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O Poder da Consciência


tags: Opinião, Consciência, Mauro Tomaz Categorias: Opinião quarta, 03 abril 2019

Há momentos em que realmente sentimos que estamos a crescer. Na vida são recorrentes as situações-conflito que nos vão surgindo, e delas podemos e devemos sempre retirar algum ensinamento, seja ele de que natureza for. O modo como encaramos os maiores desafios da nossa caminhada é precisamente o que melhor define aquilo que somos. De forma mais ou menos determinada, é esta eterna problematização que nos torna tão complexos, mas ao mesmo tempo tão especiais. São as situações-conflito que por vezes nos permitem reequacionar determinadas realidades que julgámos inquestionáveis em outras tantas determinadas circunstâncias.

Recordo-me, por exemplo, que uma das maiores desilusões que tive até hoje foi na passagem da adolescência à vida adulta, já há uns anos valentes, quando percebi da forma mais desencantada que não podemos ser amigos de toda a gente. Foi no mínimo desolador, e muito provavelmente num cenário idílico nunca deveria ser assim, mas essa é a derradeira verdade. Somos todos demasiado únicos e diferentes para termos essa divina (e, portanto, desumana) capacidade de nos conseguirmos relacionar em plena harmonia com todos, sem excepção. Tudo nos representa: as preferências que revelamos e os posicionamentos que ocupamos. Tudo é alvo de apreciação, seja ela qual for. Se num meio maior se denotam tão facilmente as proximidades e os afastamentos entre diferentes estereótipos, imagine-se num meio mais pequeno, por entre as consequentes teias pessoais e sociais que daí decorrem.

Diferentes formas de ser levam a diferentes formas de estar, e isso parece-me naturalíssimo. Além de desejável. Por isso mesmo o conflito e a escolha são tão importantes na definição das nossas personalidades. Além de voláteis, pela inconstância, todos temos também um “dark side”. Ninguém é perfeito. Nem mesmo a minha Mãe. Lembro-me, aliás, de uma mensagem importante que me passou ainda em idade tenra. Segundo ela, não há pessoa alguma no mundo que seja boa, boa, boa, sem ter um bocadinho de maldade; tal como pelo outro lado não haja alguém assim tão mau, mau, mau, sem ter um bocadinho de bondade que seja. É a natureza humana, nua e crua. Faz parte. Daí o tal “choque” entre os diferentes indivíduos, e as diferentes representações que cada um encerra. Há, no entanto, uma coisa em que somos todos irremediavelmente iguais, que é a nossa condição mortal. As contrariedades vão-nos fortalecendo, como é lugar-comum afirmar, mas ao mesmo tempo mostram-nos sempre o quão pequeninos somos, e o tão vulneráveis que nos revelamos perante tudo o que nos possa acontecer.

Algures pelos 18 anos, julgo que todos nos sentimos de certa forma imortais, plenamente capazes, conhecedores e até mesmo dominadores, sendo que mais tarde acabamos por chegar à inevitável conclusão, inquietados, que as nossas fraquezas e limitações afinal são imensas, o que pode ser uma chatice. Nada de mais natural, no entanto. Somos humanos!... e o ser humano é frágil e imperfeito, quer queiramos quer não. O mesmo se aplica aos relacionamentos, também eles humanos, sejam eles pessoais ou profissionais, amorosos ou de amizade, de longa data ou meramente circunstanciais – nenhum é perfeito.

Não deixa de ser verdade, entretanto, que não poderemos nem deveremos nunca ambicionar a perfeição alguma, até porque esta é inatingível, o que é consolador. Por isso mesmo é que se torna importantíssimo saber viver e conviver com as nossas próprias fraquezas e limitações, relativizando-as, sem nunca permitir que estas se sobreponham a tudo aquilo que temos de bom, a tudo o que devemos enaltecer em cada um de nós, todos os dias, a todas as horas. O modo como encaramos esse enorme desafio de querermos ser pessoas melhores é precisamente o que realmente define aquilo que somos.

Agradar a toda a gente não é possível, mas podemos pelo menos ambicionar a agradar aos nossos e a nós próprios. Sendo verdadeiros. Verdadeiros, em consciência. Ah, a consciência...

O poder da consciência é fantástico.