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Património no concelho de Mealhada - Observações. 5 - Ainda a destruição da Fábrica das Devezas


tags: Destruição, Devesas, Maria Alegria Marques Categorias: Opinião sexta, 03 maio 2019

Como é sabido, o clamor inicial sobre a destruição da Fábrica das Devezas (FD), em Pampilhosa, pela Câmara Municipal de Mealhada (CMM) deu lugar à realização de uma Assembleia extraordinária do Executivo camarário e foi matéria presente na sessão da Assembleia Municipal de 23 de Abril p.p.

Lemos a notícia da primeira no Diário de Coimbra e logo nos espantámos com a profunda justificação do Presidente da Câmara para o acto da (ir)responsabilidade do Executivo, a construção de “um parque de estacionamento de apoio à estação”!!!

Participámos na segunda reunião. Dirigimos algumas questões ao Presidente da Câmara. Prenderam-se com o Parecer do Prof. Doutor Avelãs Nunes, nosso Colega na Faculdade de Letras da U. Coimbra e responsável pelos estudos de Arqueologia Industrial. Conhecedora desse seu estudo de 2014, e de um outro, muito anterior -, que, diga-se, nenhum deles nunca pago ou pelo menos agradecido pela Câmara Municipal de Mealhada -, questionámos o Presidente acerca dos princípios orientadores nele então propugnados acerca do futuro da Fábrica das Devezas: o “estudo de enquadramento e de rastreio sobre a unidade industrial”, o entendimento da CMM acerca da pertinência da preservação, reabilitação, musealização e reutilização dos seus edifícios em causa; a realização de um “projecto de investigação de emergência sobre a empresa (…) acompanhado de um rastreio dos vestígios (…) sobreviventes”. Mais questionámos sobre os autores de tais estudos, se realizados, quais os seus resultados e o documento que regista o dito entendimento da CMM sobre as hipóteses colocadas acerca do futuro do edifício. Perguntámos, ainda, se nada foi feito, a respectiva razão. Por fim, questionámos o Presidente sobre os projectos concretos, credíveis e viáveis que há, na CMM, para o referido edifício pampilhosense.

Não obtivemos resposta a qualquer das questões formuladas. Ao contrário, ouvimos falar da necessidade dos terrenos onde estava implantada aquela unidade fabril para projectos passados e nunca concretizados: um, de requalificação da Estação Ferroviária de Pampilhosa, da década de 90 do século passado; uma promessa do Ministro Pedro Marques (o tal das promessas de obras até 2030…), recém-saído do Executivo para encabeçar a lista de candidatos do PS às eleições ao Parlamento Europeu, do próximo dia 26 de Maio; uma ou outra referência ao problema da segurança e exigências da empresa estatal Infraestruturas de Portugal (IP). Nada mais.

No profundíssimo grau de democraticidade (!) existente naquele órgão de governo autárquico, não pudemos mais questionar ou rebater o que foi dito.

Assim, voltamos ao assunto. Para perguntar, não, que não vale a pena. Não há ideias; não há respostas. Mas para em nome de uma comunidade, demonstrar que algo não vai bem naquilo que é dito e pretendem fazer crer:

  1. Se a questão da FD era um caso de terrenos para o projecto da década de 90, alguém se “enganou” ao comprá-la apenas em 2011. Será?!!
  2. Se a sua destruição se liga a questão de segurança tão grande, para fazer intervir a IP, por que se não vê nada de semelhante nos despojos da antiga Cerâmica Progresso?!
  3. Perante a notícia da compra da FV, ouviu-se que faria parte dos planos da Plataforma rodo-ferroviária. Por onde anda?!
  4. Que estudos “iluminados” indicam ao Presidente da Câmara a necessidade de um parque de estacionamento para a estação de Pampilhosa?! E mais quando, na localidade, até se procede à construção de um… Talvez os ingentes esforços de quem, na CMM, tem a seu cargo o estudo das estratégias para o desenvolvimento, já nem se diz, da freguesia, mas do Concelho. Ou necessidade de mostrar obra…

De um modo geral, a Pampilhosa não tem boas recordações dos Presidentes da CMM, pelo menos a partir da segunda década do regime republicano, alguns momentos após o 25 de Abril incluídos. E também não será agora que se lhe verá outra marca.