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Fábrica das Devesas foi tema “quente” da Assembleia Municipal


tags: Mealhada, Devesas, Assembleia Municipal Categorias: Região sexta, 03 maio 2019

A demolição parcial da fachada nascente da Fábrica das Devesas, localizada na Pampilhosa, tem dado que falar nas redes sociais e foi até o mote para a realização de uma reunião de câmara extraordinária. O tema foi recuperado no início da última sessão da Assembleia Municipal, realizada a 23 de abril, pela pampilhosense Maria Alegria Marques, também colaboradora do nosso jornal.

Professora de História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e natural da Pampilhosa do Botão, Maria Alegria Marques começou a respetiva intervenção por aludir a uma notícia publicada no Diário de Coimbra sobre a reunião extraordinária do executivo, realizada a 18 de abril, na qual o vereador da cultura do município, Nuno Canilho, fez menção ao estudo elaborado por Avelãs Nunes, professor da Universidade de Coimbra e especialista em arqueologia industrial.

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De acordo com Nuno Canilho, Avelãs Nunes terá afirmado no referido estudo que “os fornos têm eventual interesse de musealização”, acrescentado que “todo o resto deve ser desmantelado, inclusivamente o Bloco B (correspondente aos escritórios)”. No âmbito da preservação dos vestígios existentes, Nuno Canilho fez também menção ao estudo do especialista, no qual referiu que Avelãs Nunes sugeriu que fossem “retiradas as peças para posterior colocação noutra construção que possa ser feita ali”.

Referência ao estudo de Avelãs Nunes “não espelha, nem longe, nem perto”, o trabalho feito

Para a Maria Alegria Marques, o que está referido na notícia “não espelha, nem longe, nem perto”, o trabalho feito pelo colega e ex-aluno da historiadora, que acrescentou ainda que o estudo “não foi agradecido nem pago”.

A historiadora prosseguiu a respetiva intervenção, questionando o executivo sobre a existência e autoria de um “estudo de enquadramento e rastreio da unidade cerâmica da Pampilhosa”, sobre “o local onde está plasmada a posição da Câmara Municipal da Mealhada sobre a musealização do Bloco D” (onde estão localizados os fornos), sobre a existência e autoria de um “projeto de investigação dos vestígios sobreviventes” e sobre os “projetos concretos” existentes para a Fábrica das Devesas.

Referindo-se à possibilidade de ver construído um parque de estacionamento no local agora ocupado pelas infraestruturas existentes da Fábrica das Devesas, Maria Alegria Marques questiona a invenção de um “turismo de mobilidade” que ligue Coimbra B à Pampilhosa.

Rui Marqueiro, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, em resposta às questões formuladas pela historiadora começa por lembrar que “a fábrica foi adquirida em 2011 em avançado estado de ruína” e reitera que “o que foi demolido, foi por razões de segurança, para evitar mortes e prejuízos para a catenária e as linhas de caminho-de-ferro”.

“A fábrica foi comprada com o intuito de fazer um parque de estacionamento, quando fossem feitas obras na estação da Pampilhosa”, Rui Marqueiro, presidente da Câmara Municipal da Mealhada

Quanto aos projetos futuros para o espaço atualmente ocupado pela Fábrica das Devesas, o autarca reafirma o que disse na reunião de câmara extraordinária: “a fábrica foi comprada com o intuito de fazer um parque de estacionamento, quando fossem feitas obras na estação da Pampilhosa”. Neste âmbito Rui Marqueiro lamenta que “as estações da Pampilhosa e de Coimbra B tenham sido tratadas como enteadas, porque não têm, como outras, uma passagem pedonal sobre a linha”.

Neste momento, Rui Marqueiro disse já ter noção do projeto de remodelação da estação da Pampilhosa: “sabemos onde vão colocar os elevadores em cada plataforma e a partir de agora a Câmara Municipal tem que encomendar um projeto para o parque de estacionamento e a recuperação possível do espaço”. Ainda assim o edil revela que “para já estamos preocupados com a contenção do que resta das fachadas, mais do que com eventuais estudos ou projetos”.

Sobre o parecer de Avelãs Nunes, o edil refere-se a ele como um “manifesto de disponibilidade” do professor catedrático, ao qual o “município está agradecido”.

Rosalina Nogueira, presidente da Junta de Freguesia da Pampilhosa, também tomou a palavra para falar sobre o tema Devesas. A autarca recordou que “desde 2012 tem vindo a alertar a Câmara Municipal para episódios que demonstram a fragilidade e o estado ruinoso da fábrica”, reconhecendo que a tomada de uma decisão sobre o assunto cabe à Câmara Municipal da Mealhada, em direta ligação com as Infraestruturas de Portugal (I.P.). “Cabe à Junta de Freguesia informar e solicitar a respetiva vistoria, não devendo nem podendo ir além das competências da Junta”, acrescentou Rosalina Nogueira.

“Este debate merece serenidade, não oportunismos”, Rosalina Nogueira, presidente da Junta de Freguesia da Pampilhosa

A autarca lamentou ainda o “aproveitamento político da situação pela oposição”, considerando que “este debate merece serenidade, não oportunismos”.

Sobre o estado atual da fábrica, Rosalina Nogueira questionou o executivo sobre o motivo de não terem sido tomadas medidas preventivas no edifício, se está acautelada a segurança dos munícipes, assim como o património ali existente.

Rui Marqueiro começa por esclarecer a presidente da Junta de Freguesia da Pampilhosa sobre a impossibilidade de trabalhar no exterior do edifício: “com a catenária construída junto ao edifício, as dificuldades são imensas para se trabalhar. Ali nem andaimes são permitidos, só se pode trabalhar no interior do edifício”.

O líder do executivo mealhadense disse ainda a Rosalina Nogueira: “com ou sem os seus avisos a chefe dos serviços sempre esteve atenta e a desenvolver esforços na tentativa de preservar o património e a segurança dos munícipes”. Rui Marqueiro considera ainda que “se o município não tivesse adquirido o edifício em ruína, as I.P., por razões de segurança tinham arrasado tudo”.

Em nome da coligação “Juntos pelo Concelho da Mealhada”, Isabel Santiago entende que a atual situação da Fábrica das Devesas de deve à “inação e inércia” da autarquia, recordando a importância das indústrias, da cerâmica e da ferrovia para a história do concelho.

Para a deputada municipal da Coligação, haveria de haver “um objetivo comum - lutar contra a descaracterização local”, referindo à Fábrica das Devesas, de modo especial.

“A vossa prioridade é descartar responsabilidades”, Isabel Santiago, deputada municipal da coligação “Juntos pelo Concelho da Mealhada”

“A vossa prioridade é descartar responsabilidades”, afirma Isabel Santiago sobre o desfecho da situação das Devesas, lamentando: “no executivo anterior o responsável da cultura nada fez, o vereador atual deitou-a a baixo”. “Foi atingido outro patamar”, considera a deputada municipal, que aponta a este executivo “falta de cultura cívica, económico-financeira, de valores e ética de coesão e identidade”.

A encerrar o tema da Fábrica das Devesas nesta Assembleia Municipal, Gonçalo Lopes, deputado municipal pelo Bloco de Esquerda (BE) fez uma proposta de recomendação à Câmara para a “Preservação e Salvaguarda do Património da Fábrica das Devesas” e que consistia na elaboração de “um sumário do valor patrimonial existente”. Uma proposta rejeitada pela assembleia, com 16 votos contra e 10 a favor. Daniela Esteves, presidente da Mesa da Assembleia Municipal, em declaração de voto, justificou o voto contra a proposta por ir ao encontro “do que o Dr. Rui Marqueiro disse sobre as diligências a tomar”.