiras para acabar o curso. Muitos dos meus colegas militares estavam nas mesmas condições, só um ou outro o tinham completado.

Era tudo gente jovem e educada que tinha dado prova de serem trabalhadores e obedientes e que estavam a iniciar um serviço muito diferente, duro e longe da família.

À noite, terminada a instrução e o jantar, íamos todos juntos a toque de caixa até ao dormitório, que era uma camarata com duas longas filas de camas de ferro.

A rapaziada, nos primeiros dias em que não havia ainda cansaço, não se metia logo na cama para dormir, apesar do sargento encarregado de vigiar o dormitório apagar as luzes e recomendar silêncio. Mesmo assim, às escuras ou com a luzita pálida de um isqueiro, juntavam-se em pequenos grupos em redor da cama de um ou outro mais conversador, para trocar impressões da vida nova que estavam a começar.

Um deles mais falador e também mais novo disse que era casado, e que tinha casado recentemente, antes de dar inicio ao serviço militar. Fê-lo, disse ele, para resolver o seu problema sexual. O que ele foi dizer!?

Daí em diante ninguém mais o conhecia por outro nome que não fosse o do “problema sexual” ou, para simplificar, só por “problema”.

Na altura em que poucos eram conhecidos uns dos outros pelo nome próprio, e eram muitos, havia de se ter algum cuidado com o que se dizia, porque aquela rapaziada estava ávida de fugir à rotina e era terreno fértil onde as alcunhas pegavam facilmente e depois, quando se procurava saber qual a origem da alcunha, para se satisfazer a curiosidade, era sempre motivo de risota.

O nome próprio do atingido, esse, ficava ignorado e quando tínhamos necessidade de nos dirigirmos a ele tínhamos de o tratar por “ó pá”, que dava para todos e era uma safa, sempre à mão.