As dúvidas da fé não impedem uma vida de fé…
Não é fácil de perceber à primeira, mas a fé é geradora de alegria no coração dos que a vivem! Sim! Esse extraordinário e maravilhoso dom que nos leva a permanentemente dar uma resposta livre às propostas de felicidade que Deus amorosamente nos vai colocando, gera alegria na pessoa!
Com efeito, no coração de cada pessoa, está inscrito o desejo de Deus e Deus não Se cansa de nos atrair para Si, pela fé. E se Ele nos deu o dom da fé, também acendeu em nós a luz da razão. Fé e razão não se contradizem nem se opõem, ambas têm origem na mesma fonte e nos conduzem para a Verdade plena. Mais: a fé não vai contra a liberdade humana, nem contra a inteligência humana, nem contra a dignidade humana, nem contra a ciência... A fé dá sentido à vida!
A fé cuja vivência não pode limitar-se a não fazer mal a ninguém; muito menos se pode resumir a um conjunto de devoções, ritos e crenças que pouco ou nada significam para a vida de todos os dias! Ela implica fazer «o bem sem olhar a quem», de forma gratuita, onde a ternura se harmoniza com a humildade de quem serve, tal como próprio Jesus fez. A Páscoa traz-nos este desafio de viver, com exigência e responsabilidade, a nossa fé.
Mas sendo a Páscoa a festa por excelência dos cristãos, é também importante avaliar constantemente a estrutura do nosso crer, a intensidade e as motivações que nos levam à sua vivência. Pode haver desvios a fazer caminhar inutilmente. Muitas vezes, na força da fraqueza humana e na superficialidade do crer, gera-se a secura que abre fendas no coração, o vazio perturbador e angustiante, o deserto interior sem alegria nem paz.
É por isso que não podemos crescer na fé sem a comunidade cristã, sem a Igreja. É na comunidade que nascemos para a fé, alimentamos a fé, crescemos na fé, celebramos a fé, fortalecemos a fé, testemunhamos e saímos para anunciar a fé com alegria e esperança. A vivência da fé em comunidade sociabiliza, gera família, ampara, provoca entusiasmo, compromete no bem, ajuda-nos a caminhar.
Gianfranco Ravasi escreveu que há quem reduza a fé “a um apagado estandarte popular, que se leva em procissões folclóricas, consolação dócil no meio das dificuldades da vida”; que há “uma gama diversificada de tonalidades de fé que nos pode deixar perturbados e até tentados ao relativismo ou ao sincretismo”. Já o Papa Paulo VI afirmava: “Não falta sequer quem confunda a fé com as próprias experiências espirituais. Estas pessoas, ao falarem consigo mesmas, interiormente, julgam que a fé que possuem lhes é suficiente, e sentem-se satisfeitos com esta consciência que eles próprios elaboraram, até mesmo quando essa consciência permanece muda, perante os supremos problemas do destino humano e dos mistérios do mundo, procurando com magnanimidade uma resignação estoica ou angustiada. Há outras pessoas que, não querendo afastar-se completamente da religião cristã, aplicam à fé um critério seletivo. Contentam-se com uma fé elaborada segundo as exigências da própria mente…” (Paulo VI, 8-4-1970).
Para os cristãos, ter fé é crer em Deus e inseparavelmente n’Aquele que Ele enviou, isto é, é crer no Seu Filho Jesus Cristo que revelou o amor de Deus por cada pessoa, deu a Sua vida, a Sua graça, enviou o Seu Espírito para que também todos acreditem e se sintam fortes e firmes na fé para ir e anunciar o Seu Reino, um Reino de justiça e de liberdade, de amor e de paz. No entanto, quem acreditou e aderiu, livre e conscientemente, à proposta do Senhor, tem o desejo de conhecer cada vez mais Aquele em quem acreditou e de compreender melhor o que Ele revelou. Tarefa nem sempre fácil. Surgem dúvidas e curiosidades, fazemos perguntas e é bom que as façamos. As dúvidas e as perguntas fazem parte do crescimento, também da fé, ajudam a esclarecer, a ultrapassar dificuldades e preconceitos, a deixar cair tantas razões sem razão que julgam a fé impossível.